Sábado, 10 de setembro de 2016
Léo Rodrigues - Correspondente da Agência Brasil
Servidores da educação de Minas Gerais e militantes do Levante
Popular da Juventude se uniram na noite de hoje (9) para um protesto
contra o governo de Michel Temer no centro de Belo Horizonte. É o
segundo ato em menos de uma semana na capital mineira. Na última
quarta-feira (7), durante o Dia da Independência, a tradicional manifestação do Grito dos Excluídos também reuniu milhares de pessoas críticas ao processo de impeachment de Dilma Rousseff que levou o político do PMDB ao poder.
Organizadores
calculam em 20 mil o número de participantes, enquanto a Polícia
Militar informou que não fará estimativa. Servidores de educação de todo
o estado fizeram hoje uma paralisação de 24 horas e 2,5 mil deles
participaram de uma assembleia na capital, no pátio da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais. Depois, eles seguiram em marcha até a Praça
Raul Soares, onde aguardaram a chegada de 10 mil jovens de diversas
partes do país que participavam do 3º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude.
O evento ocorria no Mineirinho, na Pampulha, e, de lá, os jovens saíram
em passeata chegando à Praça Raul Soares por volta das 19h.
Lindbergh Farias
Com
o reforço de outros manifestantes da cidade, os jovens e os servidores
da educação juntos se dirigiram até a Praça da Estação, onde encerraram o
ato. O senador Lindbergh Farias (PT/RJ) veio a Belo Horizonte para
participar do protesto. "Estamos apostando tudo nas mobilizações de rua,
porque só assim iremos impedir o retrocesso. O Temer e sua turma
pensavam que, afastando definitivamente a Dilma, eles iam aprovar um
pacote de medidas contra os trabalhadores sem ter reação popular.
Certamente eles estão surpresos. E cada dia eles falam uma barbaridade.
Ontem o Ministro do Trabalho falou em aumentar a jornada diária do
trabalho para 12h e hoje já teve que pedir desculpa".
Para
o senador, o governo de Michel Temer é frágil. "Se Eduardo Cunha for
cassado e resolver fazer uma delação, cai o governo. Não descarto que
eles ainda tentem dar o golpe dentro do golpe, que seria chamar uma
eleição indireta. Para nós, a saída tem que ser com uma escolha do
povo." Ele disse ainda acreditar que, no domingo (11), o protesto em São
Paulo terá mais pessoas do que no último final de semana
quando os organizadores estimaram em 100 mil manifestantes. "São Paulo,
que foi tão a favor do impeachment no começo desse processo, virou uma
espécie de centro da resistência. Tem muita coisa mudando. Agora os
domingos são nossos", disse.
Pautas
A
paralisação de 24 horas dos servidores em educação teve como objetivo
cobrar do governador Fernando Pimentel compromissos assumidos com a
categoria. Eles lançaram também uma campanha pela suspensão de um edital
de parceria público-privada lançado no ano passado pelo estado.
"Não
achamos que a saída seja a privatização da escola pública. Então a
paralisação teve essa tarefa de cobrar do estado as demandas pertinentes
à nossa categoria e de denunciar os problemas nacionais que
enfrentamos", disse Beatriz Cerqueira, presidenta estadual da Central
Única dos Trabalhadores (CUT-MG) e coordenadora-geral do Sindicato Único
dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais.
Beatriz considera
a atual conjuntura para a educação "a pior possível" devido às medidas
em discussão no governo de Michel Temer, como o projeto da Escola Sem Partido e o Projeto de Lei 241/16, que congela gastos em saúde e educação por 20 anos.
"Como
podemos pensar que o Brasil, que ainda não resolveu seus problemas na
educação, vai paralisar seus investimentos na área por duas décadas?
Além de não termos avanços nenhum nesse período, teremos retrocessos.
Não teremos concursos públicos, salários serão congelados, ou seja, é um
momento esquizofrênico. Isso sem falar no aumento do tempo para
aposentadoria, que vai afetar todas as categorias", critica a
sindicalista.
Batucada e palavras de ordem
O
Levante Popular da Juventude foi responsável por dar criatividade à
manifestação. Com muita batucada e diferentes palavras de ordem, eles
organizaram várias alas. Entre as intervenções, o jovens encenaram, com
grandes bonecos, prisões de Eduardo Cunha e Michel Temer e, ao final,
destruíram um pato da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), um
dos símbolos dos manifestantes que foram favoráveis ao processo de
impeachment de Dilma Rousseff.
"Estamos aqui para dizer fora
Temer, pedir diretas já e, ao mesmo tempo, queremos avançar para uma
reforma política radical através de uma assembleia constituinte", disse
Thiago Pará, coordenador nacional do Levante Popular da Juventude.