Sexta, 14 de outubro de 2016
Da Agência Lusa e Agência Brasil
Apenas uma em cada seis crianças com menos de 2 anos recebe
alimentos em quantidade e diversidade suficientes para a idade, o que
deixa as restantes em risco de danos físicos e mentais irreversíveis. A
conclusão é de um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), divulgado hoje (14).
"Os bebês e as crianças pequenas
têm maior necessidade de nutrientes do que em qualquer outra fase da
vida. Mas milhões de crianças pequenas não desenvolvem todo o seu
potencial físico e intelectual porque recebem pouca comida e demasiado
tarde", disse France Begin, conselheira sênior para os assuntos de
Nutrição da Unicef, citada em nota da organização. Ela alerta que "uma
nutrição deficiente em uma idade tão tenra causa danos mentais e físicos
irreversíveis".
Chamado Desde a primeira hora de vida, o
relatório mostra um mundo em que uma dieta saudável está fora do
alcance da maioria. Os dados revelam que a introdução tardia de
alimentos sólidos, o número reduzido de refeições e a falta de variedade
de alimentos são práticas generalizadas no mundo, privando as crianças
de nutrientes essenciais quando o cérebro, os ossos e o físico deles
mais precisam.
Com efeito, embora os alimentos sólidos devam ser
introduzidos a partir dos 6 meses de idade, um terço de todas as
crianças no mundo só começa a comê-los demasiado tarde e um em cada
cinco bebês só começa a receber alimentos sólidos após os 11 meses.
Apenas
52% das crianças entre 6 e 23 meses recebem o número mínimo de
refeições diárias para a sua idade e a diversidade alimentar é outro
problema: menos de metade das crianças recebe diariamente alimentos de
pelo menos quatro grupos diferentes.
Entre os 6 e os 11 meses,
faixa etária em que a nutrição é mais importante, a situação é ainda
mais preocupante: apenas 20% recebem alimentos de quatro grupos
diferentes por dia, o que provoca carências de vitaminas e minerais.
O
relatório do Unicef refere-se também à amamentação, que segundo as
recomendações da Organização Mundial da Saúde deveria ser a forma
exclusiva de alimentação dos bebês até os 6 meses.
Segundo os
dados, apenas 45% dos 140 milhões de bebês que nasceram em 2015 foram
amamentados na primeira hora de vida, como é recomendado, e três em cada
cinco bebês com menos de 6 meses não recebem os benefícios da
amamentação exclusiva.
De acordo com o relatório, quase metade
das crianças em idade pré-escolar sofre de anemia e metade das crianças
entre os 6 e os 11 meses não recebe qualquer tipo de alimento de origem
animal.
O Unicef alerta ainda para as desigualdades: na África
Subsaariana e no Sul da Ásia, apenas uma em cada seis crianças dos
agregados familiares mais pobres com idade entre os 6 e os 11 meses têm
uma dieta minimamente diversificada, comparando com uma em cada três dos
agregados mais ricos.
A organização destaca que a melhoria da
nutrição das crianças menores poderia salvar 100 mil vidas por ano, mas
lembra que as famílias, embora façam o melhor com os recursos a que têm
acesso, não podem fazer tudo sozinhas. É preciso a liderança dos
governos e as contribuições de setores-chave da sociedade para fornecer
uma dieta saudável às crianças, diz o relatório.
Tornar os
alimentos nutritivos mais baratos e acessíveis para as crianças mais
pobres exige investimentos consistentes e direcionados por parte dos
governos e do setor privado. Transferências em dinheiro ou em gêneros
para as famílias vulneráveis, programas de diversificação de colheitas e
o enriquecimento de alimentos básicos são essenciais para a melhorar a
nutrição das crianças menores.
Serviços de saúde comunitários,
com capacidade para ajudar a ensinar aos cuidadores melhores práticas
alimentares, bem como a água e o saneamento adequados – essenciais para a
prevenção de doenças como a diarreia – são igualmente fundamentais.
"Não
podemos permitir falhas nesta luta para melhorar a nutrição das
crianças. A sua capacidade de crescer, aprender e contribuir para o
futuro dos seus países depende disso", concluiu France Begin.