André Richter e Michèlle Canes –
Repórteres da Agência Brasil
Após mais
um ano de intenso trabalho de investigação sobre os desvios de recursos da
Petrobras, a Operação Lava Jato, iniciada em 2013, já conseguiu recuperar R$
1,8 bilhão desviados da estatal. Desde então, 75 investigados foram
condenados. A soma das penas dos envolvidos chega a mais de 626 anos de prisão.
Em
entrevista à Agência Brasil, o procurador da República Roberson Pozzobon, um
dos integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que atua
nas investigações, fez um balanço da atuação do MPF e avalia que a população
brasileira está mais consciente sobre os efeitos da corrupção.
Para o
procurador, a ampla divulgação feita pela imprensa das etapas da investigação e
a crise econômica no país tornaram a população mais sensível aos desvios
bilionários que ocorreram na Petrobras. “Hoje, o que vislumbramos é uma
população que não está inerte frente a estes desvios bilionários que decorrem
dessas práticas corruptas. Hoje, a população se insurge, vai às ruas, protesta
contra a corrupção e dá passos no sentido de combatê-la”, afirma.
De acordo
com Pozzobon, uma iniciativa que merece destaque em 2015 é o projeto de lei
promovido pelo MPF que estabelece dez medidas de combate à corrupção. O projeto
conta com mais de 1,1 milhão de assinaturas de populares. São necessárias 1,5
milhão para apresentar a proposta à Câmara dos Deputados.
“Mais de um
milhão de cidadãos brasileiros assinam hoje contra a corrupção e a importância
desse despertar, a importância dessa postura ativa frente a corrupção, ela é
incalculável porque ao mesmo tempo em que o cidadão busca tomar consciência do
projeto, verificar as medidas, ele toma consciência, como um todo, dos efeitos
danosos da corrupção”.
Na
entrevista, Pozzobon também disse que os procuradores da Lava Jato ainda têm
uma série de ilícitos que precisam ser apurados e pessoas que serão
responsabilizadas nas próximas fases da operação em 2016.
“Trata-se
de um trabalho que não é uma corrida de 100 metros rasos. É um trabalho que
demanda fôlego, é um trabalho que deve ser feito de forma consciente,
tranquila, dando passos seguros para que não haja nenhuma responsabilização
inadequada, para que somente os fatos sejam revelados na medida das suas
verdades”, argumenta.
De acordo
com o balanço mais recente da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a
atuação na Operação Lava Jato, foram realizadas, em todas as fases da
investigação, 360 buscas a apreensões, 166 prisões, sendo 61 prisões preventivas
e 55 temporárias. Trinta e cinco acordos de delação premiada foram assinados
com investigados que tornaram-se colaboradores.
Confira os
principais trechos da entrevista:
Agência
Brasil: O senhor poderia fazer um balanço da operação em 2015?
Roberson Pozzobon: Eu creio que as fases que foram desencadeadas na operação, os processos que foram instaurados, as ações que já foram julgadas, o montante que já foi recuperado e revertido em prol dos cofres públicos, os agentes que já foram condenados em primeiro grau, todos os fatos que vieram à tona, e o fato de que pessoas da mais alta esfera política e econômica do país estão sendo sim responsabilizadas perante a justiça criminal pelos atos que praticaram. Eu creio que todos estes fatores nos mostram que o balanço da operação no ano é bastante positivo.
Roberson Pozzobon: Eu creio que as fases que foram desencadeadas na operação, os processos que foram instaurados, as ações que já foram julgadas, o montante que já foi recuperado e revertido em prol dos cofres públicos, os agentes que já foram condenados em primeiro grau, todos os fatos que vieram à tona, e o fato de que pessoas da mais alta esfera política e econômica do país estão sendo sim responsabilizadas perante a justiça criminal pelos atos que praticaram. Eu creio que todos estes fatores nos mostram que o balanço da operação no ano é bastante positivo.
Agência
Brasil: O que o senhor destacaria das fases que foram realizadas neste ano?
