Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 15 de outubro de 2016

Escravidão e Sistema penitenciário

Sábado, 15 de outubro de 2016
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Quando um magistrado federal sugere que “pessoa mais pobre não liga e até gosta de ficar um pouco na prisão” e o sistema penitenciário pinta o perfil dos encarcerados como de pretos, pobres e analfabetos, compreende-se que passados 128 anos da abolição da escravidão no Brasil. Ela continua viva no encarceramento em massa que afeta proporcionalmente a população negra, na ausência de negros nos cargos de comando dos poderes da República, no linchamento e perseguição dos jovens negros, nos aprisionamentos por delitos de drogas, ao tratamento diferenciado que cidadãos negros recebem do aparato policial, do ministério público e do judiciário e no número absurdo de mortes violentas de que são vítimas predominantemente os cidadãos negros.

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A população carcerária no Brasil, segundo o CNJ é de 712 mil presos com 60,8% de negros até 2015, enquanto os negros representam 51% da população brasileira. Para cada 100 mil habitantes havia 191 brancos presos contra 292 negros nas mesmas condições. O Brasil já ultrapassou a Rússia com 677 mil presos, sendo agora a terceira maior população carcerária do Planeta. Recentemente a ativista negra Angela Davis ao ser entrevistada quando de sua passagem pelo Brasil, declarou que “Brasil e EUA fracassaram em abolir a escravidão”. Essa afirmação vem a reboque de uma crítica feita quando os dois países, após séculos de exploração da mão de obra escrava, através de simples decretos declararam a emancipação dos negros, sem qualquer amparo social, abandonando-os à sua própria sorte. Não houve qualquer referência a nenhum tipo de auxílio ou indenização em razão da condição sub-humana de escravos.

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Assim como no Brasil, também nos EUA a população negra sofre o mesmo estigma do encarceramento com 40,2 por cento da população carcerária contra 6,6 de representação negra em relação à população do país. A Diretora de presidio Ava DuVernay dos Estados Unidos retratou os afro-americanos como pessoas que continuam escravizados e para ilustrar menciona os linchamentos, à luta pelos direitos civis, os aprisionamentos por delitos de drogas, às leis “pare e reviste” e ao surto de mortes de civis negros pela polícia.

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A nova vertente política que advoga uma escola sem ideologias é um obstáculo para que se eduque as crianças para a necessidade de respeitar as diferenças. Afinal toda essa crise de identidade que faz com que uma sociedade de maioria negra, como é a nossa, e onde habita a maior população negra fora da África, e onde ainda tem lugar para o racismo e outras formas de discriminações, faz-se necessário educar desde a primeira infância para a convivência pacífica e respeitosa entre todos, independentemente da raça, preferência sexual, religião, ou qualquer outra diferença entre os seres humanos em desenvolvimento.

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Fonte: Blog do Siro Darlan