Terça, 22 de dezembro de 2015
Da
Tribuna da Imprensa
Por Helena Sthephanowitz — Via RBA
Na
quinta-feira (17), a cidade do Rio de Janeiro ganhou o Museu do Amanhã,
construído na zona portuária onde havia um pier abandonado. O museu faz parte
da operação urbana Porto Maravilha, de revitalização e desenvolvimento da
região, realizada em parceria público-privada.
A
prefeitura conduz o processo, as empreiteiras Carioca Engenharia e OAS
constroem, parte dos recursos é de financiamentos do FGTS-FI, o fundo de
investimento que faz aplicações dos recursos do Fundo de Garantia e, no caso do
Museu, quem toma posse da operação depois de pronto é a Fundação Roberto
Marinho, ONG ligada aos donos da TV Globo. A Fundação é duplamente beneficiada:
ganha prestígio com mais um museu de grande porte em seu portfólio, e cobra da
prefeitura o preço para manter o museu funcionando.
Até
aí quase tudo bem, exceto o quase monopólio da Fundação Roberto Marinho na
gestão de museus municipais do Rio. Além do Museu do Amanhã, a Fundação também
ganhou da prefeitura a gestão do Museu de Arte do Rio, inaugurado em 2013, e o
novo Museu da Imagem e do Som, em final de construção.
O
maior problema é quando ficamos sabendo que o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entrou nesse meio, mesmo fora de sua área
de competência.
No
âmbito da Operação Lava Jato, a Procuradoria-Geral da República afirma ter
provas de que Cunha recebeu outros R$ 52 milhões em propinas na Suíça e em
Israel da empreiteira Carioca Engenharia para liberar financiamento do FGTS-FI
para as obras do Porto Maravilha. Dois donos da empresa, Ricardo Pernambuco e
Ricardo Pernambuco Júnior, delataram que o próprio Cunha acertou e cobrou a
propina sem intermediários, para depositar no exterior nas contas indicadas
pelo deputado.
Segundo
a Procuradoria da República, o elo de Cunha com o FGTS-FI era Fábio Cleto,
indicado por ele para o cargo de vice-presidência de Fundos de Governo e
Loterias da Caixa Econômica Federal (CEF). Cleto era o representante da Caixa
no Conselho Curador do FGTS, posição-chave tanto para dificultar como para
facilitar a aprovação do financiamento de R$ 3,5 bilhões para o Porto
Maravilha.
Cleto
foi demitido pela presidenta Dilma Rousseff na semana passada. Nesta semana sua
residência sofreu busca e apreensão por policiais federais, dentro da operação
Catilinárias, cujo foco maior foi Eduardo Cunha e outras lideranças do PMDB.
A
Fundação Roberto Marinho não é acusada pela Procuradoria-Geral da República de
participação nos malfeitos, mas os fatos incontestes são de que ela se torna
uma espécie de herdeira na exploração dos museus construídos com possível
corrupção de Eduardo Cunha.
O
que chama atenção no caso da ONG da família Marinho são os vultosos pagamentos
recebidos dos cofres públicos da prefeitura. Segundo o Portal da Transparência
da prefeitura do Rio, R$ 56.003.994 já foram pagos à Fundação Roberto Marinho
pelo "Programa Porto Maravilha" desde 2010, mais do que a propina
atribuída a Eduardo Cunha. Quase todo o valor foi pago antes mesmo da
inauguração dos museus.
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