Domingo, 13 de maio de 2012
Por Marcello Barra*
A contradição elementar da sociedade é entre os interesses da classe
burguesa e da classe trabalhadora. Essa contradição determina a luta de
classes. Em Brasília, os trabalhadores vivem o grande problema da falta
de moradia e, ao mesmo tempo, setores mais avançados da cidade
protagonizam uma luta nacionalizada contra o novo código florestal, o
Veta TUDO, Dilma!
A ocupação cidadã de Novo Pinheirinho na Ceilândia se associa à luta
pelo Santuário dos Pajés no chamado Setor Noroeste porque, ao contrário
de um verdadeiro patrimônio da Humanidade, a cidade tem dono: o capital
financeiro, sob a forma das construtoras, centralmente dirigidas por PO,
o Paulo Otávio. O PO personifica uma tendência já observada há mais de
100 anos pelos materialistas dialéticos: o capital monopolista,
tendência essa que se agrava atualmente com o ataque do capitalismo a
direitos sociais, falindo os serviços públicos, cortando salários e
pensões na Grécia, privatizando a Previdência no Brasil e a
superexploração do Planeta.
Mesmo Arruda e o DEM derrubados em Brasília pela pressão e luta
popular, Agnelo e o PT continuaram com as construtoras e o negócio da
terra como base estrutural do governo. Em outras palavras, as mesmas
estruturas de Arruda/DEM foram mantidas por Agnelo/PT, e não destruídas,
como deveriam ser num governo da classe trabalhadora.
Com pompa o GDF de Agnelo/PT anuncia sua política pública de moradia
no programa Morar Bem, com a venda da bagatela de 500 moradias (!!),
quando a dívida habitacional em Brasília está na casa das centenas de
milhares! Confirmada até por dados oficiais (evidentemente abaixo do
real), que mostram 330.465 inscritos no Codhab. Portanto, exige-se do
governo Agnelo/PT o mínimo: o cumprimento da lei – e não é qualquer lei,
mas a maior de todas, a Constituição Federal, no artigo 6o.
Moradia não é favor, nem benefício para comprar voto - é direito! A
ocupação de Novo Pinheirinho deve ter um papel de mobilização da classe
trabalhadora para a conquista desse direito para os 330 mil brasilienses
inscritos do Codhab, os não-inscritos, além obviamente da população que
ocupa Novo Pinheirinho. Dito isso, a luta real é pela expropriação de
todas as áreas do DF que estejam em nome das grandes construtoras,
começando pelo PO, que deve ser o alvo principal da luta.
Como se combinam a questão ambiental e a terra? Com a grilagem da
terra, a destruição do cerrado e de matas pelo avanço da especulação
imobiliária com o apoio do Código Antiflorestal do PT e PCdoB combinados
com ruralistas e, consequente, ocupação de margens de rios, ocupação
desordenada do solo, desbaratamento e desintegração de comunidades
tradicionais, com aniquilamento de conhecimentos populares e
tradicionais.
Marx mostrou que o surgimento do capitalismo ocorre com o cercamento
das terras comunais, isto é, terras originalmente comuns a toda
comunidade. Isso leva à expulsão das populações do campo para as
periferias urbanas, com precariedade da vida nas cidades, degradação do
meio ambiente, e especulação do campo, que passa a ser mais uma
mercadoria. Como mercadoria, representa o valor de troca, portanto vale
pela exploração, e não pelo usufruto. O autor também prevê que o
capitalismo tentaria ocupar cada centímetro do planeta, o que equivale
ao processo atual chamado de globalização.
Brasília vive intensamente a contradição de classes, com impacto
sobre a moradia e o meio ambiente. Enquanto a classe alta invade as
margens do Lago Paranoá, não sofrendo punição, a classe proletária é
submetida a condições precárias dos Sol Nascente, Pôr do Sol, Varjões,
Vilas Rabelos e ainda são perseguidos e criminalizados quando lutam por
um direito! Ou não se pode lutar para não viver debaixo de pontes,
viadutos e nas ruas? É isso que faz o GDF de Agnelo/PT: criminaliza os
cidadãos que lutam por um direito!
São duas as tarefas imediatas para quem rejeita a vida do homem como
lobo do homem. Mobilizar e organizar os jovens e a classe trabalhadora.
Politizar o que foi naturalizado, elevando a consciência para dar o
salto de classe em si a classe para si, mostrando a necessidade do
partido como elemento central organizativo da política para a tomada do
poder, para dar o salto que supere as determinações causadoras de “toda
essa gente que só faz sofrer”, como cantou Renato Russo, poeta de
Brasília.
A luta consequente por meio ambiente e moradia é a luta organizada
contra a ordem do capital e o aparelho ideológico de Estado, com seus
poderosíssimos meios de comunicação, partidos da ordem, igrejas,
teóricos, universidades, ideologias.
*Marcello Barra é sociólogo — Texto publicado originalmente em O Miraculoso
*Marcello Barra é sociólogo — Texto publicado originalmente em O Miraculoso