Quinta, 7 de abril de 2016
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Como
sabem os que acompanham este blogue, eu considero a permanência de
Dilma na Presidência da República ruim para o povo brasileiro e péssima
para a esquerda brasileira.
Mas, esta é a conclusão eu tiro de minhas análises políticas. Não tem nada a ver com meus sentimentos.
Causam-me pesar as desventuras de muitos personagens importantes do
petismo. "Pai, afasta de mim esse cálice!" Se pudesse escolher o destino
deles, eu talvez os condenasse à perda dos direitos políticos, mas
nunca ao cárcere.
Delúbio Soares, p. ex. Um eterno liderado. Cumpriu ordens erradas e foi
leal a quem deu tais ordens. Quando o mundo desabou na cabeça dele,
exibia uma expressão de "não estou entendendo nada" que me enchia de dó.
Sempre antipatizara com o José Genoíno, um homem arrogante. Mas, sua via
crucis me comoveu. Dava para imaginá-lo assinando aqueles papéis sem
sequer ler, certo de que não passavam de irrelevâncias burocráticas e
confiando cegamente nos bons companheiros.
O Zé em 68, diante da atual Galeria do Rock. |
Todas as informações que tenho a seu respeito coincidem no sentido de que seja pessoalmente honesto e não haja lucrado um centavo com a roubalheira nas estatais. Merecia ter um final de vida menos deprimente.
O Zé Dirceu é de quem estive mais próximo, quando ele era líder
universitário aclamado e eu dava meus primeiros passos no movimento
secundarista. Mesmo assim, não nos fazia, a mim e aos meus jovens
colegas, sentirmo-nos como 2ª divisão. Tratava-nos com respeito.
Fiquei triste não só por conservar vívidos na memória esses velhos
tempos, como também porque sua cabeça era uma das mais cobiçadas pelos
ultradireitistas da veja (a outra é a do Lula). Se estivesse no
lugar do Zé, teria preferido mil vezes sumir no mundo de que dar tal
gostinho à corja da Marginal.
Agora, finalmente, a Operação Lava-Jato mira dois alvos que há muito tempo sonho ver em desgraça.
Um deles é Antonio Palocci, por nunca ter conseguido engolir que um
trotskista houvesse se tornado o que ele se tornou: um me(r)dalhão que
usou todo o poder do Estado para esmagar um mísero caseiro. Foi para que
caseiros não continuassem sendo esmagados por milicos e ministros que
os melhores da minha geração entramos na luta revolucionária e comemos o
pão que o diabo amassou! É chocante como o poder vira do avesso quem
não tem convicções sólidas...
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Qual destes Trotsky quereria como camarada? |
O outro é Delfim Netto, que para mim é um símbolo dos civilizados que se prostraram aos bárbaros durante a ditadura.
Sua infame assinatura no AI-5 me fez vê-lo como um similar dos
sofisticados oficiais da 2ª seção do Exército (Inteligência) que vinham
me aporrinhar no DOI-Codi, curiosos por conhecer o equivalente a eles do campo contrário,
num momento em que eu ansiava desesperadamente por ficar sozinho e
poder refletir sobre as melhores formas de lidar com os interrogatórios
seguintes.
Eram articulados, tinham lido autores importantes e vestiam fardas
impecáveis, sem um respingo sequer de sangue. No entanto, cabia a eles
analisarem as respostas que dávamos nos porões e, percebendo que
estávamos ocultando informações, indicavam aos torturadores o que
deveriam tentar arrancar de nós.
Da caneta do Delfim pingou muito sangue |
Nunca detestei tanto os descerebrados Ustras e Fleurys quanto aos engomadinhos que pensavam por eles.
Piores do que as bestas-feras entregues a seus instintos primários eram,
na minha maneira de ver e de sentir, aqueles que sabiam muito bem o que
estavam fazendo. Os que tinham plena consciência do que se podia
esperar dos pitbulls e, ainda assim, lhes arrancaram as coleiras.
Caso, evidentemente, do Delfim Netto. Não sei nem quero saber de
investigações policiais, mas, por ter sido signatário do AI-5, ele
merece tudo que lhe acontecer de pior.
Tomara que Deus escreva certo por linhas tortas!