Sábado, 18 de junho de 2011
Deu na Veja
Escândalo dos Aloprados
Petista Expedito Veloso quebra pacto de silêncio e revela quem foram os mentores e os arrecadadores do dinheiro que financiaria uma das maiores fraudes eleitorais da história brasileira
Em 2006, às vésperas do primeiro turno das eleições, a Polícia Federal
prendeu em um hotel de São Paulo petistas carregando uma mala com 1,7
milhão de reais. O dinheiro seria usado para a compra de documentos
falsos que ligariam o tucano José Serra, candidato ao governo paulista, a
um esquema de fraudes no Ministério da Saúde. O episódio ficou
conhecido com escândalo do Dossiê dos Aloprados.
Nas investigações sobre o caso, a PF colheu 51 depoimentos, realizou 28
diligências, ordenou cinco prisões temporárias, quebrou o sigilo
bancário e telefônico dos envolvidos, mas não chegou a lugar algum.
Reportagem de VEJA desta semana desvenda o mistério cinco anos depois. A
revista teve acesso às gravações de conversas de um dos acusados do
crime, o bancário Expedito Veloso, atual secretário adjunto de
Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal. Procurado pela
reportagem, Expedito confirmou o teor das conversas, ao mesmo tempo em
que se mostrou surpreso com o fato de terem sido gravadas. "Era um
desabafo dirigido a colegas do partido", disse.
VEJA demonstra que o mentor e principal beneficiário da farsa foi o
ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante.
Não é a primeira vez que o nome do ministro surge na investigação. A PF
chegou a indiciá-lo por considerar que era o único beneficiado pelo
esquema. Mas a acusação acabou anulada por falta de provas. "Agora
surgem elementos mais do que concretos para esclarecer de uma vez por
todas a verdade sobre o caso", diz a reportagem.
Em seu "desabafo", Expedito conta que o ministro e o PT apostavam que a
estratégia de envolver Serra num escândalo lhes garantiria os votos
necessários para que Mercadante conquistasse o governado de São Paulo.
Ele explica ainda que a compra do dossiê foi financiada por dinheiro do
caixa dois da campanha petista e ainda, de maneira inusitada, pelo então
candidato do PMDB ao governo paulista, Orestes Quércia. “Os dois
(Mercadante e Quércia) fizeram essa parceria, inclusive financeira”,
revela o bancário. “Parte vinha do PT de São Paulo. A mais significativa
que eu sei era do Quércia.” Tratava-se de um pacto. “Em caso de vitória
do PT, ele (Quércia) ficaria com um naco do governo.” Procurado por
VEJA, o ministro Mercadante não quis comentar o episódio.
VEJA mostra ainda que a investida dos aloprados contra Serra não foi a
primeira. Esquema semelhante já havia sido testado anteriormente - dessa
vez com sucesso - em Mato Grosso. E nem os próprios petistas a bruxaria
poupou: quando candidata ao governo matogrossense, a atual senadora
Serys Slhessarenko, do PT, foi abatida por um dossiê fabricado e
divulgado pelos aloprados.