Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ministério Público Federal na Bahia denuncia membros de organização criminosa por lavagem de dinheiro

Sexta, 11 de janeiro de 2013
Do MPF
Oito integrantes de duas quadrilhas que exploram máquinas caça-níqueis foram denunciados pelo MPF em 2009 por crimes contra a economia popular, contra a paz pública e contrabando. Agora, três deles foram denunciados também por lavagem de dinheiro
 
Mais um crime foi imputado aos membros de duas organizações criminosas denunciadas pelo Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) por exploração de máquinas caça-níqueis no sudoeste da Bahia. Além dos crimes contra a economia popular, contra a paz pública e contrabando - imputados aos oito membros da quadrilha - três deles, cujas iniciais são I.C.R.M., J.F.S.O. e G.L.F, vão responder também por lavagem de dinheiro. A denúncia, originalmente oferecida pelo MPF em 2009, foi aditada na última segunda-feira, 7 de janeiro, para incluir o crime de lavagem de dinheiro. Com a verificação da existência deste tipo de crime, o processo, que tramitava na Subseção Judiciária de Vitória da Conquista, foi declinado para a 2ª. Vara Federal da Bahia, em Salvador.
De acordo com o procurador da República André Batista Neves, que aditou a denúncia, comprovou-se que I.C.R.M, com auxílio de J.F.S.O. e G.L.F, dolosamente ocultou e dissimilou a natureza, a origem, a localização, a disposição e a propriedade dos bens e valores provenientes do contrabando e da operação da quadrilha que dirigia. “Dessa forma, eles emprestaram aparência de licitude a todo o dinheiro provindo da prática de diversos crimes cometidos por ele e sua organização criminosa”, afirma na denúncia. Os crimes permitiram a I.C.R.M a aquisição de patrimônio multimilionário, sem que haja notícia de que os bens tivessem origem a partir de qualquer atividade lícita.

Os crimes foram descobertos no decorrer da Operação Álea, que significa sorte ou risco em latim, realizada pela Polícia Federal (PF). A investigação começou no ano de 2007 a fim de apurar a responsabilidade pela exploração de máquinas caça-níqueis instaladas em diversos estabelecimentos comerciais de Vitória da Conquista. Na época, a PF chegou a levantar a existência de 24 endereços onde havia a exploração desses jogos, mas sabia-se que a quantidade realmente existente era superior a esse número, chegando a algo entre 350 e 450 estabelecimentos. O relatório resultante dessa investigação também apontou a ligação entre a exploração dessas máquinas e o jogo do bicho.

De acordo com os dados de inteligência, colhidos por agentes da PF, a exploração das máquinas caça-níqueis no sudoeste da Bahia é comandada por dois grupos: o primeiro, denominado Organização de Máquinas de Vitória da Conquista (OMVC), é um braço da organização criminosa Paratodos; e o segundo grupo é chefiado por dois irmãos e um soldado da Polícia Militar, que era então presidente da Associação de Policiais Militares da Bahia em Vitória da Conquista.

Durante todo o período de investigação foram realizadas diversas operações de busca e apreensão, a maior delas, em outubro de 2008, resultou na apreensão de 72 máquinas caça-níqueis, além de valores, armas de fogo, munições, insumos, documentos e mídias eletrônicas. Nesse mesmo ano, foi autorizada pelo Judiciário a interceptação telefônica dos suspeitos, levando à descoberta da existência das duas quadrilhas; o envolvimento de agentes públicos ligados à Polícia Civil e à Polícia Militar e a atuação das organizações criminosas nos municípios baianos de Poções, Itambé, Brumado, Bom Jesus da Lapa, Cândido Sales, Jequié, Itabuna, além de Vitória da Conquista.

Máquinas manipuláveis - As máquinas caça-níqueis não têm autorização do poder público no Brasil para funcionar, pois são bens cujo uso é ilícito no país, constituindo contravenção penal. Elas se transformaram em instrumentos para fomentar e acobertar práticas de diversos crimes fiscais, a exemplo da lavagem de dinheiro e evasão de divisas, além dos crimes contra a economia popular, contra a paz pública e vários tipos de fraude.

Peritos da Polícia Federal atestaram que essas máquinas são manipuláveis de forma que os resultados dos jogos não são influenciados pela experiência, pela habilidade e nem dependem apenas da sorte do jogador. A modificação da programação do funcionamento dessas máquinas influencia no resultado dos jogos a fim de lesar, de maneira fraudulenta, diversos jogadores e aumentar a margem de ganho de seus proprietários. O consumidor senta-se diante de uma dessas máquinas, joga por horas e horas, mas é a máquina que sai vencedora.

Processo contra a cúpula da Paratodos - Já tramita na 2ª Vara da seção Judiciária da Bahia a ação penal nº 2007.33.00.021792-1, movida contra a cúpula da organização criminosa Paratodos/BA por exploração do jogo do bicho e de máquinas caça-níqueis. De acordo com as apurações, somente uma das dezenas de empresas vinculadas a essa quadrilha, a OM Recreativo Ltda, deteria nada menos que 7.010 caça-níqueis, sendo 2.776 instaladas no interior do estado.

Além dos três integrantes da quadrilha denunciados também por lavagem de dinheiro, são réus na ação penal: A.S.P., D.M.S.P., E.M.F., D.P.S. e I.S.P. Os nomes dos denunciados podem ser obtidos no site da Justiça Federal por meio da consulta processual: Número da ação penal para consulta processual na 2ª Vara Federal da Bahia: 2009.33.07.001918-5.