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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 2 de março de 2020

O MOVIMENTO ANTICOMUNISTA — MAC

Segunda, 2 de março de 2020
Por
Salin Siddartha

É um grupo armado de extrema direita criado em 1961, no Rio de Janeiro, com o objetivo de combater o que eles chamam de o “perigo vermelho”. Deixou de atuar abertamente depois do Ato Institucional nº 5 (o AI-5), no entanto nenhum de seus crimes foi punido. Voltou a existir desde 2014.

Foi um dos principais grupos civis-militares que se utilizaram de táticas violentas e uma das primeiras organizações terroristas de ultradireita a surgir no Brasil, na década de 1960; o MAC era formado por militares, policiais e civis para realizar buscas e atentados contra organizações e movimentos de esquerda. Era muito perigoso, recebia apoio da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (a Central Intelligence Agency-CIA), estava a soldo de diversos sistemas de inteligência e informação norte-americanos e também ganhava dinheiro dos grupos econômicos da direita, inclusive mantinha estreitas relações com o Instituto Brasileiro de Ação Democrática-IBAD e contava com a tolerância do Governador do antigo Estado da Guanabara, Carlos Lacerda; em São Paulo, sediava-se na Universidade Mackenzie.

Já atuava antes mesmo do Golpe Militar de 1964. Em um primeiro momento, no período ainda inicial da Guerra Fria, em que era difundido o medo do comunismo, o foco desse grupo ultradireitista se dava em procurar barrar o avanço da esquerda no Brasil; após o Golpe de 64, quando passou a ter cobertura do regime militar para cometer violências e atentados armados contra civis, o foco dele passou a ser a formação de uma “comunidade de segurança”, com participação de civis e militares pertencentes aos órgãos oficiais de informação, inteligência e repressão, para identificar, perseguir e torturar opositores do regime ditatorial. Se até 1964 as ações do MAC eram mais limitadas, depois do Golpe Militar elas se tornariam intimidatórias contra os grupos e as pessoas que resistiam ao governo de exceção que se implantara, haja vista estar em sintonia com o aparelho repressivo de Estado.

O Movimento Anticomunista teve extrema importância com relação à propaganda anticomunista e era significativo entre a classe média; sua ação não era somente anticomunista, mas envolvia, também, o ataque a qualquer organização de esquerda, pois visava, inclusive, nomes e instituições adeptas das teses nacional-reformistas. Foi responsável por atos violentos, principalmente ao longo do ano de 1968, quando praticou cerca de 20 atentados a bomba e centenas de pichações de muros, paredes, prédios, casas e instituições, embora nenhum inquérito tenha sido instaurado para apurar os atentados que o MAC praticou entre 1966 e 1968. A ira do Movimento era dirigida, notadamente, para os estudantes, artistas, jornalistas e intelectuais de esquerda, até mesmo da chamada “esquerda festiva”.

Logo no mês seguinte ao da sua criação, em 1961, o grupo deixaria suas marcas em vários prédios do Rio de Janeiro, com pichações de frases como “Morte aos Traidores Prestes e Julião”, “Fuzilemos, brasileiros, os lacaios de Moscou”, “Fogo nos comunistas” e “Guerra de Morte ao PCB”. Durante o Governo de Jango, realizava sequestros de notáveis personalidades de esquerda e colocava bombas em alvos supostamente comunistas.

Em 1962, seus membros metralharam a sede da UNE, lançaram bombas de gás lacrimogênio no plenário do III Encontro Sindical e atacaram a sede da Missão Soviética, o que motivou um pedido de investigação por parte do Conselho de Segurança Nacional que, contudo, não chegou a concretizar-se. Ainda no ano de 1962, o MAC explodiu uma bomba que destruiu a gráfica do jornal governista Última Hora, no Rio de Janeiro, e realizou dois atentados ao mesmo Última Hora, em Curitiba-PR, nos dias 10 e 1º de janeiro de 1962; no caso da bomba explodida no Última Hora, do Rio de Janeiro, uma investigação foi prometida pela polícia carioca, mas jamais alguém foi apontado como autor do crime.

Posteriormente, durante a Ditadura Militar, suas atividades terroristas contra estudantes e grupos de esquerda intensificaram-se. Em 2 de outubro de 1968, o MAC foi um dos grupos extremistas de direita que atacaram os estudantes que se encontravam na Faculdade de Filosofia da USP, no conflito que ficou conhecido como a “Batalha da Maria Antônia”. Os principais líderes do MAC, na década de 1960, foram Rubens dos Santos Werlang, Roberto Magessy Pereira e Aluísio Gondim. Também pertenceu e foi um dos líderes do Movimento Anticomunista-MAC o tenente-coronel Paulo Malhães, agente do Centro de Informações do Exército-CIE (atual CIEX) e organizador da tristemente famosa “Casa da Morte”, centro de torturas e execução de presos políticos na década de 1970, localizado em Petrópolis-RJ. Naquela década, o MAC realizou ações conjuntas com o Comando de Caça aos Comunistas-CCC.

Em 11 de maio de 1977, a organização realizou atentados ao Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG e contra residências de militantes e ativistas que lutavam contra o regime militar (na véspera desses atentados, foi realizado um ato público naquele Diretório Acadêmico, pedindo a libertação de estudantes e operários presos em São Paulo); na ocasião, integrantes do Movimento Anticomunista-MAC teriam invadido o espaço, vasculhado e pichado o local com tinta de “spray”. No ano de 1978, as ações do MAC ganharam mais força, registrando-se vários ataques a bomba aos Diretórios das Faculdades de Filosofia e Ciências Humanas, Direito, Medicina, Ciências Econômicas e também ao Diretório Central de Estudantes-DCE da UFMG. Além disso, a sede da sucursal do jornal Em Tempo, em Belo Horizonte, foi alvo de atentado logo que o semanário publicou uma lista com os nomes de 233 torturadores do Governo Militar; a matéria foi publicada na edição semanal de 26 de junho a 2 de julho de 1978, e o ataque aconteceu na madrugada do dia 28 de julho, quando um grupo entrou na redação, roubou alguns documentos e as máquinas de escrever, e pichou as paredes com a frase: “MAC+GAC: a volta será pior, entrei de sola e volto”.

O MAC era um antro de “gorilas” da Ditadura.

Cruzeiro-DF, 1º de março de 2020

SALIN SIDDARTHA

Este artigo foi publicado originalmente na Jornal InfoCruzeiro

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