Segunda, 14 de maio de 2012
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
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Por Ivan de Carvalho
Muito já se divulgou que
Lula prometeu ao seu ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que ao
deixar a presidência da República se dedicaria a desmontar o que seu partido, o
PT, insiste em chamar de “farsa do Mensalão”. Existiriam quatro razões
principais para uma promessa assim.
Uma delas, o fato de que na denúncia feita ao STF
em 2006 pelo então procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza,
Dirceu foi qualificado de chefe da “sofisticada organização criminosa” que produzira
o Mensalão. E é um dos 38 réus no processo aberto pelo Supremo Tribunal
Federal.
A segunda razão, mais importante, é que, mesmo
não sendo réu e havendo dito – apesar das advertências prévias de Marconi
Perillo e, depois, de Roberto Jefferson – que não sabia do que estava
acontecendo no entorno do seu gabinete presidencial e nas mais altas instâncias
do PT e de vários dos mais importantes partidos aliados ao seu governo, o
Mensalão é uma enorme e horrível mancha no governo Lula.
O Mensalão é, até aqui, o maior de todos os
escândalos de corrupção do país e um atentado gravíssimo ao próprio exercício
do regime democrático, pois consistia preferencialmente na compra continuada de
votos e apoio de parlamentares e bancadas partidárias na Câmara dos Deputados,
de modo a que o governo alcançasse ali seus objetivos. Mais antidemocrático do
que isso, só com tanques nas ruas, metralhadoras nas esquinas, imprensa sob “controle
social” e a oposição na cadeia.
A terceira razão é que o julgamento do Mensalão
pelo STF, com as eventuais condenações que ocorrerem segundo a prova dos autos,
deverá produzir – se já não for a sociedade brasileira moralmente invertebrada
– um efeito político eleitoral que já poderá se manifestar este ano, caso o
julgamento ocorra antes das eleições municipais, mas também em 2014, nas
eleições gerais (para presidente da República, governadores, deputados federais
e estaduais e um terço do Senado).
Finalmente, a quarta das principais razões para
tentar desmontar a “farsa do Mensalão” – um esforço claramente perceptível na “internet
chapa branca” – é, obviamente, evitar a condenação dos réus. Seja por
prescrição dos crimes de penas menores pelos quais são acusados, a exemplo da
formação de quadrilha, seja por uma ampla manobra política que desvie a atenção
da sociedade para outros assuntos, tornando possível, assim, reduzir o impacto
político de condenações, bem como – na ideia estratégica de seus autores –
criar um ambiente que permita tentativas, que se espera sejam completamente
repelidas e frustradas, se perpetradas – de influir no entendimento de
ministros do STF por caminhos que não sejam os dos autos.
O ex-procurador geral Antonio Fernando de Souza –
autor da denúncia que o atual procurador geral, Fernando Gurgel, vai sustentar
– deu à Veja (o mesmo veículo que
deflagrou, com uma reportagem, o escândalo do Mensalão, como deflagrara anos
antes, com uma entrevista de Pedro Collor, o escândalo que levou à renúncia do
presidente Fernando Collor) uma entrevista.
A uma pergunta sobre o esforço do PT para
difundir que o Mensalão não passa de uma farsa, disse o ex-procurador geral na
entrevista que está desde ontem no site da revista: “Chamar esse episódio de
farsa é acusar o procurador geral e os ministros do Supremo de farsantes. Dizer
que aqueles fatos não existiram é brigar com a realidade, é querer apagar a
história. Esse discurso não produzirá nenhum efeito no STF. Os ministros vão
julgar o processo com base nos autos. E há inúmeras provas de tudo o que foi
afirmado na denúncia. Depoimentos, extratos bancários, pessoas que foram
retirar dinheiro e deixaram sua assinatura.”
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta
segunda-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.