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(Millôr Fernandes)

sábado, 13 de julho de 2013

Sem direito a se manifestar em Santa Maria (DF)

Sábado, 13 de julho de 2013

Sem direito a se manifestar

Homem que entregava panfleto anunciando protesto contra o administrador da cidade, a ser realizado na segunda-feira, é levado à delegacia por PMs sem farda. Coronel da corporação, o político diz que apenas ligou para o 190

Em tempos de manifestações, em que a população extravasa o descontentamento com os rumos políticos do país, um homem foi impedido por policiais militares sem farda de distribuir panfletos contra o administrador de Santa Maria, o coronel da PM Neviton Júnior. Duas mulheres e um homem divulgavam os papéis próximo à Administração Regional, quando dois policiais começaram a fotografá-los. Ao questionar o motivo das imagens, o panfleteiro diz ter sido constrangido pelo PM identificado apenas como Wesley, que teria dito: “Você quer ser preso?”.
 
Ronaldo* panfletava um convite à população para protestar nesta segunda-feira, às 15h, contra Neviton. No documento, o título traz críticas ao coronel: “Neviton Júnior, o pior administrador do Distrito Federal, segundo moradores”. “Nem sabia que panfletar dava nisso. Foi um constrangimento danado porque ele chamou a viatura e falou que tinha que me levar para a delegacia. Acabou que entramos em um consenso e eu fui no meu carro mesmo”, contou o homem.
 
Na unidade policial, o caso foi registrado como “em apuração”. Segundo o delegado Guilherme de Souza, não há indícios de crime. Ele mencionou, porém, que apura a conduta do policial em encaminhar uma pessoa que estava panfletando para a delegacia. “A princípio, isso não é legal. O que chegou para nós é que estava acontecendo balbúrdia com esse panfleto. Vamos apurar se houve algo ilícito, mas, de início, não há nada não.” Segundo o delegado, o administrador citado no panfleto não compareceu à DP. “O ofendido teria que vir para cá. Uma outra versão é que o panfleteiro teria sido coagido a vir aqui (na delegacia). É uma versão, que pode ser verdade ou não. Por enquanto não há crime”, destacou. ...
 
Cidadão comum
 
Neviton admitiu ao Correio ter provocado policiais militares para abordar o panfleteiro. Ele, porém, disse que ligou para o 190, se identificando como um cidadão comum. “Liguei e acionei a PM, que verificou que o material tinha conotação de cunho pessoal, usando o nome de pessoas que não autorizaram a publicação. O direito a manifestação é livre, porém, denegrir a imagem da pessoa com apócrifo, não. Eu me senti prejudicado”, disse.
 
O administrador afirmou não ter aparecido na delegacia porque passou o dia em reunião, mas garante que hoje irá à unidade. Ele ressaltou que qualquer pessoa pode ligar no 190 quando achar que teve a imagem denegrida por alguém. “Minha esposa viu o panfleto e passou mal, com um ataque de gastrite. Se tiver briga de marido e mulher, crime de calúnia, injúria, é obrigação da PM atender. Se não, pode ser acionada por omissão ou prevaricação. Não houve nenhuma coação, para a pessoa informar quem tinha feito o panfleto”, garantiu.
 
A advogada do Movimento em Defesa de Santa Maria, Fabrina Isabela Silva, classificou o episódio como “abuso de autoridade” em razão de uma suposta coação velada por parte de policiais militares. “Independente de qualquer coisa, se ele (Neviton) se sentiu ofendido, deveria ido para a delegacia registrar a queixa. Ele (o panfleteiro) não é uma pessoa que tem conhecimento jurídico para se recusar a ir até a delegacia. Sentiu medo e, por isso, foi. A ação não foi legítima”, criticou.
 
Fabrina estranhou o fato de a PM ir até o local da panfletagem. “Quando há ação de calúnia, injúria e difamação, cabe à própria pessoa registrar porque diz respeito à honra subjetiva. Qualquer outra pessoa não poderia fazer. Por muito mais, a polícia demora horas e horas para aparecer. Quantos casos de furto e roubos não acontecem na cidade? O que aconteceu foi uma violação da Constituição, da liberdade de expressão”, apontou.

Por Mara Puljiz
Fonte: Blog do Sombra com Correio Braziliense - 13/07/2013