Terça, 28 de junho de 2011
Por Ivan de Carvalho
A intensidade da ação dos hackers nos últimos dias, atacando
sites do governo brasileiro e de governos estaduais e de políticos de destaque,
a exemplo do senador paranaense Roberto Requião, além de ser uma atividade
prejudicial, ainda que tenham, como algumas das que ocorreram e na ótica de
seus autores, apenas o caráter de “brincadeiras” ou “diversão”, representam
muito mais do que isto.
Considere-se
que o Brasil não é o único país em que esses ataques têm ocorrido. Nos Estados
Unidos, já houve ataques até mais importantes, inclusive a órgãos como a
Agência Central de Inteligência (CIA) e ao FBI. O secretário de Defesa do
governo de Barack Obama saiu de seus cuidados para anunciar que a administração
americana tomará medidas para garantir a segurança de seus sistemas de
informática. E disse isso não apenas por estar solidário com a CIA e o FBI, mas
com razões próprias, pois os hackers já haviam executado também um ataque ao
sistema do Pentágono, embora, segundo a versão oficial, sem atingir os bancos
de informações sensíveis (ou mais sensíveis?).
Esses
ataques são perigosos em si mesmos, pelos danos de diversos tipos que podem
causar. No limite, talvez possam até desencadear guerras. Mas eles representam
também uma ameaça à liberdade na rede mundial de computadores, uma ferramenta
que, em princípio, poderia e deveria ser usada para ampliar a liberdade de
informação, de expressão e a própria liberdade política, como ocorreu
recentemente na Tunísia e no Egito, países por onde se iniciou a Primavera
Árabe, ainda em curso.
É
que na medida em que fazem ataques apenas “por diversão” ou para se sentirem
poderosos e mostrarem seu poder, os hackers não somente tornam indispensável ou
inevitável a aprovação de legislação – nos diversos países isoladamente e
talvez até mediante uma convenção internacional que abrangeria certos aspectos dessas
ações clandestinas sobre os quais os governos consigam chegar a um consenso –
disciplinadora e punitiva.
Para
que esse tipo de legislação seja efetiva, serão indispensáveis (e se dirá que
estão justificadas) medidas restritivas que atualmente ainda são amplamente
rejeitadas, aumentando controles, monitoramento, espionagem oficial na Internet
e a redução progressiva da liberdade na rede, numa velocidade que certamente
iria variar de país para país, mas acabaria colocando a rede sob estrito
controle oficial.
Não
sou otimista quanto à preservação da liberdade na rede. Creio que seu destino
final será um rígido controle dos governos sobre ela, pois, sendo poderoso
instrumento de poder, os governos, a longo prazo, não vão resistir à tentação
de estender colocá-lo sob seu controle praticamente absoluto.
O
risco desses ataques intensivos de hackers que vêm ocorrendo é o de acelerar e
justificar a criação dos instrumentos legislativos e tecnológicos de controle,
vale dizer, de redução da liberdade. Vários governos já estão em luta aberta
contra a liberdade na rede e os ataques do tipo dos que ocorreram nos Estados
Unidos ou que ocorrem agora no Brasil servirão somente para reduzir a
resistência a medidas restritivas da liberdade na rede.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.