Sábado, 18 de junho de 2011
Por Ivan de Carvalh0
Tenho a impressão – sempre tive – de que um sábado é dia adequado para deixar de lado a rotina cavernosa das ações principais dos jogos de poder, os discursos formais que clarificam tão pouco e escondem tanto e até a abordagem de escândalos que, com uma freqüência cada vez maior, abalam o país, como que confirmando que realmente há algo de podre no reino da Dinamarca, perdão, na república do Brasil.
Tenho a impressão – sempre tive – de que um sábado é dia adequado para deixar de lado a rotina cavernosa das ações principais dos jogos de poder, os discursos formais que clarificam tão pouco e escondem tanto e até a abordagem de escândalos que, com uma freqüência cada vez maior, abalam o país, como que confirmando que realmente há algo de podre no reino da Dinamarca, perdão, na república do Brasil.
Sábado, sempre que
possível, deve ser um dia para abordar assuntos mais leves, menos densos. Vamos
tentar.
É o caso das mulheres
empodeiradas. Estão aí as mulheres que conquistaram mandatos e as que estão
querendo conquistá-los fazendo discursos nos quais se fala, sempre elevando
notoriamente a voz, em “empodeiramento das mulheres” e em “mulheres empodeiradas”.
Para leitores ingênuos ou desatentos, explica-se que essa tralha lingüística
significa “aquisição de postos de poder pelas mulheres” e “mulheres no poder”.
Mas preferiu-se empolar e sintetizar a linguagem, inventando uma palavra-chave.
Bem, a presidente Dilma
Rousseff, empodeirada, empodeirou as mulheres para valer. Não vou me dar ao
trabalho de contar, porque são muitas, mas ela nomeou um monte de ministras. O
que mais importa, no entanto, é – com pedido antecipado de perdão pelo pecado –
a “Santíssima Trindade”: a presidente Dilma Rousseff, a ministra-chefe da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Ora, existe mulher sem
vaidade? Bem, no meu período de vida tive notícia de duas – Irmã Dulce e Madre
Tereza de Calcutá. Nada a ver com Dilma, a bela Gleisi e Ideli, que no momento
constituem o núcleo do governo.
Se alguém quisesse infernizar esse trio, bastaria
incluir na equação das vaidades a advogada Marcela Temer, 27, mas parece-me que
isto não se justifica. Embora o marido, Michel, seja empodeirado como
vice-presidente da República, ela, “apenas” como ex-miss Campinas e
ex-vice-miss São Paulo, não pode ser enquadrada na categoria “empodeirada”. Até
porque o marido, espertíssimo, a terá aconselhado a ser discreta. Depois das
festas de posse e transmissão de cargo presidencial, quando “abafou” sem fazer
para isto o menor esforço, quando mais ela apareceu?
Embora pareça acelerado demais o processo, já
falam no governo, intramuros, sobre uma espécie de disputa ou, no mínimo, de
comparações entre as integrantes da “Santíssima Trindade” – boto aspas nisso,
por precaução – sobre quem esteve melhor (vestida, ou penteada, ou maquiada, ou
elegante) aqui e ali, onde se encontram. O rolo que isso pode acabar dando ou
não depende de serem ou não pequenos os corações.
Mas o fato é que já tem gente “problematizando”
essa questão “republicana”. Republicana foi uma palavra que entrou na moda há
algum tempo já, até acostumei com ela, mas isso de “problematizar” é um neologismo
petista que acaba de sair da forma. Ainda não entendi o significado exato de
“problematizar”, mas parece ser o de transformar alguma coisa a que não se dava
importância em um problema que precisa ser intensamente debatido antes que a
casa caia.
Seria o caso, por exemplo, do kit antigay do
deputado republicano Jair Bolsonaro, “problematizado” pela senadora Marinor
Brito (Psol-PA). Ou o caso da sucessão de qualificativos aplicada à raça negra.
Primeiro, preto – apesar de Preta Gil – ficou inadequado, sagrou-se o negro e a
negritude. Depois negro ficou inadequado, apesar de subsistir o Movimento Negro
Unificado e de ter havido o Black Power e os Panteras Negras. Adotou-se, então, afrodescendente. Mas há milhões
de árabes e negros na África, de modo que é preciso “problematizar” isso e
debater até chegar à conclusão provável, em conformidade com a geografia e a
demografia, de que o qualificativo adequado é “afrodescendente subsaariano”.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.