Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Gregório Duvivier |
FESTA ESTRANHA,
GENTE ESQUISITA
Você
também já deve ter se perguntado: "Por que o Congresso brasileiro é tão
conservador?". Eduardo Cunha costuma responder pra você e pra quem
quiser ouvir que o Congresso foi eleito pelo povo, logo o
conservadorismo do Congresso reflete o conservadorismo do povo. Imagino
que ele só tenha enviado milhões não declarados para a Suíça porque é
isso que todo brasileiro faz. A culpa é do povo, sempre.
Cunha: tira o povo dessa roubada. Se tem alguém que não está presente no
Congresso nacional (além dos deputados que, de modo geral, preferem
trabalhar de casa) é o povo brasileiro.
As mulheres são quase 52% da população. No entanto, você consegue
encontrar mais mulheres jogando rúgbi do que na Câmara dos Deputados. O
povo brasileiro se declara, em sua maioria, negro ou pardo (53%). O
Senado brasileiro tem menos negros que o Senado da Suécia (não é uma
expressão, é um fato). Quanto aos jovens, melhor procurar num jogo de
bocha. Jovens com até 34 anos são 39% do eleitorado e 10% do Congresso.
O mesmo vale para os gays: apenas um deputado entre os 513 se declara
gay. Já os transexuais e a população indígena não tem a mesma sorte.
Nenhuma das duas minorias tem sequer um deputado federal ou senador. Em
compensação, os empresários, apenas 4% da população, são 43% dos
deputados. Sim: proporcionalmente, a Câmara dos Deputados tem dez vezes
mais empresários do que o Brasil.
Muito se fala sobre a tal festa da democracia. Que festa estranha com gente esquisita!
O Congresso brasileiro está mais para o salão de jogos do Country Club:
uma versão mais masculina, mais branca, mais hétero, mais velha e mais
empresária do Brasil. Mas, por quê? Será que o brasileiro só confia em
homem branco hétero velho empresário?
Uma rápida pesquisa revela que eleger um deputado custa, em média, R$ 6
milhões. Uma rápida pesquisa revela que quem tem R$ 6 milhões no Brasil é
homem branco hétero velho empresário. O Congresso brasileiro não é a
cara do Brasil. Ele é a cara da elite do Brasil. Não é o povo brasileiro
que é conservador. É o dinheiro brasileiro que é conservador.
Pense no lado bom: talvez o Brasil não seja um país intrinsecamente
corrupto ou reacionário. Ou talvez seja. Isso a gente ainda não sabe.
Pra isso seria preciso uma coisa inédita: democracia. Por enquanto, pra
participar da festa, só com pulseirinha VIP de R$ 6 milhões (mas relaxa
que tem consumação).