Domingo, 19 de junho de 2011
No
escândalo que abala a maior cidade do interior de São Paulo, os
investigadores descobriram indícios de que o esquema de fraudes com
contratos de publicidade voltou a se repetir
O
escândalo do mensalão em 2005 mostrou como os contratos públicos de
publicidade viraram um dos canais preferidos dos políticos para
superfaturar serviços, desviar dinheiro para campanhas eleitorais e, no
meio do caminho, também enriquecer alguns espertalhões. O lobista
mineiro Marcos Valério, operador do mensalão, tornou-se o símbolo da
corrupção nessa área. O valerioduto, pelo qual as verbas de publicidade
oficial eram drenadas para a compra de apoios políticos e caixa dois de
campanhas, foi primeiro implantado por ele em Minas Gerais, durante um
governo do PSDB, e depois foi reproduzido em escala federal pelo PT.
Valério pode ser considerado uma espécie de massificador da tecnologia de corrupção nos contratos publicitários, mas não foi propriamente um inovador. Antes que seu valerioduto fosse replicado e ampliado pelos petistas, fraudes semelhantes eram cometidas em outros Estados. O desmantelamento da quadrilha do mensalão, há mais de cinco anos, também parece não ter inibido a proliferação de tais esquemas em vários níveis da administração pública.
Há quase um mês, o Ministério
Público (MP) de São Paulo desbaratou em Campinas, uma das mais ricas
cidades do interior paulista, uma rede de corrupção na administração
municipal. Um dos principais focos das fraudes eram as licitações feitas
pela Sanasa, a empresa pública de saneamento da cidade. Segundo o MP,
Rosely Nassim Jorge Santos, mulher do prefeito Dr. Hélio (PDT), no cargo
há dois mandatos, alguns secretários municipais e o vice-prefeito,
Demétrio Vilagra (PT), definiam as empresas que venciam as licitações e
cobravam uma porcentagem sobre o dinheiro que a Sanasa pagava pelos
serviços prestados. O total desviado chega a R$ 615 milhões. Há indícios
de que o esquema tenha enriquecido ilicitamente os envolvidos e
abastecido o caixa dois de campanhas políticas.
O PT foi
um dos grandes fiadores da eleição de Dr. Hélio em Campinas e compõe o
governo desde seu primeiro mandato, iniciado em 2005. Tão logo os
resultados da investigação do Ministério Público tornaram-se públicos, o
ex-ministro José Dirceu, descrito como chefe de organização criminosa
no processo do mensalão que será julgado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), correu a Campinas na tentativa de avaliar os estragos e reduzir
os danos. “Lula e José Dirceu são solidários comigo”, disse Dr. Hélio,
numa entrevista publicada na semana passada. O nome de Lula já havia
sido citado em meio ao escândalo campineiro por causa do pedido de
prisão feito pelo MP contra o empresário e pecuarista José Carlos
Bumlai, amigo próximo dele. Uma testemunha ouvida pelos promotores
afirmou ter participado de uma conversa em que os envolvidos na
corrupção diziam que Bumlai também faria parte do esquema de pagamento
de propina das obras da Sanasa. Ao ser ouvido pelo MP, Bumlai negou as
acusações.