Sábado, 10 de setembro de 2016
09/09/2016
O Brasil é um dos países onde mais se consome agrotóxicos
no mundo. Essas e outras informações estão reunidas no Portal de Dados
Abertos sobre Agrotóxicos, desenvolvido na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) pelo Grupo de Engenharia do Conhecimento (Greco)
por Débora Motta, da Faperj
O Brasil é um dos países onde mais se consome agrotóxicos no mundo.
De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa
Vegetal (Sindiveg), as vendas de pesticidas em 2015 totalizaram US$ 9,6
bilhões e, só em 2014, foram comercializadas mais de 914 mil toneladas
de agrotóxicos no País. Essas e outras informações, que nem sempre são
divulgadas pelas empresas e instituições governamentais de modo
facilitado para consulta pública, estão agora reunidas no Portal de
Dados Abertos sobre Agrotóxicos, desenvolvido na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), pelo Grupo de Engenharia do Conhecimento
(Greco).
O objetivo do portal é divulgar dados de interesse público sobre o
setor, fornecidos por diferentes instituições, com a vantagem de
reuni-los em um único ambiente virtual, de fácil navegação. “Um dos
grandes problemas para os pesquisadores da área e formuladores de
políticas públicas é a dificuldade de acesso a dados oficiais sobre o
consumo de agrotóxicos no País. Alguns dados não são publicados, ou são,
mas em formato PDF, por exemplo, o que dificulta a leitura por
computadores e sua divulgação”, justifica uma das coordenadoras do
Greco, Maria Luiza Machado, que é professora no Departamento de Ciência
da Computação da UFRJ.
“O portal de dados abertos interligados é voltado para quem precisa
cruzar informações de diversas fontes. Utilizamos a tecnologia de
software livre CKAN, de código aberto, o que evita que o pesquisador
tenha que fazer buscas e downloads separados, em diferentes sites na
Internet. É para quem busca informação para a ação, para quem quer
examinar as consequências do uso de agrotóxicos”, completa.
O projeto, que também incluiu a criação de um Observatório de Atenção Permanente ao Uso de Agrotóxicos, foi contemplado pela FAPERJ, com recursos do edital Apoio a Projetos de Extensão e Pesquisa (ExtPesq). A ideia de desenvolver o portal surgiu a partir do engajamento de um dos pós-graduandos vinculados ao Greco, Alan Tygel, que é orientando de Maria Luiza no doutorado em Engenharia Elétrica do Programa de Pós-graduação em Informática da UFRJ, na Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
A campanha visa combater a utilização de agrotóxicos e a ação de suas
empresas (produtoras e comercializadoras), explicitando as contradições
geradas pelo modelo de produção baseado no agronegócio. “Observei que
os participantes da campanha sentiam a necessidade de um espaço virtual
para reunir as novas informações geradas por pesquisadores, militantes
de movimentos sociais e agricultores, tornando essa informação útil na
ação contra o uso de agrotóxicos e em defesa da vida”, explica Tygel.
A iniciativa atende à necessidade de transparência em relação aos
dados de interesse público, formalizada pela Lei de Acesso à Informação,
cujo decreto ocorreu em 2012. “Pela lei, é obrigação das empresas que
vendem agrotóxicos no País informarem seus balanços comerciais às
autoridades reguladoras, que são o Ministério da Saúde, através da
Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), e o Ministério do Meio
Ambiente, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Elas têm
obrigação de divulgar dados, como o quanto venderam e a porcentagem do
componente químico ativo em cada produto, para sabermos os níveis de
toxicidade permitidos para a saúde humana. Mas apenas o Ibama divulga em
seu site esses dados, de forma bem atrasada”, afirma Tygel. “Muitos
desses componentes são proibidos em outros países, como o herbicida
paraquat, por exemplo, que já foi banido na União Europeia, mas continua
sendo utilizado no Brasil”, acrescenta.
Com a contribuição do portal e o avanço da pesquisa sobre agrotóxicos
no Brasil, espera-se ter subsídios para responder, com mais precisão, à
pergunta: o quanto de agrotóxicos um brasileiro consome, em média, em
seu prato de comida? De acordo com Tygel, ainda faltam dados
consistentes para desvendar essa questão, mas as expectativas não são
animadoras. “Não conseguimos reunir dados atualizados, mas, em 2008, a
indústria de agrotóxicos divulgou com muito orgulho que o consumo per
capita foi de aproximadamente 5,2 litros de agrotóxicos naquele ano.
Então, é muito importante ter essa relação de saber”, destaca.
O grupo de pesquisa pretende encaminhar, ainda esta semana, pedidos
de divulgação de dados sobre o uso de agrotóxicos, conforme os critérios
da Lei de Acesso à Informação, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) e à Anvisa.
No Portal de Dados Abertos sobre Agrotóxicos
podem ser pesquisados conjuntos de informações nas seguintes
categorias: Comercialização (dados sobre a comercialização de
agrotóxicos no Brasil); Agroecologia e Produção Orgânica (fontes de
informações sobre produção de alimentos livres de agrotóxicos e
transgênicos, dentro da agroecologia e da produção orgânica); Bases de
Dados (reunindo informações sobre agrotóxicos, tanto no Brasil quanto no
exterior); Doenças (relações entre tipos de agrotóxicos / grupos
químicos e sintomas e doenças); Conflitos (dados sobre conflitos gerados
pelos agrotóxicos, e pelo modelo do agronegócio em geral); Intoxicações
(registro de intoxicações por agrotóxicos); Resíduos em Alimentos
(dados sobre análises de resíduos em alimentos); Transgênicos (dados
sobre transgênicos); Uso do Solo (dados sobre uso do solo no Brasil e no
mundo); entre outras. Também participam do projeto alunos da graduação
em Engenharia Elétrica da UFRJ – Mayara Santos, Leonardo Gonçalves e
Gabriel Marques.
Imagem; Reprodução do Portal.