Sábado, 26 de dez de 2015
Por Mauro Santayana
Para os energúmenos
que dizem que nos EUA o Estado não interfere na economia, uma notícia: só na
semana passada foi aprovado pelo Congresso, em Washington, o fim da proibição
da exportação de petróleo norte-americano, que perdurou por longos 40 anos.
Por lá, existe uma
lei de conteúdo local, o Buy American Act – que, como ocorre no caso da
Petrobras, aqui seria tachada de “comunista” e “atrasada” pelos entreguistas –
que, desde 1933, exige que o governo dê preferência à compra de produtos
norte-americanos, e que foi complementada por outra, com o mesmo nome e
objetivo, em 1983.
Na área de defesa,
nem um parafuso pode ser comprado pelas forças armadas norte-americanas, se não
for fabricado no país.
E se a tecnologia ou
o desenho pertencer a uma empresa estrangeira, ela é obrigada a se associar,
minoritariamente, a um “sócio” norte-americano, para produzir, in loco, o
produto.
Quem estiver
duvidando, que pergunte à EMBRAER, que, para fornecer caças leves Super Tucano
à Força Aérea dos EUA, teve que se associar à companhia norte-americana Sierra
Nevada Corporation e montar uma fábrica na Flórida.
No Brasil, a nova
direita antinacionalista, grita, nas redes sociais, o mantra da privatização de
tudo a qualquer preço. Citando, automaticamente, fora de qualquer contexto, os
Estados Unidos, os hitlernautas tupiniquins não admitem que estatais
existam nem que dêem eventuais prejuízos, ignorando que nos EUA – a que eles se
referem, abjeta apaixonadamente, como se não vivêssemos no mesmo continente,
como America – a presença do estado vai muito além de setores
estratégicos como a defesa.
No nosso vizinho do
Norte o transporte ferroviário de passageiros, por exemplo, é majoritariamente
atendido por uma empresa estatal, a AMTRAK, que – sem ser incomodada ou atacada
por isso – dá um prejuízo de cerca de um bilhão de dólares por ano, porque,
nesse caso, o primeiro objetivo não pode ser o lucro, e, sim, o atendimento às
necessidades da população, incluídas as camadas menos favorecidas.
A União Européia, que
posa de liberal no comércio internacional, e cujos jornais econômicos – assim
como o Wall Street Journal, dos EUA – adoram ficar (a palavra que queríamos
usar é outra) – ditando regras para o governo brasileiro, acaba de postergar,
até segunda ordem, o acordo de livre comércio com o Mercosul, mesmo depois da
eleição de Fernando Macri, adversário de Cristina Kirchner, na Argentina.
Apesar da propaganda
contrária por parte da imprensa brasileira, a culpa não foi do Brasil ou do
Mercosul.
Como previmos no post
“o porrete e o vira-lata” os europeus roeram a
corda porque, protecionistas como são, não querem eliminar seus subsídios
ao campo nem abrir o mercado do Velho Continente aos nossos produtos
agrícolas, nem mesmo em troca da assinatura de um acordo que pretendem cada vez
mais leonino - para eles é claro - com a maioria dos países da América do
Sul.
Se no plano econômico
é assim, no contexto político a estória também não é muito diferente.
Os bajuladores dos
EUA entre nós acusam a Venezuela e a Argentina – onde a oposição venceu
democraticamente as respectivas eleições há alguns dias – de ditaduras
“bolivarianas”.
Mas não emitem um pio
com relação a “democracias” apoiadas pelos EUA, como a Arábia Saudita -
governada e controlada por uma família real com algumas centenas de membros.
Um reino que detêm um
fundo, estatal e bilionário, que acaba de comprar 10% da terceira maior empresa
de carnes brasileira, a Minerva Foods.
E uma monarquia
fundamentalista na qual as mulheres votaram pela primeira vez, apenas na semana
passada.
Fonte: http://www.maurosantayana.com