Quarta, 13 de setembro de 2017
Pedro do Coutto
Manchete principal nas edições desta terça-feira de O Estado de São
Paulo e de O Globo, a Polícia Federal acusou frontalmente Michel Temer,
Gedel Vieira Lima e Eduardo Cunha, além dos ministros Eliseu Padilha e
Moreira Franco de corrupção organizada e irrigada por um lance de
propina no montante de 31 milhões de reais. No Estado de São Paulo a
reportagem é de Beatriz Gulla, Fábio Serapião e Andreza Mataes, no Globo
matéria de página inteira saiu sem assinatura. Mas assinada por Bruno
Pires no Estadão, que destacou a versão de Joesley Batista a respeito de
como subornava políticos do país.
A Polícia Federal disparou a reação provavelmente contra a iniciativa
do ministro Torquato Jardim de substituir Leandro Daielo da direção
geral da PF. Mas este aspecto, quanto à motivação, importa pouco. O
essencial é que jamais na História do Brasil, até esta terça-feira, a
Polícia Federal havia formulado denúncia tão frontal contra um
presidente da República, em particular, e contra um governo de modo
geral.
UM VENDAVAL – Causou assim um impacto da força de um
vendaval que demoliu o esquema de poder, como comprova a falta de
reação do Planalto a uma entidade de segundo escalão na hierarquia
ministerial. O governo explodiu e a demolição tornou-se o cenário do
poder. O Globo e O Estado de São Paulo que ontem circularam vão se
tornar peças importantes de um triste período da vida brasileira. A
Esplanada do Ministérios em Brasília foi varrida do mapa da moralidade
pública.
A tal ponto que o único reflexo assinalado por Brasília foi o da
indicação do deputado Carlos Marun para relator da CPMI para
desinvestigar Joesley Batista e a atuação da JBS no panorama
governamental. A reação descambou para o ridículo, na medida em que
atribuiu a Marun uma reação impossível. Pois o deputado é o relator mas
não é o único tradutor dos caminhos que a Comissão Parlamentar Mista, de
Senado e Câmara, vai percorrer. A CPMI inevitavelmente terá que
convocar Joesley Batista e Rodrigo Janot, sob pena de tornar-se uma
tentativa frustrada, logo na decolagem para o reino da fantasia.
MANOBRA INÚTIL – A representação parlamentar do
governo pode incluir a maioria de senadores e deputados, mas nunca a
totalidade de seus integrantes. Assim o projeto de desviar as atenções
da opinião pública e a busca de diluir as denúncias não surtirão efeito
favorável ao sistema de poder. Pelo contrário. As sessões do reino
fantástico vão esbarrar na cortina do irrealismo implantado pela verdade
dos fatos e pela consciência da população brasileira.
A manobra saiu pela culatra. O Planalto esqueceu os jornais e as
emissoras de televisão que vão acompanhar o desenrolar das cenas que
ficarão gravadas na memória. A exemplo das gravações de Joesley Batista e
Ricardo Saud, da filmagem de Rocha Loures, da gravação do encontro
noturno do controlador da JBS com o presidente da República na
residência oficial de Michel Temer, no Palácio Jaburu.
A soma dos fatores conduz a um resultado péssimo para o governo, que,
nesta altura dramática do desabamento, está sendo exposto com luzes
fortes ao julgamento popular. Do julgamento popular surgirão reflexos
que vão emoldurar o episódio desencadeado pela Polícia Federal no mapa
da História do Brasil para sempre.