Quarta, 12 de outubro de 2016
Mariana Jungmann - da Agência Brasil
O alto número de casamentos infantis – antes dos
18 anos de idade – e de meninas grávidas na adolescência coloca o Brasil
entre os 50 piores países do mundo para se nascer mulher, segundo ranking divulgado pela organização não governamental internacional Save The Children. De acordo com o relatório Every Last Girl, o Brasil é o 102º lugar entre 144 países analisados.
A
situação do Brasil coloca o país 14 posições atrás do Paquistão (88º
lugar), país da jovem Malala Yousafzai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz
por sua luta pelos direitos das mulheres e conhecida por ter sido
perseguida e quase assassinada pelo Taliban em seu país. O relatório
destaca ainda o fato de o Brasil estar apenas três posições à frente do
Haiti, mesmo tendo renda média considerada alta, enquanto a ilha é um
dos lugares mais pobres do mundo.
A situação dos países ricos, no
entanto, também está aquém do esperado. Embora possuam Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) entre os mais altos do mundo, países como
Austrália (21º no ranking), Reino Unido (15º), Canadá (19º) e França (18º) ficaram em posições consideradas ruins pela Save The Children.
“Nem
todos os países ricos tiveram performances tão boas quanto poderiam”,
observa o relatório. “Isto é devido, na maior parte, à baixa proporção
de mulheres membros do Parlamento e à taxa relativamente alta de
fertilidade adolescente”, diz o documento.
Representação política
O relatório da Save The Children leva em consideração para o ranking alguns
fatores em especial – taxas de casamentos infantis, gravidez na
adolescência, mortalidade materna, representatividade feminina no
parlamento e índice de conclusão do ensino médio pelas garotas. O estudo
também aborda outras questões que influenciam a qualidade de vida das
meninas pelo mundo, como acesso a serviços de saúde e educação sexual,
violência de gênero, suscetibilidade a conflitos e desastres, além da
exclusão econômica.
Em alguns casos, a fragilidade das garotas
está especialmente relacionada à condição social delas. O documento
observa que “na maioria dos países, garotas de famílias pobres são alvos
preferenciais do casamento prematuro do que seus pares de famílias
ricas”. E ainda que “as garotas de algumas regiões em particular de
alguns países são desproporcionalmente afetadas” pelo casamento
infantil. Este é o caso da Etiópia, em que, em algumas regiões, 50% das
meninas se casam antes dos 18 anos. Na capital, Adis Abeba, a taxa é de
12%.
Por outro lado, alguns países pobres têm desempenho
consideravelmente positivo em algumas questões, como a voz feminina na
política. Ruanda é o país do mundo com maior representatividade
feminina no parlamento, com 64% de congressistas mulheres. Este fator
coloca o país na 49ª posição no ranking, mais de 50 pontos à frente do Brasil, que tem apenas 10% de deputadas federais e 15% de senadoras.
“Ouvir
as garotas e valorizar o que elas dizem ser suas necessidades é
essencial para determinar políticas que vão permitir que essas
necessidades sejam conhecidas. Amplificar as vozes das garotas é
condição central para cumprir a promessa da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável de não deixar a 'ninguém para trás'”, pontua
o relatório.
A questão da representatividade feminina na
política é o único fator que pesa contra Suécia, Finlândia e Noruega, os
três melhores países para se nascer garota, segundo o ranking da
Save The Children. Nesses países, o índice de mortalidade materna e de
casamento infantil é zero e as taxas relativas a não conclusão do ensino
médio ou de gravidez na adolescência são muito baixas. A baixa
quantidade de mulheres no parlamento é o único fator negativo que
aparece relacionado a eles.