Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Dia de Finados

 Novembro

2

Dia de Finados

No México, os vivos convidam os mortos, na noite de hoje de todo ano, e os mortos comem e bebem e dançam e ficam em dia com as intrigas e as novidades da vizinhança.
Mas no final da noite, quando os sinos e a primeira luz da alvorada lhes dizem adeus, alguns mortos se fazem de vivos e se escondem nas ramagens ou entre as tumbas do campo-santo. Então as pessoas os espantam a vassouradas: vão embora de uma vez, deixem a gente em paz, não queremos ver vocês até o ano que vem.
É que os defuntos são desse tipo de visita que gosta de ir ficando.
No Haiti, uma antiga tradição proíbe levar o ataúde em linha reta até o cemitério. O cortejo segue em zigue-zague e dando muitas voltas, por aqui, por ali e outra vez por aqui, para despistar o defunto, e para que ele não consiga mais encontrar o caminho de volta para casa.
No Haiti, como em todo lugar, os mortos são muitíssimos mais que os vivos.
A minoria vivente se defende do jeito que dá.

Eduardo Galeano no livro ‘Os filhos dos dias’. 
2ª edição, página 348, L&PM Editores