Da Rede
A Rede
Sustentabilidade vem a público lamentar e também alertar com extrema
preocupação sobre um ataque sofrido pelos indígenas Ka’ Apor, praticado por
madeireiros nas regiões sudoeste e oeste do território Alto Turiaçu, localizado
no estado do Maranhão. Desde o último domingo, 20 de dezembro, esse conflito
armado instaurou um verdadeiro clima de tensão, em razão da disputa de terras.
Desde então, dois índios foram baleados e outros quatro ainda estão
desaparecidos.
O triste cenário
começou a ser montado a partir de sábado, 18 de dezembro, quando 26 indígenas
Ka’ Apor passaram a realizar o controle do incêndio nesse território, devido à
conclusão do trabalho do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos
Incêndios Florestais) do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis), após dez dias na região. Na manhã de domingo,
porém, o grupo se deparou com madeireiros que extraíam madeira ilegalmente em
um dos ramais que havia sido fechado pelos indígenas para evitar extração da
madeira.
Além disso, os
indígenas descobriram que os madeireiros haviam construído uma ponte sobre o
Rio Turi para facilitar o acesso à extração ilegal. Desta forma, eles
apreenderam sete pessoas para entregar ao Ibama e atearam fogo em um caminhão e
duas motocicletas usadas nessa irregularidade. Um dos detidos, no entanto,
escapou e avisou os outros madeireiros que estavam no povoado de Nova
Conquista, município de Zé Doca (MA).
A partir de então,
instalou-se um clima de atrocidades e de terror contra os indígenas. Mais de 20
madeireiros fortemente armados invadiram o território dos Ka’ Apor. E, de
acordo com relato dos índios, os invasores mandaram todos seguirem para frente
das armas. Com isso, atiraram pelas costas e depois correram para o mato.
Tamanha covardia resultou nos dois baleados e nos quatro desaparecidos.
Para piorar ainda
mais a situação, os invasores fecharam, ainda no domingo, a entrada da aldeia
e, na segunda-feira, 21 de dezembro, invadiram novamente o local e agrediram os
homens da aldeia como também expulsaram as mulheres e as crianças, Os indígenas
denunciam que dentro do território se encontram dois caminhões e dois tratores
trazidos pelos madeireiros.
No entendimento da
REDE, a condição instalada no território indígena causa ainda mais revolta
porque os policiais estiveram na região acompanhados do prefeito do município
de Zé Doca, Alberto Carvalho Gomes, mas nada fizeram para acalmar a situação.
As autoridades ouviram apenas os não indígenas presentes na aldeia e retornaram
para a cidade. No dia seguinte, a perseguição aos indígenas e os aliados da
causa aumentou na cidade.
O problema se agravou
ainda mais porque os órgãos de imprensa aliados dos madeireiros divulgaram uma
versão distorcida dos fatos, como se os índios tivessem causado o conflito. Na
verdade, a aldeia está sob o ataque de perigosos bandidos. Por outro lado, os
apoiadores dos indígenas na região foram ameaçados de morte e correm o risco de
se tornarem mais uma vítima desses foras da lei, como ocorreu com a liderança
indígena Eusébio Ka’ Apor, assassinado por madeireiros em abril desse ano. Até
o momento, esse crime não foi solucionado e segue impune.
Para a REDE, o fato
que também causa muita preocupação é a lentidão do governo do estado do
Maranhão e dos órgãos que deveriam atuar na proteção e apoio dos indígenas em
relação ao clima de conflito instalado há algum tempo na região e tem se
intensificado desde que os Ka’ Apor iniciaram a retomada de seu território. A
partir daí, aumentou a perseguição contra os indígenas e apoiadores. Caso as
autoridades competentes tivessem agido com mais rigor, certamente o embate não
teria atingido essas proporções.
Fora isso, os Ka’
Apor denunciam ainda que os madeireiros se apropriaram dos equipamentos de
trabalho de mapeamento dos focos de incêndio e estão identificando as pessoas e
fazendo sérias ameaças. E foi somente após recorrer ao Ministério Público que
os indígenas receberam a informação de que a Polícia Federal se deslocaram para
a região.
A REDE entende que
muitos municípios existentes no entorno do território Ka’ Apor vivem
exclusivamente da exploração de madeira, o que torna a atividade essencial para
região. No entanto, essas cidades não podem sustentar o seu principal pilar
econômico por meio da extração ilegal, como tem acontecido e prejudicado a
comunidade indígena existente. Ainda na avaliação da REDE, é preciso que as os
órgãos competentes atuem com mais ênfase como forma de apaziguar esse
verdadeiro clima de terror instalado no local e punir rigorosamente e de forma
exemplar os responsáveis pelos crimes homicídio e tentativa de homicídio,
cometidos contra os indígenas no local.
Comissão Executiva
Nacional
Rede Sustentabilidade