Do Sinpro-DF
A Medida Provisória n° 746 / 2016, que em uma canetada do presidente
Michel Temer (PMDB) impõe uma série de reformas no ensino médio, sem um
prévio e amplo debate com alunos (as), professores (as), pedagogos (as) e
comunidade escolar, começa a ter seus reflexos, pois a insatisfação é
geral.
Na noite desta segunda-feira (3) um grupo de 15 alunos do Centro de
Ensino Médio 414, em Samambaia, resolveu ocupar a escola em protesto
contra este projeto do Governo Federal. Na manhã de hoje, as aulas foram
interrompidas e a adesão começou a aumentar, já chegando a 50 alunos
(as) acampados. No turno da tarde, a expectativa é de que a mobilização
se aproxime dos 100 estudantes.
A escola foi surpreendida com esta mobilização, organizada
exclusivamente pelos estudantes. Mesmo sem a participação dos (as)
professores (as), os docentes apoiam o protesto, pois também estão
preocupados com o que pode ocorrer se esta MP for aprovada no Congresso.
“Em reunião com os professores, os alunos apresentaram as razões
desta ocupação. Nós concordamos, porque essa MP, imposta de cima para
baixo, sem consultar a comunidade escolar, sem debater com o professor,
com os estudantes, com os pais e os servidores, é absurda. Consideramos
nocivas para a educação a limitação da carga horária de algumas
disciplinas, como sociologia, filosofia, artes e educação física. E
discordamos veementemente da forma que esse projeto foi constituído, sem
debate, sem diálogo. Falta transparência de como será o ensino médio se
esse projeto for aprovado”, diz Fernando Espíndola, professor de
geografia.
E esta mobilização dos estudantes é exatamente reflexo do ensino que é
realizado hoje, e que Temer quer restringir. “A própria existência de
matérias como filosofia e sociologia, são ferramentas que ajudam o aluno
a criar esta consciência, essa noção de cidadania e de lutar pelos seus
direitos. Isso prova que estas disciplinas não podem ser restringidas”,
ressalta Fernando.
O professor é favorável para que o ensino médio tenha mudanças, que a
educação integral seja implementada, mas é preciso investimento,
estrutura. “Esta escola possui 18 turmas pela manhã, outras 18 pela
tarde. Quais espaços ela vai oferecer para as atividades
extracurriculares, para manifestações culturais, para que esta carga
horária ser cumprida? ”, questiona.
A ocupação tem um significado que vai além da pauta contra a
arbitrariedade do governo Temer. Há o simbolismo de fazer da ocupação o
melhor para a escola, de mostrar para a mídia do quanto ela pode
significar para a comunidade escolar. “Os alunos não estão aqui para
depredar, eles estão fazendo alguns consertos na escola, pintando
algumas portas pichadas, isso demonstra o nível de comprometimento deles
nesse processo”, aponta o professor.
Na manhã desta terça-feira (4), a direção da escola decidiu servir o
lanche para os alunos nos horários estabelecidos, mas o acesso para a
cantina é negado, porém o diálogo entre eles prossegue.
Durante esta ocupação, ocorrerão “aulões” voltados para o Enem e para
o PAS da UnB. Também estão previstas atividades culturais, das mais
diversas. Os (as) alunos pedem contribuições e criaram algumas regras.
“Esta ocupação será da cara que queremos que a escola tenha, com
cultura, música, arte e poesia. Vamos realizar oficinas, pediremos ajuda
aos professores e voluntários. Hoje pela manhã nós lavamos os banheiros
e limpamos a escola. Proibimos a entrada de álcool e drogas, somos
contra qualquer depredação na escola. Achamos incoerente se queremos
algo melhor para a escola, termos que depredá-la. Queremos a mídia aqui,
queremos que o Secretário de Educação venha aqui. E estamos pedindo um
colchão, um saco de arroz, toda ajuda é bem-vinda. Estamos nos
mobilizando e vamos ficar. Ontem dormimos no chão, mas sabemos que não
seria fácil”, diz Isabella Tavares Pereira, aluna do 3° ano da escola.
A estudante faz severas críticas à MP n° 746, imposta por Temer.
“Lançada como MP, ela terá que ser votada em 120 dias, e este prazo é
curtíssimo para se discutir em âmbito nacional um projeto desta
amplitude. Estamos nos articulando, o movimento vai crescer, pois nós
precisamos que o Governo nos ouça a respeito deste projeto. Eles deram
um tiro no pé, ao não chamar nenhum estudante, nenhum professor para o
debate e sim o Alexandre Frota e o MBL”, diz a aluna.
Para Isabella, as recentes ocupações das escolas em São Paulo, que se
espalharam por várias partes do país ensinaram bastante. “Mostrou que
sim, é possível. O governo percebeu que os estudantes têm força e que
não aceitaremos qualquer coisa imposta. Eles perceberam que precisam
conversar conosco e agora não será diferente”, afirmou.
A ocupação não tem prazo para terminar.
Foto: Deva Garcia / Sinpro