Pozzobon: Eu acho que é difícil destacar porque cada uma destas fases tem sua importância, elas se sucedem de forma a permitir que o caso avance, que os fatos sejam esclarecidos. Então, não é porque em uma determinada fase da operação foram cumpridos "X" mandados de prisão, ou eventualmente foram presas determinadas pessoas que ela é mais ou menos importante que outra fase da operação. Elas se complementam. Essas fases trazem novas provas e novas evidências que permitem que todos os fatos sejam plenamente esclarecidos.
Pozzobon: Eu acho que é difícil destacar porque cada uma destas fases tem sua importância, elas se sucedem de forma a permitir que o caso avance, que os fatos sejam esclarecidos. Então, não é porque em uma determinada fase da operação foram cumpridos "X" mandados de prisão, ou eventualmente foram presas determinadas pessoas que ela é mais ou menos importante que outra fase da operação. Elas se complementam. Essas fases trazem novas provas e novas evidências que permitem que todos os fatos sejam plenamente esclarecidos.
Agência
Brasil: Para 2016, como está sendo pensada a linha de atuação da operação?
Pozzobom: Em 2016 haverá a continuidade da operação. Existem frentes investigativas em andamento, existem fatos que ainda precisam ser melhor apurados, existem outros fatos que já estão mais amadurecidos e que culminarão na propositura de novas denúncias. Então, 2016 será, com certeza, um ano de bastante trabalho.
Pozzobom: Em 2016 haverá a continuidade da operação. Existem frentes investigativas em andamento, existem fatos que ainda precisam ser melhor apurados, existem outros fatos que já estão mais amadurecidos e que culminarão na propositura de novas denúncias. Então, 2016 será, com certeza, um ano de bastante trabalho.
Agência
Brasil: Pessoas do alto escalão foram denunciadas e estão sendo investigadas.
Como o senhor vê a questão do envolvimento dessas pessoas com relação aos
partidos políticos? Isso causa um impacto grande nos partidos?
Pozzobom: Essa questão política não é um fator que nós consideramos aqui em nossas decisões e nossos atos. Nós apuramos fatos criminosos que foram praticados independentemente de quais pessoas participaram, se elas fazem parte dessa ou daquela outra agremiação política. É lógico que quando se responsabiliza pessoas que atuam na condução da coisa pública, agentes políticos, isso acaba repercutindo também nessa esfera, mas são fatores que nós não podemos levar em consideração em nossa tomada de decisões, pois nos pautamos única e exclusivamente por critérios jurídicos. Então, não temos como sequer estancar esses efeitos políticos muito menos por sopesar eles de forma a produzir mais ou menos. Eles são, digamos, efeitos reflexos de uma investigação que atinge agentes muito poderosos.
Pozzobom: Essa questão política não é um fator que nós consideramos aqui em nossas decisões e nossos atos. Nós apuramos fatos criminosos que foram praticados independentemente de quais pessoas participaram, se elas fazem parte dessa ou daquela outra agremiação política. É lógico que quando se responsabiliza pessoas que atuam na condução da coisa pública, agentes políticos, isso acaba repercutindo também nessa esfera, mas são fatores que nós não podemos levar em consideração em nossa tomada de decisões, pois nos pautamos única e exclusivamente por critérios jurídicos. Então, não temos como sequer estancar esses efeitos políticos muito menos por sopesar eles de forma a produzir mais ou menos. Eles são, digamos, efeitos reflexos de uma investigação que atinge agentes muito poderosos.
Agência
Brasil: Até pouco tempo não se pensava em ver certas pessoas que estão sendo
investigadas e presas, sendo responsabilizadas. Esse é um dos méritos da
operação?
Pozzobom: Eu creio que o sistema jurídico brasileiro penal tenha iniciado uma caminhada, principalmente com o processo do mensalão, e hoje consolida essa caminhada no caso Lava Jato e em outras grandes operações, no sentido de que a lei penal também é uma lei que vale para todos, que inclusive agentes políticos podem ser responsabilizados. Que inclusive grandes agentes econômicos, as pessoas que conduzem as maiores corporações do país, se elas fizerem algo de errado, se elas praticarem crimes, elas também podem ser chamadas a serem responsabilizadas por estes atos. Creio que esta escalada, esta maturidade que o sistema jurídico vem atingindo é algo bastante importante para a democracia brasileira, para a República como um todo. Mostrar que a Justiça, e principalmente neste caso, a justiça penal, ela não é uma justiça que tenha somente um espectro pessoal de limitação. Ela é uma justiça que vale para todos e eu creio que seja bastante importante, é um dos aspectos positivos, sem dúvida, da investigação.
