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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Do dia 13 ao dia 16 de outubro: O que está em jogo no 12º Congresso nacional da CUT?

Segunda, 12 de outubro de 2015
Da Corrente O Trabalho
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Entrevista com Júlio Turra, membro da Executiva nacional da central
De 13 a 16 de outubro ocorre o 12º Congresso nacional da CUT (CONCUT) em São Paulo. Com mais de 2 mil delegados de todo o país, o congresso se dá numa conjuntura difícil de crise política e econômica que traz ameaças aos direitos, empregos e salários dos trabalhadores.
Ouvimos Júlio Turra, da Executiva nacional da CUT, sobre os desafios colocados para esse congresso.
O Trabalho: Como vê a realização do 12º CONCUT?
Júlio Turra: O CONCUT será um momento fundamental de organização da luta da classe trabalhadora na conjuntura de aguda crise política e econômica que vivemos. Há previsões que poderemos fechar o ano com 1 milhão de postos de trabalho perdidos, nas negociações salariais os patrões chegam a oferecer metade da inflação, os governadores e prefeitos, alegando as exigências do “ajuste” vindas de Brasília, arrocham salários e benefícios de servidores. Ao mesmo tempo ocorre a resistência da classe em greves e mobilizações que buscam uma centralização.
Como a CUT foi o eixo que permitiu a organização da resistência contra a ofensiva da direita e para exigir do governo Dilma a mudança da política de “ajuste fiscal”, englobando movimentos populares e da juventude, os resultados de seu congresso influenciarão inclusive os rumos da Frente Brasil Popular, lançada em Belo Horizonte em 5 de setembro.

O Trabalho: Que balanço você faz do mandato da direção da CUT que se encerra no congresso?
Júlio Turra: Eleita em julho de 2012, o primeiro teste da direção foi nas jornadas de junho de 2013. A CUT, com outras centrais, chamou a mobilização nacional de 11 de julho, levantando uma plataforma de reivindicações dos trabalhadores, buscando imprimir um caráter de classe num cenário marcado pelas múltiplas demandas e inclusive manipulações sobre atos de junho.
Tendo apoiado a proposta de Constituinte para a reforma política feita por Dilma em agosto, e depois retirada, a CUT engajou-se ao longo de 2014 na realização do Plebiscito Popular Constituinte, que em setembro alcançou quase 8 milhões de votos e incidiu na campanha eleitoral. Nas eleições em que Dilma derrotou Aécio num 2º turno renhido e polarizado, o engajamento da militância da CUT e dos movimentos populares foi decisivo para a reeleição da candidata do PT.
Já em 2015, diante do impacto negativo das primeiras medidas do governo Dilma, como a política econômica do banqueiro Levy, na contramão do mandato popular dado por 54 milhões de brasileiros, a CUT jogou papel central em sucessivas mobilizações que, a partir de 13 de março, disputaram as ruas com a direita e a oposição golpista que se sentiam fortalecidas. Papel que a CUT foi capaz de jogar por ter mantido independência diante do governo e a autonomia diante do PT – partido da maioria dos dirigentes cutistas – que está paralisado por uma crise profunda.
Nessas circunstâncias, o balanço global da ação da direção da CUT no período é positivo, o que custou muito debate interno, confronto de posições por vezes contraditórias, sob pressão de uma crise política e econômica acelerada. O maior desafio é o de prolongar o papel positivo que a CUT jogou no próximo mandato, num cenário que segue difícil para os interesses da classe trabalhadora e da nação brasileira.
 “No próximo mandato, prolongar o papel positivo que a CUT jogou”
OT: Quais serão os temas centrais e principais polêmicas do CONCUT?
Júlio turra: O principal é tirar os ensinamentos do processo intenso de luta de classes que vivemos. Processo que tem como pano de fundo a pressão do imperialismo, dos EUA em particular, através da guerra e pilhagem dos povos, utilizando-se de tratados de livre comércio, como o recente TPP (acordo Trans-Pacífico), para romper barreiras aos negócios das grandes multinacionais.
O combate ao ajuste fiscal de Levy é central, inclusive para que sejam derrotadas as forças reacionárias que se aproveitam da corrosão da base popular de Dilma que é fruto dessa política de cortes nos investimentos públicos, recessão e desemprego. É preciso discutir propostas emergenciais – redução dos juros, controle do câmbio, defesa da produção nacional, dos salários e empregos para fortalecer o mercado interno– opostas à atual política econômica do governo.
A unificação das lutas e campanhas salariais do 2º semestre (bancários, metalúrgicos, petroleiros), combinada com a batalha contra a terceirização ilimitada, que está agora no Senado (PLC 30), colocam a discussão da construção da greve geral na pauta do CONCUT. Diante da crise institucional, a CUT deve reafirmar a proposta de Constituinte para a reforma política, para aprofundar a democracia e abrir terreno às reformas populares (agrária, urbana, tributária, democratização da mídia etc.).
Haverá polêmicas, em particular sobre o Plano de Proteção ao Emprego (PPE), iniciativa do ramo metalúrgico da central, que, em nome da defesa do emprego, promove a redução de jornada de trabalho com redução de salários.
A Medida Provisória 680 do governo que traz a proposta de PPE, ao chegar ao Congresso, recebeu emendas de parlamentares ligados aos patrões para reintroduzir a proposta de que “o negociado prevaleça sobre o legislado”, o que significaria um ataque em regra ao conjunto dos direitos trabalhistas e como tal deve ser combatido. A extensão do mandato das direções nacional e estaduais para 4 anos também foi questionada em congressos estaduais, em favor da manutenção dos atuais 3 anos.
OT: E quanto à nova direção, há novidades?
Júlio Turra: Tudo indica que haverá chapa única, contemplando as diferentes forças cutistas e ramos da central, com uma ampliação de membros da Executiva nacional dos atuais 32 para 44 membros. O que reflete o grau de unidade que marcou a intervenção da CUT na conjuntura recente.
  • artigo originalmente publicado na edição do jornal O Trabalho nº 774 de 9 de outubro de 2015.