Sábado, 12 de maio de 2012
Da Revista Veja
Os primeiros testemunhos feitos à comissão que investiga a rede do contraventor fazem ruir o plano de mensaleiros de usar o escândalo para atacar os que contribuíram para revelar e levar à Justiça os responsáveis pelo maior esquema de corrupção do país
Daniel Pereira, Otavio Cabral e Laura Diniz
Fim da mentira: O delegado da PF Raul
Marques (à esq.) em sessão secreta na CPI
do Cachoeira: a relação entre o
redator-chefe
de VEJA e o contraventor era de jornalista e
sua fonte de
informações
Há vinte anos Pedro Collor deu uma entrevista a VEJA. As revelações
originaram um processo que, sete meses mais tarde, obrigou seu irmão,
Fernando Collor, a deixar a Presidência da República. Há sete anos, VEJA
flagrou um diretor dos Correios embolsando uma propina. O episódio foi o
ponto de partida para a descoberta do escândalo do mensalão, que
atingiu em cheio o governo passado e o PT. Agora, Collor e os
mensaleiros se unem contra a imprensa num mesmo front, a CPI do
Cachoeira. Criada com o nobre e necessário propósito de investigar os
tentáculos de uma organização criminosa comandada pelo contraventor
Carlos Cachoeira, ela seria usada, de acordo com o roteiro traçado pelo
ex-presidente Lula e pelo deputado cassado José Dirceu, como cortina de
fumaça para o julgamento do mensalão. O plano era lançar no descrédito
as instituições que contribuíram para revelar, investigar e levar à
Justiça os responsáveis pelo maior esquema de corrupção da história do
país. Tamanha era a confiança no sucesso da empreitada que o presidente
do partido, Rui Falcão, falou publicamente dela e de sua meta principal:
atacar os responsáveis pela "farsa do mensalão". Tudo ia bem - até que
os fatos se incumbiram de jogar o projeto petista por terra.
Na semana passada, dois delegados da Polícia Federal prestaram
depoimento à CPI do Cachoeira. Eles foram responsáveis pelas operações
Vegas e Monte Carlo, que investigaram a quadrilha do contraventor. A
ideia dos radicais petistas e seus aliados era utilizar a fala dos
policiais para comprometer o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel (que defenderá a condenação dos mensaleiros no julgamento do
mensalão pelo Supremo Tribunal Federal), o governador de Goiás, o tucano
Marconi Perillo (transformado em inimigo figadal de Lula desde que
declarou que o ex-presidente tinha conhecimento da existência do
esquema) e a imprensa, que revelou o escândalo. Nesse último setor, como
deixou clara a performance do ex-presidente Collor, encarnado na triste
figura de office boy do partido que ajudou a tirá-lo do poder, o alvo
imediato era o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal de VEJA
em Brasília e um dos redatores-chefes da revista. O primeiro depoimento
foi do delegado Raul Alexandre Marques, que dirigiu a Operação Vegas.
Marques disse aos parlamentares que entregou ao procurador Roberto
Gurgel, em setembro de 2009, indícios de envolvimento de três
parlamentares - incluindo o senador Demóstenes Torres - com a quadrilha
de Cachoeira. Gurgel, conforme o delegado, não teria determinado a
abertura do inquérito nem dado prosseguimento à apuração. Foi a deixa
para que petistas dissessem que ele tentou impedir o desmantelamento de
uma organização criminosa e, por isso, deveria ser convocado para depor
na CPI. O procurador-geral da República reagiu. Na seara técnica, disse
que não abriu inquérito a fim de permitir a realização da Operação Monte
Carlo, que desbaratou o esquema de Cachoeira no início deste ano. No
campo político, foi ainda mais incisivo. "O que nós temos são críticas
de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão",
afirmou. Ao fustigarem o procurador na CPI do Cachoeira e venderem a
tese de que ele não mereceria crédito por ter uma atuação política,
mensaleiros e aliados levaram procuradores e ministros do STF a sair em
sua defesa.
ATAQUE AOS ACUSADORES - Mensaleiros,
que têm no petista Vaccarezza o
seu porta-voz
na CPI, queriam convocar o procurador-geral
da República,
Roberto Gurgel. Ele defenderá
a condenação dos réus do processo do
mensalão