e da Tribuna da Imprensa
Por Círculo de cidadania, 7 de outubro de 2015.
Hoje, Célio
recebeu voz de prisão quando tentava distribuir jornais entre funcionários da
Limpeza Urbana. Ao chegar ao hospital municipal Souza Aguiar, foi abordado por
um segurança e depois por um policial militar que, com a maior truculência, o
barrou. Barrou-o já no estacionamento. Celio foi prensado à parede e algemado,
embora a Súmula n.º 11 do STF não permita o uso de algemas em quem não
apresenta ameaça. Célio não invadiu área restrita e, como nas outras vezes,
iria se encontrar pacificamente com os funcionários no horário de almoço.
Há cerca de
um mês, Célio vem visitando gerências por toda a cidade, do Recreio a Campo de
Santana, de Botafogo a Marechal. Nessas ocasiões, ele tem conversado sobre as
condições de trabalho, as dificuldades, necessidades e expectativas dos garis.
E aproveita para distribuir o jornal escrito pelo Círculo Laranja. Esse círculo
de cidadania foi formado no começo do ano por garis e apoiadores depois da
conquista de dignidade pela "onda laranja" em 2014 e 2015. Mediante
oficinas e encontros informais, se colocou como alternativa aos velhos
aparelhos da política e do sindicato que não representam mais ninguém.
Os textos
do jornal falam da vida e dos direitos dos garis, da limpeza urbana e da saúde
ambiental, da importância de se organizar para tomar voz e se fazer ouvir. Numa
das vezes, um gerente questionou o porquê da divulgação: "pois gari não lê
jornal", desdenhou. Célio não só respondeu que os gerentes não conhecem a
categoria, como apontou para um grupo que já começava a ler atentamente o
material.
Mas hoje a
história foi diferente. O jornal não circulou. Os garis não puderam debater
juntos. Ilegalmente algemado, Célio foi conduzido à delegacia e acusado de
desobediência. Somente graças à atuação do núcleo de direitos humanos da
Defensoria Pública, advogados ativistas e à solidariedade compartilhada nas
redes, a injustiça não foi além da detenção abusiva e da falsa acusação. Ele
foi solto. O próximo passo será a representação por abuso de autoridade.
O hospital
Souza Aguiar todos os dias recebe reclamações e denúncias, tantos problemas de
gestão, investimento, falhas diversas no atendimento, mas o grande problema,
hoje, foi um gari que ousou discutir trabalho e política. Diante da enormidade
dos problemas da saúde pública, o inimigo do sistema foi o jornal do Círculo
Laranja.
O mundo
está mudando, a cidade está mudando, mas não o pensamento atrasado dos
dirigentes da Comlurb e do Município. Nem o da polícia militar que, além do
Célio, barrou o jornal, e com eles a informação, a liberdade, a dignidade. Não
barrou a nossa indignação.