Sábado, 31
de outubro de 2015
Fonte: site do Psol
Novíssima crônica do absurdo (absurdo mesmo!)
Há pouco, no plenário da Câmara, a Deputada Federal Jô
Moraes me chamou para mostrar o boletim da Comissão de Relações Exteriores, da
qual fazemos parte. Estávamos aí, analisando a publicação, quando o deputado
João Rodrigues (PSD-SC) chegou bem próximo de mim e me abordou [pra quem ainda
não sabe quem ele é, eu informo que é aquele cujas falas em favor da morte de
“bandidos”, chamando-a de “faxina”, eu critiquei em postagens anteriores; e também
aquele que foi flagrado, em plena sessão, assistindo a um filme pornô]. O breve
“diálogo” que se seguiu foi mais ou menos o seguinte:
João Rodrigues: Você me conhece? Você sabe quem eu sou?
Eu: Nunca lhe cumprimentei nem me apresentei pessoalmente,
mas, sim, sei quem você é.
João Rodrigues: Então, você tome cuidado com o que você
fala a meu respeito. Você postou, colocando a minha foto, que “bandido bom é
bandido de gravata e com gabinete”. Você não me conhece…
[Ele achava que eu me intimidaria. Perdeu o chão quando
olhei em seus olhos e reiterei tudo que eu escrevi sobre sua fala de tons
fascistas e acrescentei:]
Eu: …E, por fim, alguém precisava relativizar sua fala;
afinal, você foi denunciado pelo Ministério Público por aquilo que o órgão
considera crime.
João Rodrigues: Mas, o processo contra mim que você citou
foi arquivado…
Eu: Ora, se o processo contra você foi arquivado, é porque
você teve amplo direito a defesa. Então, os outros que você chama de “bandidos”
também devem ter direito a defesa, em vez de serem mortos sem a chance de se
defender, não?
João Rodrigues: Bandido safado, nojento, merece morrer
mesmo.
Eu: Ah, é? Então por que você não sobe à tribuna e diz
isso em relação ao Eduardo Cunha? Afinal, pra Procuradoria Geral da República,
ele cometeu os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão ilegal de
divisas, logo, é um bandido…
João Rodrigues: Mas ele só está denunciado…
Eu: Mas por qual julgamento passaram os “bandidos” ao
quais você se refere para já sentenciá-los à pena de morte? Vamos, se bandido
bom não é bandido com gravata, então por que você não sobe à tribuna e diz, em
relação a Cunha, o que você disse sobre os bandidos pobres?
João Rodrigues: E por que você defende Lula?
Eu: Em primeiro lugar, eu não defendo Lula. Ele não precisa
de minha defesa. Em segundo, ainda não há nenhuma denúncia formal contra Lula.
Em terceiro, quem está negando o direito à defesa e defendendo pena de morte no
vácuo da legalidade é você; não eu!
João Rodrigues [chegando bem mais perto de mim, de modo
que eu quase sentia sua respiração e seu perfume]: Eu defendo a pena de morte
mesmo! Você fica aí, defendendo essa raça… Você não sabe com quem você foi
comprar briga! [referindo-se a si mesmo]
Eu [olhando no olho dele e para baixo, já que ele é bem
menor que eu]: “Essa raça” é também parte do povo brasileiro e está sob o mesmo
estado de direito… Quem é você para decidir quem vive ou morre? Deus? E se você
está me ameaçando, devo lhe dizer que não temo sua ameaça. [aproximando-me bem
dele e olhando diretamente em seus olhos] Os tempos mudaram, meu caro. Os
“coronéis” já não podem mais intimidar as pessoas ou ameaça-las impunemente.
João Rodrigues [se esforçando para ser irônico]: Não, eu
não estou lhe ameaçando. Eu não ajo desse forma. Eu não cheguei aqui pelo BBB,
aquela putaria, eu tenho muitos mandatos.
Eu: Bom, eu estou em meu segundo mandato e fui eleito com
quase 145 mil votos, mas se você quer crer que foi o BBB que me trouxe aqui,
fique à vontade… Ao menos não cheguei pela força da grana.
João Rodrigues: Bom, agora você já me conhece. Já sabe
quem eu sou. E já está avisado de que mexeu com a pessoa errada.
Eu: Prazer. Agora você já sabe que eu não temo o que me
parece uma ameaça.
Despedimo-nos. Ele seguiu. Eu permaneci ali para concluir
minha conversa com Jô Morais. O clima estava tão tenso entre os que conseguiam
nos ouvir que dava para cortar o ar com uma faca [toda a conversa se deu como
numa cena de um thriller político]
E, aí, amados e amadas, vocês acham que eu devo temer algo
mais que as já manjadas difamações, injúrias e calúnias feitas na internet?
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*Durante a produção do texto acima, em que contava a vocês
a cena surreal em que fui abordado pelo deputado João Rodrigues, ele subiu à
Tribuna da Câmara para novamente me atacar e intimidar.
Não intimidou!!!! Sou acostumado a falar o que penso,
porque a verdade é libertadora. A resposta que dei a ele está no vídeo.