Quinta, 1º de setembro de 2016
Mariana Jungmann - da Agência Brasil
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB),
anunciou hoje (1º) que o partido voltou atrás e decidiu ingressar com
um mandado de segurança coletivo no Supremo Tribunal Federal contra a
divisão da votação do impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff
ontem (31). O instrumento jurídico será assinado também pelo DEM e pelo
PPS e deve ser apresentado amanhã (2).
Ontem, os senadores
dividiram a votação do julgamento de Dilma em duas partes. Na primeira,
condenaram a presidenta por crime de responsabilidade à perda do
mandato. Na segunda, rejeitaram a sanção de perda da função pública por
oito anos, permitindo que Dilma volte a atuar no setor público,
inclusive como gestora, se for o caso.
Para os senadores tucanos,
a segunda decisão do Senado não poderia ter sido aprovada, uma vez que a
sanção de perda da função pública faz parte da condenação no impeachment.
No entanto, ontem, segundo Cunha Lima, o PSDB e o DEM tinham entendido
que a vitória maior tinha sido conquistada com o afastamento definitivo
de Dilma e tinham decidido não questionar a segunda votação no STF.
Resposta ao PT
Hoje,
no entanto, os senadores mudaram de posição depois que o PT acionou a
Suprema Corte questionando todo o julgamento e pedindo sua nulidade.
Para Cunha Lima, se tornou necessário que o questionamento apenas à
segunda parte da votação seja apresentado para que o Judiciário possa
apreciar essa questão separadamente e não corra o risco de anular tudo.
“Ontem,
no calor, na emoção, a sensação primeira que foi predominante no
partido foi de termos uma postura de serenidade, não transformar uma
vitória em uma derrota e dar uma contribuição para uma estabilidade
maior no país. Mas, diante dessa ação do PT, acreditamos que seja o
caminho correto entrar com a ação para que essa parte da decisão, que
está equivocada, possa ser revista”, explicou o líder.
Relação com PMDB
O
líder tucano também não escondeu o desconforto do PSDB com o
protagonismo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no
movimento para livrar Dilma da sanção de perda da função pública. Para
ele, “ficou claro” que um acordo foi feito “às escondidas”, sem que os
senadores tucanos tivessem conhecimento.
“O que aconteceu ontem é
algo que nós vamos superar, mas não é algo que nos agrade. É óbvio que
com maturidade, experiência e sobretudo com a gravidade da crise que o
Brasil vive, nós não vamos colocar mais lenha na fogueira. Após a volta
do senador Renan Calheiros da China, nós teremos uma conversa com ele.
Não se faz política com bola nas costas, não se faz política com
atitudes como a que aconteceu no julgamento do impeachment”, disse.
Na
opinião de Cunha Lima, Renan desequilibrou o julgamento quando fez um
encaminhamento inesperado a favor da ex-presidente na segunda votação.
Para ele, o PSDB se expôs ao longo de toda a votação e foi surpreendido
negativamente pelo PMDB.
“Nós não podemos atribuir ao governo
esta ação, mas sim ao próprio presidente Renan Calheiros que encaminhou a
votação. Ele esteve esse tempo todo distante do processo, numa posição
de prudência, mas depois dos encaminhamentos já terem ocorrido, ele fez
um terceiro encaminhamento. Inclusive, desequilibrando. Porque foram
dois a favor, dois contra e aí veio o presidente Renan, que usou suas
prerrogativas de presidente e encaminhou o voto. Ele pediu
explicitamente o voto não. Mas não vamos fazer disso um cavalo de
batalha, o Brasil está acima disso”, disse.
Cunha Lima espera
que, ao voltar da China, o próprio presidente Michel Temer trate do
assunto com seus colegas de partido e outros partidos da base.
No início da noite, o senador PMDB, Romero Jucá (RO), informou que também vai subscrever o mandado de segurança.