Pozzobom: Eu creio que o sistema jurídico brasileiro penal tenha iniciado uma caminhada, principalmente com o processo do mensalão, e hoje consolida essa caminhada no caso Lava Jato e em outras grandes operações, no sentido de que a lei penal também é uma lei que vale para todos, que inclusive agentes políticos podem ser responsabilizados. Que inclusive grandes agentes econômicos, as pessoas que conduzem as maiores corporações do país, se elas fizerem algo de errado, se elas praticarem crimes, elas também podem ser chamadas a serem responsabilizadas por estes atos. Creio que esta escalada, esta maturidade que o sistema jurídico vem atingindo é algo bastante importante para a democracia brasileira, para a República como um todo. Mostrar que a Justiça, e principalmente neste caso, a justiça penal, ela não é uma justiça que tenha somente um espectro pessoal de limitação. Ela é uma justiça que vale para todos e eu creio que seja bastante importante, é um dos aspectos positivos, sem dúvida, da investigação.
Agência
Brasil: E é isso que vai continuar acontecendo, em termos de operação no
próximo ano?
Pozzobom: As investigações prosseguem. Existe ainda uma série de fatos ilícitos a serem apurados, pessoas a serem responsabilizadas, recursos desviados que devem ser recuperados, que devem ser revertidos à população brasileira novamente e isso é lógico, trata-se de um trabalho que não é uma corrida de 100 metros rasos. É um trabalho que demanda fôlego, é um trabalho que deve ser feito de forma consciente, tranquila, dando passos seguros para que não haja nenhuma responsabilização inadequada, para que somente os fatos sejam revelados na medida das suas verdades.
Pozzobom: As investigações prosseguem. Existe ainda uma série de fatos ilícitos a serem apurados, pessoas a serem responsabilizadas, recursos desviados que devem ser recuperados, que devem ser revertidos à população brasileira novamente e isso é lógico, trata-se de um trabalho que não é uma corrida de 100 metros rasos. É um trabalho que demanda fôlego, é um trabalho que deve ser feito de forma consciente, tranquila, dando passos seguros para que não haja nenhuma responsabilização inadequada, para que somente os fatos sejam revelados na medida das suas verdades.
Agência
Brasil: Mais alguma coisa que o senhor gostaria de acrescentar?
Pozzobom: Eu acho que este ano também nos mostra que a população brasileira, hoje, está muito mais consciente dos efeitos danosos da corrupção. Os cidadãos brasileiros veem hoje, seja pela própria existência da operação e pelo importante papel da imprensa que a mídia vem fazendo de divulgar estes fatos, seja pelo fato de que infelizmente hoje passamos por uma crise econômica, então as pessoas ficam sensíveis a estes desvios bilionários. Hoje o que vislumbramos é uma população que não está inerte frente a estes desvios bilionários que decorrem dessas práticas corruptas. Hoje a população se insurge, vai as ruas, protesta contra a corrupção e dá passos no sentido de combatê-la.
Pozzobom: Eu acho que este ano também nos mostra que a população brasileira, hoje, está muito mais consciente dos efeitos danosos da corrupção. Os cidadãos brasileiros veem hoje, seja pela própria existência da operação e pelo importante papel da imprensa que a mídia vem fazendo de divulgar estes fatos, seja pelo fato de que infelizmente hoje passamos por uma crise econômica, então as pessoas ficam sensíveis a estes desvios bilionários. Hoje o que vislumbramos é uma população que não está inerte frente a estes desvios bilionários que decorrem dessas práticas corruptas. Hoje a população se insurge, vai as ruas, protesta contra a corrupção e dá passos no sentido de combatê-la.
Então creio
que o combate à corrupção efetivo, ele se dá não apenas na esfera judicial, na
esfera da repressão mas também por meio do despertar da população para o
exercício da democracia. Dentro dessas regras do jogo, visando corrigir
eventuais falha que o sistema tenha e otimizar o sistema para que algo parecido
não aconteça novamente, que esse grande esquema de corrupção cesse, que se
construa um país melhor.
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