Domingo, 7 de julho de 2013
Do clicabrasília.com.br Vítimas do descaso clamam por dignidade
Daniel Cardoso e Soraya Sobreira
redacao@jornaldebrasilia.com.br

A vendedora Jéssica Alves, mãe da pequena Mariana, de 2 meses, pode se sentir bastante afetada pela falta de profissionais
na unidade. Na época do parto, houve uma demora de oito dias, por conta
da estrutura deficiente e carência de médicos, que fez com que a
criança desenvolvesse uma pneumonia. Agora, Jéssica precisa de
acompanhamento, mas ainda não foi resolvido o deficit de médicos.
“Precisei entrar com processo na Justiça para conseguir ter minha filha.
Depois de dois dias consegui fazer o parto. Aí, quando entrei, vi que
lá dentro estava superlotado, tinha muita transferência para outros
hospitais, os médicos estavam sobrecarregados, com tanto serviço, mas
não têm culpa de nada”, relembrou, indignada.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br
redacao@jornaldebrasilia.com.br
O
Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) é uma das unidades mais novas
da capital, mas isso não significa que esteja em perfeitas condições. O cenário,
na verdade, é semelhante aos hospitais mais antigos, com problemas de
falta de profissionais e superlotação. Pacientes reclamam do atendimento
pediátrico. Durante toda a semana, o Jornal de Brasília
tem mostrado as deficiências dos principais hospitais do DF, um ano
após a vistoria do Ministério Público e do Conselho Regional de
Medicina.
Os 387 leitos de internação estavam lotados quando a vistoria foi
feita, em 19 de abril de 2012. Havia 46 pacientes nos corredores, devido
à falta de vagas. O fluxo de cirurgias eletivas, aquelas que não são de
urgência, estava prejudicado por conta da falta de anestesistas.
A ausência de cardiologistas no pronto-socorro também é um dos
problemas enfrentados pelo HRSM, onde os clínicos precisam atuar.
Existe, ainda, a carência de equipamentos e de médicos de outras
especialidades como neurocirurgia, neurologia, urologia, cirurgia
vascular e cirurgia pediátrica. Quem ia ao hospital aos fins de semana
não podia contar com radiologistas e o tomógrafo mal funcionava.
Cirurgia
O marceneiro Verismar Batista dos Santos, 33 anos, está há 15 dias em
cima de uma maca, no corredor do HRSM. O braço dele está quebrado em
duas partes e mesmo assim ele permanece jogado por lá, à espera por uma
vaga na cirurgia. O sofrimento parece estar longe do fim, porque a
direção do hospital teria avisado que há 60 pessoas que o antecedem na
fila de espera.
Sentindo muitas dores, o marceneiro chora. O amigo de
profissão há mais de 20 anos, Wanderlei Alves Ferreira, 42 anos,
comovido com o drama do colega, começou a fazer uma “vaquinha” para
retirar Verismar de dentro da unidade de saúde e levá-lo para uma rede
particular. “Não estamos suportando mais vê-lo neste sofrimento. Vários
amigos estão sensibilizados também, por isso, nos juntamos para fazer de
tudo para dar dignidade a ele neste tratamento”, comenta. Até o
momento, o grupo de amigos conseguiu juntar cerca de R$ 4 mil, mas eles necessitam de R$ 9 mil.
Verismar está sendo medicado com dipirona e um
anti-inflamatório uma vez ao dia. “Ele se queixa de muita dor,
principalmente quando sente os ossos, que estão quebrados, baterem um
no outro”, relata o amigo. A situação fica ainda mais difícil com a
falta da família.
A esposa está grávida e não pode ficar acompanhando o marido em tempo
integral. O drama do marceneiro começou no trabalho, quando ele foi
carregar um pedaço de madeira. A tora escorregou e caiu sobre o braço
de Verismar.
Espera por atendimento é longa
“Dessa vez, tem mais de uma semana que venho aqui e nunca atendem.
Cheguei há mais de duas horas e nada, nem triagem fizeram. Fico gastando
combustível para vir aqui e não consigo resolver. É revoltante”, disse
Jéssica.
Grávida de sete meses, a operadora de caixa Márcia de Jesus Moura
está com sinusite e alergia, mas não quis tomar qualquer remédio sem o
aval de um médico, para que o bebê não fosse prejudicado. Em três horas
de espera, ela não conseguiu ser atendida. “Até mesmo o pré-natal que
estou fazendo no posto de saúde não é acompanhado por médicos, só duas
vezes, em toda a gravidez, me consultei com médicos. Enfermeiros fazem
papel de médicos lá”, contou.
“Essa falta de profissionais vem de muito tempo, mas o pessoal só
lembra por causa dos gastos com a Copa do Mundo. Eu mesmo fico indignada
de ver aquele estádio daquele tamanho. A gente trabalha para ganhar um
salário mínimo, pagar impostos e não ter saúde de qualidade”, disparou.
O pai do eletricista Cleisson Luís de Almeida estava tremendo e
desorientado quando ele decidiu trazê-lo ao HRSM. No entanto, já havia
duas horas desde a chegada e Cleisson não viu ninguém ser chamado.
“Vieram avisar que não tem médico. Não fizeram nem triagem. Toda vez é
assim, parece que só atendem ortopedia”, reclamou.
Uma dor no peito tem incomodado o cozinheiro Francisco de Assis,
morador do Novo Gama. Em mais de uma vez no hospital, nada foi
resolvido. “Nunca tem médico aqui. É complicado, a gente morre à míngua
esperando atendimento. Isso deve ser culpa dos políticos, porque, se
botassem pessoas para trabalhar e pagassem bem, não faltariam médicos”,
desabafou.
Mais informações na edição impressa de hoje do Jornal de Brasília.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br