Sábado, 18 de maio de2013
Hélio Fernandes
Tribuna da Imprensa
Os mais diversos governos aparentam ou exibem um grande meio de
confraternizar com a palavra “privatização”. Nem tudo que é
“privatizado” é necessariamente ruinoso, prejudicial e perdulário, mas
normalmente tem sido. E de tal maneira que os presidentes (o regime é
presidencialista, eles podem tudo) mascaram os escondem os fatos, com
palavras diferentes.
E não é apenas o receio de usar a palavra “privatização”, mas também a
certeza de que desde o início ela já vem maculada e contaminada pelos
vícios de criação. FHC, que começou essa onda de entrega do nosso
patrimônio, chamou de “desestatização”, criou uma comissão com esse
nome, jamais falou em “privatização”.
Todos os membros dessa Comissão enriqueceram fartamente, denunciei a
todos (sem livrar o responsável maior, FHC), durante o próprio governo
do PSDB. Como repito agora com o governo de Lula Dilma e do PT.
A VERGONHOSA ENTREGA
DO NOSSO PATRIMÔNIO
Para contrapor com a palavra governamental, desestatização, criei
outra, verdadeira e justificada diariamente: DOAÇÃO. Era disso que se
tratava. O governo FHC doava nosso rico patrimônio, e recebia o que eu
identifiquei como “moeda podre”.
O que significavam essas “moedas podres”? O seguinte: o pagamento era
efetuado em ações de empresas faliadas ou desativadas ou títulos do
governo, não circulou nenhum dinheiro. Então, vejamos: todos esses
papéis (como os TDAs, Títulos da Dívida Agrária) não tinham valor algum
no mercado, mas tinham um hipotético valor de face.
Alguns deles foram lançados pelo valor inscrito de 5 reais. Mas, no
mercado, “valiam”, digamos, 10 centavos. É lógico que o comprador
entregava o papel pelo valor de face (inaceitável) e o vendedor aceitava
os 10 centavos. O que fazer se não havia valor (?) menor?. (Mais inacreditável ainda).
FHC TENTA PRIVATIZAR
ATÉ A PETROBRAS
Depois de DOAR tudo, avaliando o patrimônio brasileiro por 50 vezes
menor, calculem: de 10 centavos para 5 reais, exatamente essa
desvalorização. Quase todas as empresas foram submetidas a essa
aritmética criminosa. (A Vale foi
doada toda em ações da Rede Ferroviária, falida e desativada há muito
tempo, e que entrou no cálculo já citado. (Existe alguma coisa que se
compare a essa operação do Tio Patinhas ao contrário?)
Existia um objetivo global, que era “globalizar” tudo, por qualquer
preço. E a meta principal, DOAR a Petrobras, usando lugar comum, “as
jóias da coroa”. As multinacionais vibravam com a oportunidade de ganhar
a maior empresa do Brasil. Mas entrou em campo a covardia inata de FHC, e teve que
achar um outro caminho. Criou então as LICITAÇÕES, bifurcação igualmente
vergonhosa.
Essas licitações seriam periódicas, os campos de petróleo e gás da
Petrobrás, mesmo os mais importantes, seriam entregues a “quem desse
mais”. Empurravam pela garganta do cidadão-contribuinte-eleitor (a
expressão que criei também na época) a certeza de que dinheiro
desvalorizado na mão, valia mais do que as importantíssimas reservas de
petróleo e gás.
DONA DILMA ENTRA EM CENA
REVOLTADA COM AS LICITAÇÕES
Só a brava, na época, AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobrás)
e este repórter combatiam as loucuras de FHC. Mas ganhamos (o Brasil
ganhou) um aliado inicial e aparentemente importante e poderoso: a
Ministra Dona Dilma, ainda vagamente presidenciável. Lula já fora
reeleito, precisava de um “poste”, ele surgia, só que no feminino.
Já estávamos na sexta LICITAÇÃO. Dona Dilma, cada vez mais revoltada,
queria explodir todas as pontes. Foi contida pela cúpula (lúcida e
combatente) da AEPET, que argumentou: “Agora, perderíamos tudo, essa
LICITAÇÃO não é tão importante. Depois, combateremos com mais chances”.
Compreensivelmente, Dona Dilma aceitou, a AEPET dominava o assunto
melhor do que ela.
