Quinta-feira,
17 de dezembro de 2015
Do Blogue
Náufrago da Utopia
Por Celso
Lungaretti
Onze
entre dez analistas econômicos da grande imprensa preveem: a queda de
Joaquim Levy, que substituiu Guido Mantega no Ministério da Fazenda,
abrirá caminho para a volta da política econômica que fracassou
rotundamente na gestão de Mantega. Ou seja, o governo continuaria
patinando sem sair do lugar.
É o que Lula quer e a Dilma, a esta altura do campeonato, parece não ter
força política para querer mais nada, salvo escapar do impeachment, sua
última e obsessiva meta.
Raquel Landim constata o óbvio:
"Com a decisão da Fitch de retirar o selo de bom pagador (...) o Brasil fica sem o aval de duas agências de risco -a S&P já havia cortado a nota do país- e volta a ser oficialmente um investimento especulativo. Isso significa dólar mais caro, menor poder de compra da população, mais inflação e menos investimento.
Depois de prometer uma reviravolta de 180 graus na sua política econômica, comprometendo-se com um ajuste fiscal, a presidente não aguentou a pressão. A queda de quase 4% do PIB e a ameaça de impeachment a fizeram desistir no meio do caminho.
Ela volta a seguir a mesma cartilha de aumentar os gastos do Estado, com mais investimento público e benesses sociais, para barrar a recessão. Só que, ao contrário do primeiro mandato, o Tesouro está depauperado..."
Resumo da opereta: dias piores virão.
Infelizmente, Dilma e Lula parecem atacados pela mesma modalidade de
vesgueira: não conseguem olhar para a esquerda. A visão de ambos
alcança, no máximo, o reformismo e o populismo.
Tanto eles quanto, previsivelmente, os tais analistas, não levam em conta a única possibilidade viável, não-revolucionária (1), de saída pela esquerda
da crise econômica atual: reequilibrar as contas públicas, mas não pelo
lado dos tosquiados e desfavorecidos de sempre, mas sim fazendo os
exploradores darem uma grande quota de sacrifícios, já que sempre foram
poupados.
Lembrem-se:
- o Brasil é o décimo país do mundo em número de milionários, superando nações como a Espanha e a Suíça;
- é o segundo país do mundo quando se considera o crescimento na taxa de ricos entre 2013 e 2014, quando só ficou atrás da China;
- o número de milionários brasileiros cresceu, no período, algo em torno de 350% (contra cerca de 20% nos EUA).
E, como notou Guilherme Boulos, do MTST:
"...os trabalhadores com renda mensal até dois salários mínimos deixam 54% dos seus gastos em impostos. Já aqueles com renda superior a trinta salários mínimos deixam para a Receita 29% dos seus gastos, quase a metade dos mais pobres.
Esta distorção ocorre porque a maior parte da carga tributária brasileira (51,3%) incide sobre o consumo de bens e serviços. Neste quesito, os diferentes são tratadas convenientemente como iguais. Outros 25% da carga são sobre os salários. Apenas 18% sobre a renda e –pasmem– menos de 4% sobre a propriedade".
Também se deveriam apurar denúncias consistentes como a da auditora
aposentada da Receita Federal Maria Lucia Fattorelli, segundo quem a
dívida pública brasileira "é um mega esquema de corrupção
institucionalizado". Ela afirma e comprova que "mais de 90% da divida é de juros sobre juros", o que nossa Constituição proíbe.
Leonel Brizola cansou de pedir uma auditoria da dívida pública, em vão.
Era de esperar-se que os governos do PT --principalmente o da sua
discípula Dilma Rousseff-- ousassem tirar o gênio da garrafa. Amarelaram, tanto quanto no tocante ao imposto sobre grandes fortunas, cuja criação foi aprovada pelos constituintes de 1988, mas carece de regulamentação até hoje (!!!).
Só não consigo entender o motivo de o PT, mesmo no atual fim de feira,
continuar pisando em ovos por receio de pisar nos calos dos ricaços. Sua
postura tíbia e complacente tem sido respondida com uma aguda retração
nos investimentos, aproximando-nos cada vez mais de uma depressão
econômica. O que os grãos petistas ainda têm a perder?!
Também me surpreende que eles prefiram cortar gastos sociais do que
fechar a torneira do desvio de recursos públicos para os fisiológicos da
base aliada, bem como a farta distribuição de ministérios e altos
cargos para os mais sórdidos parasitas de nossa política (os quais, em
contrapartida, não lhes têm assegurado governabilidade nenhuma, muito
pelo contrário...).
Enfim, a conciliação de classes
da década passada só foi possível porque a conjuntura econômica era
altamente favorável às commodities brasileiras, permitindo que Lula
abarrotasse os bolsos dos grandes capitalistas e ainda sobrasse alguma
graninha para repartir entre os pobres.
Ahora, no más!
O cobertor está curto e, se quiser evitar que os coitadezas marchem
para a penúria, o desespero e a revolta, o PT terá de descobrir os pés
dos ricos.
A luta de classes
voltou com tudo. E a devolução do Joaquim Levy ao Bradesco oferece a
Dilma uma ótima chance --provavelmente a última-- de passar a por ela
nortear-se, guinando verdadeiramente à esquerda, ao invés de insistir nos erros de sua primeira gestão, que incubaram a crise atual.
O impeachment bate à porta. É agora ou nunca!
- se nem nos seus melhores dias o PT ousou organizar as massas para o confronto com o capitalismo, não será agora que o fará!