Segunda, 20 de junho de 2011
Por Ivan de Carvalho
Antonio Palocci foi um dos três ministros mais
importante da Era Lula, ocupando a pasta da Fazenda. José Dirceu, ocupando a
chefia da Casa Civil e Dilma Rousseff, não como ministra das Minas e Energia,
mas sucedendo a Dirceu como ministra-chefe da Casa Civil, completaram o trio de
ouro do governo Lula.
Como certamente todos
sabem, Dirceu foi derrubado do cargo pelo formidável Escândalo do Mensalão e
não concretizou ainda condições para voltar a exercer mandatos eletivos ou
cargos no Executivo. É, no entanto, um político com fortíssima influência em seu
partido, o PT.
Quanto a Dilma Rousseff, superando pelo menos
duas crises na Casa Civil – uma quando estava nela e a outra, mais grave,
quando nela estava Erenice Guerra, sub-chefe indicada por Dilma para sucedê-la
no cargo – está na Presidência.
E Antonio
Palocci? A este a roda da fortuna pode ter ajudado a multiplicar por vinte seu
patrimônio, estimativa que não contestou, recusando-se a falar sobre “valores”.
O destaque que a política lhe deu terá sido essencial para a multiplicação do
patrimônio – ele mesmo confessou que “um ex-ministro da Fazenda vale muito no
mercado” –, mas a sorte lhe tem faltado quando se trata de manter-se nos
poderosos ministérios que lhes são destinados.
Assim é que saiu às pressas, em 2006, do
Ministério da Fazenda, por causa de suas inexistentes visitas a uma alegre
mansão brasiliense, testemunhadas pela língua solta do caseiro Francenildo, e
sobretudo por causa da vergonhosa quebra de sigilo bancário do caseiro, graças
ao que lançaram sobre a testemunha a falsa acusação de ter recebido suborno
para dar falso testemunho.
Mas Antonio Palocci é como o José de Carlos
Drummond de Andrade. “Você é duro, Antonio”. E assim, voltou. Como deputado bem
votado pelo PT de São Paulo, revelou-se um consultor de empresas de primeira
linha. Extraordinário, performático. E daí saltou para ministro-chefe da Casa
Civil da presidente Dilma Rousseff, um primeiro-ministro informal em sistema
presidencialista.
Palocci (e grande parte do PT, mas não todo, que
o PT tem lá os seus mistérios, o ex-ministro José Dirceu que o diga) ansiava
pelo momento em que trocaria a Casa Civil de Dilma pela candidatura ao governo
de São Paulo. Mas foi revelado o “milagre” da multiplicação do patrimônio e ele
preferiu deixar a Casa Civil e o plano de governar São Paulo a explicá-lo.
Milagre, afinal (é o que dizem), por definição, é inexplicável.
Então a candidatura petista ao governo paulista,
mais uma vez, sobrava para Aloizio Mercadante, ex-senador, agora ministro da
Ciência e Tecnologia. Mas no fim de semana a vaca rumou decididamente para o
brejo, onde parece considerar que é o seu lugar. É da revista Veja a responsabilidade inicial pela
orientação da vaca. Lembra a revista o Dossiê dos Aloprados, do qual o maior
beneficiário, segundo considerava a Polícia Federal, era o petista Aloísio
Mercadante, adversário do tucano José Serra em 2006 na disputa pelo governo
paulista. “Às vésperas do primeiro turno das eleições, a Polícia Federal
prendeu em um hotel de São Paulo petistas carregando uma mala com 1,7 milhão de
reais”. O dinheiro era para comprar documentos falsos que ligariam Serra a um
esquema de fraudes no Ministério da Saúde, que já ocupara.
No fim, a PF indiciou Mercadante, mas a acusação
foi anulada por falta de provas. Agora a revista teve acesso a gravações de conversas
de um dos acusados do crime, Expedito Veloso. Ele confirmou à revista “o teor
das conversas”, mas admirou-se que tenham sido gravadas: “Era um desabafo
dirigido a colegas de partido”, comentou. O ministro (Mercadante) e o PT,
segundo o desabafo (as conversas gravadas), acreditavam que envolver Serra em
um escândalo garantiria ao candidato petista os votos necessários à vitória.
Bem, a história toda o leitor encontrará em outros espaços da mídia. Eu só
queria mesmo era anunciar a triunfal entrada da vaca no brejo.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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A vaca no brejo