Sábado, 2 de junho de 2012
Jorge Brennand
Considerando os fatos, como acreditar no Lula? Como acreditar no
Nelson Jobim? Como não acreditar no que diz Gilmar Mendes? Acreditar no
Lula ou no Jobim ultrapassaria o limite da ingenuidade, seria burrice.
Como diria Nelson Rodrigues, “monumental burrice”.
É de conhecimento público que durante bastante tempo Lula forçou a
tese de que o mensalão tinha sido apenas “caixa dois”, o que, do alto de
sua suprema sapiência e no seu onipotente entendimento, seria um leve,
ameno e corriqueiro fato na imunda política brasileira, que, segundo
lição de correligionário seu, não podia ser feita “sem se meter a mão na
merda”.
Com o passar do tempo, Lula deixando de lado a tese do caixa dois e
se entregando de corpo e alma à pregação pastoral de que na verdade o
mensalão não era “caixa dois” e havia sido uma grande farsa montada
contra ele por setores da oposição e da imprensa.
Ou seja, o imaculado Waldomiro Diniz – subchefe de Assuntos
Parlamentares da Presidência da República, homem de confiança de José
Dirceu e de Lula – teria ficado vários anos prestando “assistência” aos
tapetes, quadros e vasos sanitários do Congresso Nacional. Jamais aos
parlamentares.
Na realidade, era fato notório em Brasília/DF que Waldomiro Diniz era
autorizado pelo Planalto para negociar as emendas parlamentares com
vistas a resolver problemas de congressistas nas votações de interesse
do governo. Era o artífice-precursor do mensalão.
Também é fato notório que, desde que passou o governo para Dilma – a
herdeira dessa colossal herança bandida – Lula não mede esforços para
tentar apagar da História o episódio “mensalão”, esquema de compra de
apoio parlamentar instituído pelos petistas para obter a simpatia e
votos de parlamentares e suprir com dinheiro sujo, à saciedade, as
campanhas políticas do PT e de aliados. E doentiamente se dedicou a essa
impossível faxina de reescrever a história.
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INSANA MISSÃO
Pessoalmente partiu para essa insana missão, tentando prorrogar para o
próximo milênio o julgamento do processo do mensalão, aberto há sete
anos contra a cúpula do PT e demais cúmplices na “organização criminosa”
expressa na denúncia do Ministério Público, alguns deles, por ironia do
destino, destinatários das cópias da carta enviada por Paulo de Tarso
para Lula em 1995, denunciando a corrupção que já tinha tomado conta do
PT naquela época.
Lula partiu – no peito e na marra, mas sem nenhum juízo – para tocar o
desfecho do processo, pelo menos, para depois da aposentadoria de dois
ministros, o atual presidente Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso, que
estariam propensos a votar pela condenação dos réus mais conhecidos pelo
distinto público pagador de impostos.
Mas não parou por aí; foi muito além, parecendo um jegue teimoso.
Agrediu o relator Joaquim Barbosa, chamando-o de “complexado”; comunicou
que daria ao ex-ministro Sepúlveda Pertence a missão de “cuidar” da
ministra Carmem Lúcia para que ela ajudasse no adiamento do julgamento
do processo; e informou que ordenou ao ministro José Dias Toffoli que
não se declarasse impedido por ter sido assessor jurídico da Casa Civil,
sob a chefia de José Dirceu.
Finalmente, antes do pano cair, teria chantageado o ministro Gilmar
Mendes, com quem conversava, ao oferecer-lhe proteção na CPI do
Cachoeira, a qual julga controlar. Essa blindagem seria contra alguma
tentativa de convocá-lo a explicar as suas relações com o senador
Demóstenes Torres, parceiro do contraventor Carlinhos Cachoeira.
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FRASE DE DIRCEU
Não devemos esquecer que durante os oito anos que foi presidente da
República, Lula indicou seis dos atuais onze ministros do STF que
julgarão os 36 réus do mensalão — entre eles o ex-deputado José Dirceu,
que não pode se sentir abandonado por Lula, pois, no auge do escândalo
do mensalão, mandou importante recado para seu ex-chefe ao proferir a
seguinte e textual frase: “Não faço nada que não seja de comum acordo e
determinado por ele.”
Os últimos acontecimentos indicam claramente que não é apenas José
Dirceu que está “desesperado”. Lula parece mais desesperado do que ele.
Afinal, era o chefe de José Dirceu, que, por sua vez, está indiciado
como “chefe da organização criminosa” pela Procuradoria-Geral da
República.
Daí a desmedida e irracional investida de Lula sobre Gilmar Mendes,
comportando-se como um plenipotenciário Napoleão de hospício. E o Nelson
Jobim ainda vem dizer que o encontro foi “casual”, como se os três
tivessem se reunido para jogar porrinha, ou “palitinhos”, como chamam os
paulistas…
Fonte: Tribuna da Internet