Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Na abertura do seu clássico Conversa na Catedral, Mario Vargas Llosa perguntou em que momento o Peru tinha se f... No caso do PT, eu apontaria três momentos:
- quando a votação pífia que obteve na eleição de 1982 levou os dirigentes a decidirem evitar dali em diante a identificação com a resistência à ditadura. Naquele pleito, a propaganda eleitoral gratuita, obedecendo à Lei Falcão, restringia-se à leitura de dados e exibição de fotos dos candidatos. Muitos do PT, orgulhosamente, citaram o tempo de cárcere cumprido como presos políticos. A direita retrucou com desqualificações do tipo "eles não têm currículos, têm fichas criminais". E, ao invés de defenderem o direito que os seres humanos dignos deste nome tinham de combater a tirania, os petistas passaram a não tocar mais no assunto em campanhas eleitorais. Foi quando negaram a revolução pela primeira vez.
- quando, respondendo às acusações públicas de um militante exemplar contra o safado que pilotava o primeiro grande esquema de desvio de recursos dos cofres públicos para o partido, expulsou o acusador, emitindo sinal verde para a corrupção (vide aqui). Foi quando, optando pela moral deles e sepultando a nossa, o PT negou a revolução pela terceira vez.
O resto foi consequência: ao colocar a conquista do poder sob o
capitalismo como objetivo supremo, evidentemente acima da revolução,
preparou o caminho para o pacto sórdido firmado com os donos do Brasil em 2002: se
vocês não interferirem, deixando-nos ganhar a eleição e assumir o
poder, abdicaremos de fixar nós mesmos as diretrizes macroeconômicas,
acatando fielmente as determinações do grande capital e contemplando
sempre seus interesses. Lula assumiu com autonomia apenas sobre os ministérios das miudezas, pois quem dava as cartas nos ministérios econômicos era a burguesia.
No início o esquema funcionou a contento por se tratar de um período altamente favorável às commodities brasileiras, tanto que sob Lula o PIB cresceu 4% ao ano. Era o suficiente para saciar o pantagruélico apetite dos grandes capitalistas, sobrar um tantinho a mais do que antes para colocar na mesa dos pobres (insuficiente, contudo, para caracterizar a emergência de uma nova classe média, mera propaganda enganosa...) e ainda queimar rios de dinheiro em barganhas com os partidos fisiológicos, comprando seu apoio mediante o loteamento de Pastas e cargos, além, é claro, do por fora de mensalões e petrolões.
No início o esquema funcionou a contento por se tratar de um período altamente favorável às commodities brasileiras, tanto que sob Lula o PIB cresceu 4% ao ano. Era o suficiente para saciar o pantagruélico apetite dos grandes capitalistas, sobrar um tantinho a mais do que antes para colocar na mesa dos pobres (insuficiente, contudo, para caracterizar a emergência de uma nova classe média, mera propaganda enganosa...) e ainda queimar rios de dinheiro em barganhas com os partidos fisiológicos, comprando seu apoio mediante o loteamento de Pastas e cargos, além, é claro, do por fora de mensalões e petrolões.
A maré virou no primeiro governo de Dilma Rousseff, quando a evolução do
PIB caiu para a metade (2,1%). Então, tornou-se impossível contentar,
ao mesmo tempo, o grande capital, os trabalhadores e os sanguessugas da
política. As receitas se tornaram insuficientes para bancar os
privilégios da burguesia e a gastança do Estado.
O poder econômico passou a exigir um arrocho fiscal e uma recessão purgativa, que faria os outros dois contingentes perderem espaços conquistados, enquanto os burgueses manteriam sua prosperidade escandalosa.
Eu alertei que um partido dito dos trabalhadores implementar uma política econômica tão desfavorável aos trabalhadores o destruiria. Era o momento de o PT, ou renegar o pacto mefistofélico firmado em 2002 e propor uma alternativa à ortodoxia capitalista, ou deixar em outras mãos o acatamento das exigências do grande capital (bastaria, p. ex., não ter desconstruído a candidatura de Marina Silva com a campanha de satanização mais falaciosa da política brasileira em todos os tempos).
Nem uma coisa, nem outra. Dilma se reelegeu na bacia das almas e, de imediato, pôs-se a satisfazer aos verdadeiramente poderosos, entregando a condução da economia ao neoliberal convicto e assumido Joaquim Levy (ademais, um economista de segunda categoria, sem currículo à altura do posto).
O poder econômico passou a exigir um arrocho fiscal e uma recessão purgativa, que faria os outros dois contingentes perderem espaços conquistados, enquanto os burgueses manteriam sua prosperidade escandalosa.
Eu alertei que um partido dito dos trabalhadores implementar uma política econômica tão desfavorável aos trabalhadores o destruiria. Era o momento de o PT, ou renegar o pacto mefistofélico firmado em 2002 e propor uma alternativa à ortodoxia capitalista, ou deixar em outras mãos o acatamento das exigências do grande capital (bastaria, p. ex., não ter desconstruído a candidatura de Marina Silva com a campanha de satanização mais falaciosa da política brasileira em todos os tempos).
Nem uma coisa, nem outra. Dilma se reelegeu na bacia das almas e, de imediato, pôs-se a satisfazer aos verdadeiramente poderosos, entregando a condução da economia ao neoliberal convicto e assumido Joaquim Levy (ademais, um economista de segunda categoria, sem currículo à altura do posto).
Dilma está desmoralizada demais para qualquer acordo entre o capital, o trabalho e a ociosidade ser firmado em seu governo. O governo cairá antes, pois o que se empenham em derrubá-lo não têm motivo nenhum para recuarem agora, que estão com a faca e o queijo nas mãos. É simples assim.
Então, as opções que lhe restam hoje não passam de duas:
- a renúncia antes de ser impedida, para não conceder triunfo tão apoteótico aos inimigos; ou
- uma guinada corajosa à esquerda, decidindo que o aumento da arrecadação deve ser em detrimento dos que têm demais e sempre foram privilegiados e não dos trabalhadores sempre tosquiados, além de extinguir o sem-número de Pastas e cargos que só servem como moeda de barganha política e cabides de emprego.
Sem ilusões, é tarde demais para Dilma salvar seu mandato. Mas pode, ainda, salvar a reputação.
Se tiver a burguesia (até o Trabuco...) coesa contra si e os
parlamentares contrariados sequiosos de retaliarem com o impeachment, a
queda virá a toque de caixa. E daí? Por acaso é preferível à atual
agonia lenta, com o mesmíssimo desfecho no final da linha?
Mas, pelo menos Dilma seria lembrada como uma guerreira derrubada pelas elites e não como uma guerrilheira que virou suco (por ter passado a defender os interesses burgueses e mesmo assim recebido da burguesia um solene pé na bunda).
Mas, pelo menos Dilma seria lembrada como uma guerreira derrubada pelas elites e não como uma guerrilheira que virou suco (por ter passado a defender os interesses burgueses e mesmo assim recebido da burguesia um solene pé na bunda).