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(Millôr Fernandes)

domingo, 6 de setembro de 2020

Economia deve colocar as pessoas acima dos “ídolos das finanças”, diz Papa Francisco

Domingo, 6 de setembro de 2020


do IHU
Instituto Humanitas Unisinos
Enquanto muitas pessoas ao redor do mundo enfrentam incertezas econômicas devido à pandemia, é necessária uma mudança de paradigma que coloque o bem de muitos acima dos benefícios de poucos, disse o Papa Francisco.
A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada em Catholic News Service, 04-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como um conceito geral, a economia deveria se tornar “expressão de ‘cuidado’, que não exclui, mas inclui, não mortifica, mas vivifica”, disse o papa no dia 4 de setembro, em uma mensagem aos participantes de um fórum internacional promovido pela European House - Ambrosetti, um think tank econômico com sede em Roma.

A economia deve ser uma expressão de “cuidado que não sacrifica a dignidade humana aos ídolos das finanças, que não gera violência e desigualdade, que não usa o dinheiro para dominar, mas para servir”, disse. “O autêntico lucro consiste em uma riqueza a qual todos podem ter acesso.”
European House - Ambrosetti estava realizando o seu fórum anual entre os dias 4 e 6 de setembro na cidade de Cernobbio, no norte da Itália. Segundo seu site, o fórum reúne autoridades governamentais, empresários, acadêmicos e especialistas “para discutir temas da atualidade de maior impacto para a economia mundial e a sociedade como um todo”.
Em sua mensagem, o papa disse que os problemas que o mundo enfrenta requerem “um empenho extraordinário para responder os desafios provocados ou agravados pela emergência sanitária, econômica e social”.
A partir da pandemia da Covid-19, escreveu, “todos estamos aprendendo que ninguém se salva sozinho”.
“Fomos forçados pelos eventos a olhar na cara da nossa pertença recíproca, para o fato de sermos irmãos e irmãs em uma casa comum”, disse o papa. “Não tendo sido capazes de nos mostrarmos solidários no bem e na partilha dos recursos, vivemos a solidariedade do sofrimento.”
O papa disse que a pandemia também forçou as pessoas a “abrir mão do supérfluo e se concentrar no essencial” e a discernir “aquilo que permanece e aquilo que passa, aquilo que é necessário e aquilo que não é”.
Neste tempo, continuou, a ciência e a tecnologia, embora necessárias, “não foram suficientes”, e “o elemento decisivo foi a excedência de generosidade e de coragem praticadas por tantas pessoas”.
“Isso nos leva a sair do paradigma tecnocrático, entendido como única ou predominante abordagem aos problemas. Paradigma marcado pela lógica do domínio sobre as coisas, no falso pressuposto de que existe uma quantidade ilimitada de energia e de meios utilizáveis, de que a sua imediata regeneração é possível e de que os efeitos negativos das manipulações da natureza podem ser facilmente absorvidos”, disse o papa.
Francisco exortou os participantes do fórum a atenderem ao apelo de Cristo para “discernir sabiamente os sinais dos tempos” e enfatizou a necessidade de conversão ecológica e de criatividade para enfrentar os desafios de hoje.
A conversão ecológica, explicou, pode nos ajudar a “nos reconectarmos com o nosso ambiente real” e a diminuir o “ritmo desumano de consumo e de produção”, enquanto a criatividade pode ajudar a inspirar “caminhos novos e originais rumo ao bem comum”.
“Só podemos ser criativos se formos capazes de acolher o sopro do Espírito, que nos leva a ousar escolhas maduras e novas, muitas vezes audazes, tornando-nos homens e mulheres intérpretes de um desenvolvimento humano integral a que todos aspiramos”, disse Francisco.
É “a criatividade do amor que pode dar novamente sentido ao presente, para abri-lo a um futuro melhor”, afirmou.