Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Uma antiga profecia

Terça, 5 de junho de 2012
Por Ivan de Carvalho   
O ex-presidente Lula vivia criticando os veículos de comunicação e até hoje não mudou de hábito
 
Ele não queria, por exemplo, o Escândalo do Mensalão, mas quando a mídia – baseada na denúncia do aliado dele Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB e incluído no rol dos 38 réus no processo que tramita no STF, Roberto Jefferson – denunciou o Mensalão, que logo se revelou o maior escândalo de corrupção da história do país, Lula passou a considerar a mídia grande co-responsável, por sua desdita.

Depois de deixar de ser Mensalão para ser – por sugestão do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Caixa Dois de Campanha (o que, diga-se de passagem, pelas características da coisa, não fazia e continua não fazendo o menor sentido) – o Mensalão ganhou a honrosa qualificação de farsa. A “farsa do Mensalão”, perpetrada como um golpe contra o governo de Lula pela oposição e a mídia, farsa que se dedicaria a desmontar após sua saída do governo.

Mas o tema deste espaço, hoje, não é o Mensalão, muito menos a oposição, mas a nova faceta do plano de ataque contra a liberdade de expressão No caso, as emissoras de televisão e rádio.

É até uma surpresa, pois apesar do comando nacional do PT persistir no seu intento de implantar um “controle social da mídia”, às vezes agora chamado pela designação mais dissimulada de “democratização da mídia”, a presidente Dilma Rousseff fizera algumas declarações muito firmes sobre a intocabilidade da liberdade de expressão.

Mas a denúncia feita no domingo pelo jornal Folha de S. Paulo, que deu conta de uma minuta de decreto segundo a qual se preparava “novo marco regulatório da radiodifusão”, nome de batismo que logo recebeu, afinado com a linguagem da moda. Regula a utilização das concessões de televisão e rádio. A tal minuta, entre outras coisas, tem um jabuti mal escondido no meio da copa da árvore. E, certamente, a árvore só está lá porque precisavam por nela o jabuti. O essencial é ele, não ela.

Qual o cerne da minuta? Simples. Proibição de que emissoras de rádio e TV aluguem canais ou horários a entidades ou empresas. Hoje existem as duas coisas. Mas qual o principal alvo? Elementar, diria Sherlock Holmes ao seu caro Dr. Watson. Igrejas cristãs. Elas já tem hoje horários alugados. A Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus – sem falar na Assembléia de Deus, braço Vitória em Cristo, que alugava e poderia voltar a alugar horário na Rede Bandeirantes – seriam as mais prejudicadas, por enquanto.

Na Câmara dos Deputados, a bancada evangélica reagiu vigorosamente ontem. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que não vai comentar sobre a origem da minuta, mas não surgiu ela na sua gestão. É pouco esclarecimento para assunto tão vital, a liberdade de expressão, incluindo a liberdade religiosa. Especialmente porque o Conselho Curador da EBC vai analisar em 7 de dezembro a retirada do ar, pela TV Brasil e pelas oito emissoras de rádio da rede pública criada pelo então presidente Lula, dos dois programas católicos e um evangélico que transmite. E outros não serão admitidos. Há decisão informal praticamente tomada de fazer isso.

Estará chegando o tempo, anunciado há quase dois milênios, da perseguição dos cristãos? O leitor que observe e vá tirando sua conclusão.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.