DEPOIS, A GRANDE SURPRESA: DONA DILMA
PASSOU A APAIXONADA PELAS LICITAÇÕES
4 meses depois, o Procurador-Geral do Paraná (autorizado pelo
governador Requião), entrava no Supremo contra essas licitações,
impetrando uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade). Na certa,
depois de consultar o presidente Lula, mas de qualquer maneira,
altamente surpreendente, Dona Dilma aparece combatendo essa ADIN
e DEFENDENDO as LICITAÇÕES. Espantoso.
Telefona para Nelson Jobim, presidente do Supremo, convidando-o para
ir ao Ministério, e diz: Essa ADIN não pode ser aprovada, tem que ser
derrubada”. Até Jobim se surpreendeu, mas concordou. Voltou ao Supremo,
Eros Grau (que atendia Jobim com um simples sinal) pediu vista.
Passaram meses, Jobim coordenava, Dona Dilma cobrava, Grau
vistoriava. Um dia, Jobim libera Eros Grau, este devolve o processo que
vai logo para a pauta. Votada, a ADIN é derrubada por 7 a 4. O tribunal
não era tão Supremo ou intocável. Dona Dilma descobriu o “caminho das
pedras”, gostou do acostamento e da pavimentação, passou a transitar por
ele, com a maior satisfação e intensidade.
DONA DILMA: TANTA LICITAÇÃO,
POR UMA CAUSA VISIVELMENTE INGLÓRIA
Ninguém é obrigado a defender rigidamente as mesmas idéias. É
possível EVOLUIR, no caso, mas trata-se, sem qualquer dúvida, do
processo de INVOLUIR. E com obstinação, sempre contra o interesse e, sem
coincidência alguma, prejudicando a Petrobras e o interesse nacional.
Temos vários assuntos e questões que representam a violenta mudança
de posição de Dona Dilma. Está aí o grande escândalo da MP dos Portos,
que domina a atenção do país. Esse provavelmente acabará no Supremo,
tantas as irregularidades, ilegalidades e inconstitucionalidades. Nada
terminou nessa vergonheira, na qual o PT um dia votava de uma forma, a favor, na noite seguinte, contrariava tudo, votava contra aquilo que defendera horas ou minutos antes.
PS – Dona Dilma continuou com a mesma “filosofia” de que mais vale dinheiro na conta do que petróleo e gás debaixo da terra.
PS2 – Assim, aceitou 2 bilhões e 800 milhões (uma miséria) entregando
fortunas inalienáveis, que podem valer (e valem mesmo) dezenas de vezes
mais. Dona Dilma joga fora uma reeleição quase certa, a pretexto de
quê?
PS3 – Ninguém (nem mesmo ou principalmente Lula) agora pelo desgaste
de Dona Dilma. Do jeito que vão as coisas, ela não será derrotada. Para
ser derrotada, tem que concorrer.
“NÃO CHORES POR
MIM, ARGENTINA”
A frase famosa não será repetida de maneira alguma, na morte do
general Videla. Foi dos mais cruéis ditadores, criador de tipos novos de
violência. Como sequestro de bebês e a morte com o torturado jogado ao
mar. Com uma característica especial. As vítimas eram jogadas de aviões
ainda vivas, para que ficassem debaixo d’água para sempre. Se fossem
jogadas mortas, não os corpos não ficariam submersos, seriam
encontrados.
PS – Das ditaduras sul-americanas, foi a mais curta, mas também a
mais terrível, sórdida, desumana. E também idiota, pois com a chamada
Guerra das Malvinas, ela mesma cometeu suicídio.
PS2 – E se metia em tudo. A Argentina ganhou a Copa do Mundo porque
“eliminou” o Brasil fora do campo. Naquela época (hoje acabou), havia
classificação por saldo de gols. Precisava vencer o Peru com vantagem de
quatro gols, os generais conseguiram.
PS3 – Eu estava lá, conversei com muitos resistentes, e o título de campeão do mundo foi repudiado por muitos argentinos.
Ps4 – Videla morreu na prisão, como devia acontecer com todos os
ditadores. Parabéns à Argentina e à sua Justiça. Videla ficou um tempo
em prisão domiciliar, depois foi para a prisão de verdade.