Segunda, 5 de setembro de 2016
No final de semana, após a reunião do sindicato com os médicos, um paciente de 56 anos, portador
de um tumor na parede torácica foi atingido por destroços de uma parte
do forro do teto que cedeu em função de uma infiltração.
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Do SindMédico
O diretor do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), José Adorno,
acredita que o aprimoramento do diálogo e dos protocolos de atendimento
vão mitigar os problemas e melhorar as condições de trabalho e de
assistência naquela unidade de saúde. Enquanto a gestão não consegue
implementar essa proposta, médicos e demais servidores e pacientes
amargam uma situação que beira o insuportável.
Na noite da sexta-feira (2), o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg
Fialho, recebeu médicos clínicos do HRAN, junto com gestores, para
discutir os problemas e buscar soluções. Estiveram presentes o
coordenador da Clínica Médica da Secretaria de Estado de Saúde (SES-DF),
André Albernaz Ferreira, a diretora de Urgência e Emergência da SES,
Julister Maia de Morais, a gerente de Apoio Diagnóstico e Assistência
Multidisciplinar do HRAN Moema Campos, além do próprio Adorno.
A rotina dos clínicos do hospital para começar o plantão começa com
concentração e exercício de respiração para buscar calma e paz interior
para suportar as horas de sobrecarga de trabalho e de agressividade de
pacientes descontentes. A primeira tarefa, segundo os relatos, é
localizar uma cadeira para poder se sentar no consultório. Por vezes, os
clínicos também têm que pedir à chefia da enfermagem para liberar a
sala para poderem trabalhar e dar vazão à fila.
Quando finalmente começa o plantão
Ao assumir o plantão começa a confusão. Em relato feito por uma
médica sobre um de seus plantões noturnos, havia 50 pacientes internados
nas alas do pronto-socorro sem evolução e prescrição. No box de
emergência, onde a capacidade é de seis pacientes, havia nove. Isso
obrigava a alternar a monitorização. Dos sete intubados, dois não
estavam sob efeito de sedação por falta de Midazolam. Não raro, eles
passam dias e dias, como se ali funcionasse uma UTI.
Desde a segunda quinzena de agosto o box de emergência está sem
telefone, o que impede o fluxo normal de ligação para a central de
regulação, para familiares, para a central de captação de órgãos.
Enquanto isso, apesar dos corredores tomadas por macas e cadeiras,
continua a demanda para atender quem aguarda na porta, apesar de não
haver pessoal suficiente para cuidar deles e dos internados. A equipe da
classificação de risco manda entrar e os pacientes cruzam os braços nas
portas dos consultórios, ameaçam, seguram, não deixam nem usar o
sanitário ou tomar água.
Os médicos perguntam: qual é a prioridade? Quem deve ser atendido e
quem deve deixar de ser? De quem é a reponsabilidade por quem não
consegue atendimento? A orientação básica é registrar tudo o que
acontece no livro de ocorrências do setor. O responsável técnico direto
deve ser acionado em casos acima da capacidade resolutiva do médico.
Ações mais assertivas são necessárias
Os recursos do Programa de Descentralização Progressiva de Ações de
Saúde (PDPAS) já estão sendo usados até o limite máximo para aquisição
de cada material e medicamento que falta. A falta de filme para exame de
Raio-X se deve a um descompasso entre a necessidade existente e a
instalação do sistema de digitalização. Falta tomografia e a endoscopia
não funciona porque falta glutaraldeído para desinfecção dos
equipamentos.
No final de semana após a reunião, um paciente de 56 anos, portador
de um tumor na parede torácica foi atingido por destroços de uma parte
do forro do teto que cedeu em função de uma infiltração.
Com certeza o bom fluxo da comunicação e protocolos bem estruturados
podem ajudar a melhorar a situação no HRAN. Mas enquanto a Secretaria de
Saúde não voltar a pagar as gratificações cortadas dos servidores
admitidos depois de 2014 e não contratar médicos e outros profissionais
em número suficiente, as filas dos pacientes, dos demissionários e dos
servidores adoecidos vão aumentar.