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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 16 de julho de 2013

Mais mortes em UTI neonatal. Onde está o jaleco de Agnelo?

Terça, 16 de julho de 2013
Por José Seabra Foto: Arquivo Notibras
Foto: Arquivo Notibras

Chega de incompetência. Ou Agnelo Queiroz destitui Rafael Barbosa do cargo de secretário da Saúde, ou renuncia, entregando o comando ao vice Tadeu Filippelli. Com um ou outro desses gestos, ele poderá cumprir uma das inúmeras promessas de campanha, como a de que seria um misto de governador-secretário, para acabar com o caos na saúde pública da capital da República.

Agnelo está devendo ao menos isso à sociedade, de uma maneira geral, e em particular a pais desesperados que choram a morte de seus filhos, mais uma vez vítimas do descaso que faz proliferar bactérias nos hospitais administrados por Rafael Barbosa.


- Uma bactéria chamada Klebsiella.

Foi assim, lacônico, que Rafael Barbosa anunciou mais duas mortes de bebês ocorridas na UTI Neonatal do Hospital Regional de Ceilândia. O secretário, talvez por se tratar de um homem leigo, embora se diga médico, esqueceu de esclarecer que a Klebsiella é uma bactéria restrita a ambiente hospitalar e que prolifera quando a equipe de saúde não lava as mãos antes e depois de manipular um paciente, e não coloca em prática simples precauções, como contato nos pacientes com infecção ou colonização por bactérias multirresistentes. 

O secretário também não disse o básico – que pode ser lido em qualquer cartilha de medicina – que essa bactéria pode causar infecção hospitalar que costuma acometer pacientes imunodeprimidos, especialmente os que se  encontram nas unidades de terapia intensiva.
Talvez por ser – como dizem – um  analfabeto médico, Rafael Barbosa desconheça que os pacientes de UTI também apresentam várias portas de entrada para infecções, como sonda vesical de demora, cateter venoso central, tubo orotraqueal, cânula de traqueostomia - equipamentos que não se encontram na falida rede pública de saúde de Brasília.
Outro causador – mas este até os leigos e analfabetos médicos sabem – são as feridas de decúbito, facilitando muito a infecção por bactérias dessa categoria.

Rafael também deixou de dizer que as formas de transmissão são basicamente pelo contato com secreções ou excreção de pacientes infectados ou colonizados pela bactéria Klebsiella. E, pior, quando as mãos da equipe médica são mal lavadas tanto quanto seus instrumentos de trabalho, como o estetoscópio.

Nesta segunda-feira 15, Rafael Barbosa disse apenas – como divulgou a Secretaria de Imprensa do Palácio do Buriti – que as mortes de mais dois bebês no Hospital de Ceilândia, registradas no dia anterior, são investigadas pela Secretaria de Saúde. Ele descartou um novo surto da bactéria Serratia, que matou vários bebês em abril último.

O secretário sustentou que “a situação desta vez é bem diferente da registrada em abril. Os dois bebês (numa referência aos que morreram no domingo) eram prematuros, e um deles morreu por causa de uma bactéria chamada Klebsiella. O outro não mostrou crescimento da Serratia, mas ainda estamos investigando", enfatizou o secretário, textualmente.

Como quem deseja culpar o destino pelas mortes, Rafael, inexplicavelmente, justificou os óbitos em função de serem bebês “prematuros, com baixo peso e imunidade, e que o controle de surtos nas unidades de saúde é feito semanalmente, e, quando necessário, a própria pasta torna público o fato”. O secretário acrescentou ainda que o governo está “em alerta constante, e todos os procedimentos foram revistos depois das mortes de abril. Contratamos mais técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos, e todos os pontos vulneráveis foram corrigidos".

Rafael, claro, contou isso para as paredes. Se fosse verdade tudo o que garantiu estar realizando, os dois bebês não teriam morrido. Quanto a Agnelo, alguém precisa dizer a ele que esse negócio de que em terra de cego quem tem um olho é rei, é história da carochinha.
Fonte: Notibrás