Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
A Folha de S. Paulo intimou, Dilma obedeceu.
"Medidas extremas precisam ser tomadas... É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica" --esbravejou Otávio Frias Filho, o boneco de ventríloquo por meio do qual os banqueiros apresentaram seu ultimato.
Dilma repassou a ordem para os atônitos Barbosa e Levy, o Gordo e o Magro da chanchada nacional.
Com o cansaço estampado nos rostos e barbas por fazer, ambos vieram apresentar o novo saco de maldades (que dificilmente o Congresso aprovará, começando pela volta da impopularíssima CPMF, uma lâmina de guilhotina pairando sobre a reeleição do parlamentar que cair na besteira de fazer a vontade da Dilma... quer dizer, do Trabuco do Bradesco).
Com ela se arrancarão R$ 66,2 bilhões da sociedade para acertar a contabilidade dos bancos, enquanto a recessão se agrava, as indústrias quebram, as lojas fecham e os empregos evaporam.
Lênin já cantara a bola em 1900 (Imperialismo, etapa superior do capitalismo): quem dá as cartas na dita etapa é o setor parasitário e inútil da economia, a agiotagem institucionalizada. A indústria e a agricultura (que produzem bens) e o comércio (que distribui os bens) se tornaram sócios menores, sem poder de fogo para confrontarem o Trabuco. Só lhes resta exercer o jus sperniandi, conforme lemos na coluna do Vinícius Torre Freire:
"Pelo menos parte da indústria vai fazer campanha feroz contra (Fiesp). A CNI preferiu não dizer nada além de que é 'contra aumentos da carga tributária' e quer 'reformas estruturais'. A Firjan foi dura. As associações do comércio de São Paulo criticaram em tom de enorme desalento".
Eis mais maldades do saco:
- confisco até agosto de 2016 dos reajustes de salário dos servidores federais, lesando-os em R$ 7 bilhões (sempre desprezei menos aqueles que assaltam com armas na mão, correndo muitos riscos, do que aqueles que assaltam com a caneta na mão, não correndo risco nenhum);
- expropriação (é um termo mais correto do que o utilizado, apropriação) de 30% das contribuições para o Sesc, Sesi, Senai, etc, totalizando R$ 6 bilhões;
- o Minha Casa, Minha Vida terá de trocar de nome, pois, com o corte de R$ 4,8 bilhões, será melhor intitulá-lo Meu Barraco, Minha Vida;
- o corte de R$ 3,8 bilhões em gastos com Saúde é simplesmente estarrecedor, inconcebível, inaceitável, ainda mais num país cujos sucessivos governos sucatearam a Previdência Social, afugentando o povo para a medicina privada (embora tivessem o compromisso de proporcionar aos trabalhadores, como contrapartida das contribuições previdenciárias, não apenas a aposentadoria, mas também atendimento médico com um mínimo de qualidade).
- a criação (se saísse do papel) de um imposto sobre “ganho de capital progressivo”, que seria cobrado quando dos aumentos de receita das pessoas físicas. Mas, com impacto estimado em apenas R$ 1,8 bilhão e um certo viés de desestimular empreendedores. Há muitíssimo mais grana para ser colhida e motivos muitíssimos melhores para colhê-la no nicho das heranças e grandes fortunas, como fazem as principais nações capitalistas e como o Brasil deveria estar fazendo desde 1988 (o dispositivo constitucional neste sentido não foi regulamentado até hoje!!!);
- cancelamento de 80% do valor das emendas parlamentares, evitando que R$ 7,6 bilhões sejam desperdiçados para ajudar a reeleger os detentores de mandatos. Se conseguissem colocar o guizo no pescoço do gato seria ótimo, mas nem mesmo os autores da proposta devem acreditar que o felino consentirá;
- redução de R$ 2 bilhões em despesas discricionárias com DAS (cargos comissionados) e gastos administrativos;
- economia de R$ 200 milhões com extinção de ministérios e cargos de confiança. Só?! Num país que tem 39 ministérios e só precisa de um terço disto, daria para enfiarem a faca bem mais fundo. De quebra, seriam evitadas miríades de maracutaias tramadas e executadas a partir dessas Pastas.
Resumo da opereta: nem sei por que perco tempo analisando o que não acontecerá. Governo fraco, com a popularidade no fundo do poço, não consegue arrochar a sociedade. Os bancos podem muito, mas não podem tudo. E o fracasso anunciado desse pacote torto e natimorto debilitará ainda mais a posição da Dilma.
Quem mandou ela escutar o estrondo do Trabuco? Deste jeito, perderá a audição junto com o cargo. Padrinho por padrinho, teria sido melhor a Dilma continuar com o Lula, afinal foi ele quem a colocou lá.