Terça, 12 de setembro de 2017
Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil
Após
a confirmação do nome do deputado Carlos Marun (PMDB-PR) para a
relatoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para
investigar irregularidades envolvendo o grupo JBS, dois senadores – Otto
Alencar e Ricardo Ferraço - pediram para deixar o colegiado em protesto
pela escolha. Logo que o presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira
(PSDB-TO), anunciou o início dos trabalhos, o senador Otto Alencar
(PSD-BA) pediu a palavra para criticar o que chamou de “CPI chapa
branca”.
Apesar dos apelos de Ataídes para que se acalmasse e
continuasse ouvindo os colegas, Otto Alencar deixou a sala da comissão.
“O testa de ferro do Temer na Câmara, que é o Carlos Marun, é o relator.
Então você acha que vai acontecer o que com o Temer? Absolutamente
nada. Ele está envolvido nas denúncias de corrupção da JBS, ele foi
gravado, tem a fala dele dizendo coisas que não deveria dizer”,
denunciou o parlamentar, em entrevista à imprensa após deixar o local.
A
CPMI foi instalada para investigar as operações da JBS e da holding
J&F com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), além de apurar as condições em que foi firmado o acordo de
delação premiada entre os executivos da companhia e o Ministério Público
Federal no âmbito da Operação Lava Jato. Na semana passada os
executivos da J&F Joesley Batista e Ricardo Saud tiveram os
benefícios da delação suspensos pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot.
Um dos principais aliados do presidente Michel
Temer, Marun disse que não se sente impedido de assumir a relatoria,
apesar de ter recebido, de forma indireta, recursos financiados pela JBS
em sua campanha. “Eu me sentiria impedido se eu tivesse relação
estreita com a JBS, coisa que eu não tenho. Então, me sinto
completamente à vontade e tranquilo para o exercício dessa relatoria.
Tenho uma relação estreita com o governo. Mas eu vou atuar em cima da
verdade”, declarou Marun antes do início da reunião.
Mais cedo, o
senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) já havia pedido a retirada do seu
nome como integrante do órgão alegando que o objetivo da CPMI não é
investigar e sim “fazer acerto de contas”. O senador Randolfe Rodrigues
(REDE-AP) também estuda deixar a comissão, mas disse que pode continuar a
colaborar com a “amplíssima minoria” para fazer as denúncias “na medida
do possível”.
“O comando da CPMI não está aqui, está no Palácio
do Planalto. Tem um consenso entre o governo e a oposição. Setores da
oposição, notadamente o PT, que não reagiram à designação de Marun. É
uma reação do sistema político à investigação. É um sistema político que
não aceita ser investigado e quer intimidar quem investiga”, criticou o
senador Randolfe Rodrigues.
Relatores
Já
o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse acreditar nos trabalhos da
comissão, mesmo discordando da escolha de Marun. “Essa situação foi
minimizada no momento em que o presidente abriu duas subrelatorias e
colocou dois parlamentares totalmente independentes. Como tal, temos
como trabalhar. Essa CPMI não vai ficar debruçada sobre assuntos de
ordem particular de A ou de B. Mas sim buscar o que a sociedade
brasileira espera de uma empresa que foi alavancada no período do PT e
que passou a ser a maior do mundo com dinheiro da população brasileira e
nós pagando o prejuízo”, declarou.
Escalado para uma das
subrelatorias da comissão, o deputado Fernando Francischini (SD-PR)
disse que buscará fazer um “contraponto” à relatoria de forma técnica.
Segundo ele, é preciso separar o “joio do trigo” no acordo de delação
após virem à tona indícios de que os executivos Joesley Batista e
Ricardo Saud omitiram informações ao Ministério Público.
“A
maioria dos senadores e deputados pediu ao presidente que me colocasse
na subrelatoria para que a gente pudesse fazer também um trabalho
técnico. Claro que o embate político é típico de qualquer CPMI. Nós não
podemos aceitar que interesses obscuros queiram anular toda a delação
premiada da JBS. Noventa por cento ou mais das provas obtidas com a
delação tem fatos consistentes de crime organizado, corrupção de
poderosos e autoridades do nosso país”, disse.
Além de Fernando
Francischini, que será o responsável pela relatoria dos contratos com o
BNDES, dos financiamentos e da delação, o deputado Hugo Leal (PSB-RJ)
ficará com a segunda relatoria, que investigará as áreas fiscal,
previdenciária e agropecuária da companhia.
O senador Lasier
Martins (PSD-RS) disse respeitar Carlos Marun, mas é de opinião que “não
é o mais indicado” para o cargo. “O PMDB e o PT não deveriam ocupar
essa relatoria, porque têm profundos interesses na causa”, disse,
defendendo que os parlamentares membros da CPMI atuem como “vigilantes”.
Plano de trabalho
Os
requerimentos para que a convocação de pessoas consideradas chave para a
CPMI não foram votados, apesar da previsão inicial. Ao tomar a palavra
ao final da reunião, o relator Carlos Marun disse que pretende elaborar o
plano de trabalho da comissão nos próximos três dias e apresentar na
reunião da próxima terça- feira (12). O deputado manifestou repúdio à
decisão do senador Otto Alencar de deixar a CPMI, classificando de
“atitude pirotécnica” e prometeu não “varrer para debaixo do tapete”
qualquer atitude incorreta dos procuradores da República.
O
presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira, também criticou a atitude
de Otto, considerando “horrorosa” e um “desrespeito” aos colegas. “O
nosso propósito aqui é muito específico. Quando vejo oposição e situação
falando a mesma língua, o objetivo é único. Eu acredito num bom
resultado dessa CPI. Estamos prestando atribuições que nos são de
dever”, disse.