Quarta, 21 de setembro de 2016
Andreia Verdélio - da Agência Brasil
Após pesquisa Datafolha mostrar que mais de 33%
da população brasileira considera a mulher culpada pelo estupro, o
integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) Rafael
Alcadipani destacou a culpabilização da vítima e o grau de proximidade
dos agressores entre os dados mais alarmantes.
“A culpabilização
da vítima é muito séria. Esse estudo mostra a prevalência da cultura
machista na sociedade, de que a mulher tem que andar sempre de
determinada forma, quando sabemos que a maior parte da violência
acontece por pessoas próximas à vítima, o pai, o marido, o tio, o
primo”, disse.
Para o especialista, romper com a cultura machista
exige que o respeito à mulher comece dentro de casa. “Aprender que
lugar de mulher não é na cozinha, que mulher não é um simples objeto de
desejo do homem”, disse. Alcadipani destacou a importância de educar
meninos e meninas com os mesmos direitos e deveres em casa e de discutir
o tema do machismo e da violência também nas salas de aula.
A
pesquisa do Datafolha, encomendada pelo FBSP, mostra que 42% dos homens e
32% das mulheres concordam com a afirmação: “mulheres que se dão ao
respeito não são estupradas”, enquanto 63% das mulheres e 51% dos homens
discordam.
Segundo Alcadipani, o resultado indica que muitas
vezes as próprias mulheres ainda são consideradas responsáveis pela
violência sexual, seja por não se comportarem “adequadamente” ou por
usarem roupas provocantes. Apesar disso, outro dado da mesma pesquisa
aponta que 91% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que
“Temos que ensinar meninos a não estuprar”.
“No
fundo eles sabem que a culpa é do homem, mas continuam com a postura de
que a mulher contribuiu para a violência”, analisou o especialista.
O
termo violência sexual abrange diferentes formas de agressão que ferem a
dignidade e a liberdade sexual de uma pessoa, tais como assédio,
exploração sexual e estupro. Nesse conceito também se inserem as
“piadinhas”, comentários e “cantadas”.
“Isso faz parte da nossa cultura e muitas mulheres não percebem o mal que isso faz, é a raiz do problema”, ressaltou Alcadipani.
Para
o integrante do Fórum de Segurança Pública, apesar dos resultados da
pesquisa, a sociedade tem evoluído e as pessoas mais jovens são mais
abertas às ideias e tem uma visão mais adequada sobre equidade de
gênero. “Precisamos evoluir muito, a questão não é só a lei, mas a
cultura de mudar as práticas cotidianas.”
Metodologia
O
Datafolha fez 3.625 entrevistas com pessoas a partir de 16 anos, em 217
municípios. A coleta de dados foi feita entre os dias 1º e 5 de agosto
deste ano. A margem de erro é dois pontos percentuais para mais ou para
menos.
Veja aqui a pesquisa completa.