Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 10 de outubro de 2015

Gari preso ao distribuir jornal no Hospital Souza Aguiar (Rio de Janeiro)

Sábado, 10 de outubro de 2015


Por Círculo de cidadania, 7 de outubro de 2015.





Hoje, Célio recebeu voz de prisão quando tentava distribuir jornais entre funcionários da Limpeza Urbana. Ao chegar ao hospital municipal Souza Aguiar, foi abordado por um segurança e depois por um policial militar que, com a maior truculência, o barrou. Barrou-o já no estacionamento. Celio foi prensado à parede e algemado, embora a Súmula n.º 11 do STF não permita o uso de algemas em quem não apresenta ameaça. Célio não invadiu área restrita e, como nas outras vezes, iria se encontrar pacificamente com os funcionários no horário de almoço.



Há cerca de um mês, Célio vem visitando gerências por toda a cidade, do Recreio a Campo de Santana, de Botafogo a Marechal. Nessas ocasiões, ele tem conversado sobre as condições de trabalho, as dificuldades, necessidades e expectativas dos garis. E aproveita para distribuir o jornal escrito pelo Círculo Laranja. Esse círculo de cidadania foi formado no começo do ano por garis e apoiadores depois da conquista de dignidade pela "onda laranja" em 2014 e 2015. Mediante oficinas e encontros informais, se colocou como alternativa aos velhos aparelhos da política e do sindicato que não representam mais ninguém.
Os textos do jornal falam da vida e dos direitos dos garis, da limpeza urbana e da saúde ambiental, da importância de se organizar para tomar voz e se fazer ouvir. Numa das vezes, um gerente questionou o porquê da divulgação: "pois gari não lê jornal", desdenhou. Célio não só respondeu que os gerentes não conhecem a categoria, como apontou para um grupo que já começava a ler atentamente o material.
Mas hoje a história foi diferente. O jornal não circulou. Os garis não puderam debater juntos. Ilegalmente algemado, Célio foi conduzido à delegacia e acusado de desobediência. Somente graças à atuação do núcleo de direitos humanos da Defensoria Pública, advogados ativistas e à solidariedade compartilhada nas redes, a injustiça não foi além da detenção abusiva e da falsa acusação. Ele foi solto. O próximo passo será a representação por abuso de autoridade.
O hospital Souza Aguiar todos os dias recebe reclamações e denúncias, tantos problemas de gestão, investimento, falhas diversas no atendimento, mas o grande problema, hoje, foi um gari que ousou discutir trabalho e política. Diante da enormidade dos problemas da saúde pública, o inimigo do sistema foi o jornal do Círculo Laranja.
O mundo está mudando, a cidade está mudando, mas não o pensamento atrasado dos dirigentes da Comlurb e do Município. Nem o da polícia militar que, além do Célio, barrou o jornal, e com eles a informação, a liberdade, a dignidade. Não barrou a nossa indignação.