Terça, 13 de setembro de 2016
Luciano Nascimento e Ivan Richard - Repórteres da Agência Brasil
Após ter seu mandato cassado pela Câmara, o ex-deputado Eduardo
Cunha (RJ) responsabilizou o governo do presidente Michel Temer pelo
resultado da votação. O peemedebista negou ainda que tenha a intenção de
fazer delação premiada, mas prometeu escrever um livro relatando todos
os diálogos que teve durante o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Para
o ex-presidente da Câmara, o governo Temer teve responsabilidade na
cassação do seu mandato por ter apoiado a eleição do Rodrigo Maia
(DEM-RJ) à presidência da Casa, com apoio do PT.
“Quem
elegeu o presidente da Casa foi o governo, quem derrotou o candidato
Rogério Rosso foi o governo. Todo mundo sabe que o governo hoje tem uma
eminência parda e quem comanda o governo é o Moreira Franco, que é o
sogro do presidente da casa [Rodrigo Maia]. Todo mundo sabe que o sogro
do presidente da casa comandou uma articulação e fez com que fosse feita
uma aliança com o PT e, consequentemente, com isso a minha cassação
estava na pauta”, disse Cunha.
Perguntado se tinha a intenção de
assinar delação premiada, já que é alvo da Operação Lava Jato, Cunha
disse não ser criminoso para fazer delação. “Só faz delação quem é
criminoso. Eu não sou criminoso, não tenho que fazer delação”. O
peemedebista, contudo, disse que pretende escrever um livro sobre o impeachment de Dilma Rousseff
“Vou
contar tudo que aconteceu, diálogo com todos os personagens que
participaram de diálogos comigo. Eles serão tornados públicos, na sua
integralidade. Todo mundo que conversou comigo, todos, todos”, disse
Cunha.
Apesar da promessa de escrever um livro de memórias, Cunha
negou que faça ameaças. “Não sou pessoa de fazer qualquer tipo de
ameaça, velada ou não. Não faço ameaça. O livro não é ameaça. Quero
contar os fatos, contribuir para a história. A sociedade merece conhecer
todos os detalhes. Até porque uns ficam falando que é golpe e hoje vão
querer perpetuar esse discurso de golpe com a minha cassação. Não tenho
nada a revelar sobre ninguém. O dia que o tiver, eu o farei”.
Prisão
O
ex-deputado, que é alvo de pedido de prisão feito pelo Ministério
Público Federal e que aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal, disse
não ter medo de ser preso e nem do juiz federal Sérgio Moro,
responsável pelos inquéritos da Lava Jato na primeira instância.
“Não
tenho que temer ninguém. Tenho que temer a Deus. Só temo a Deus. Vou me
defender, como estou me defendendo. Não tenho preocupação com isso. Me
sinto inocente e vou me defender”.
Arrependido
Depois de defender no plenário da Casa que sua cassação era resultado da atuação que teve no processo de impeachment,
Cunha afirmou, após perder o mandato, que se arrepende de não ter
aceitado antes a denúncia contra Dilma Rousseff. “Me arrependo de não
ter feito antes, do dia que coloquei [a decisão sobre a abertura do
processo do impeachment] na gaveta trancada, com medo de qualquer coisa e já não ter anunciado naquele momento”.
Cunha
reconheceu que cometeu alguns erros, mas não o usado por seus
adversários para cassá-lo. “Cometi muitos erros, eu sou um ser humano
que errou muitas vezes, mas não foram os meus erros que me levaram à
cassação. O que me levou à cassação é a política. Fui vítima de uma
vingança política no meio do processo eleitoral”.