Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A “Delação Premiada” assusta candidatos, tumultua a sucessão, dos 50 ou 60, apenas uma surpresa, os outros, fregueses da corrupção impune, continuarão impunes?


Segunda, 8 de setembro de 2014
Da Tribuna da Imprensa
HELIO FERNANDES
Dessa eleição tão surpreendente com tragédia e a perda da própria vida de um dos candidatos, nada poderia ser considerado tranquilo ou tranquilizado. E por tudo o que vem acontecendo nas acusações, nas denúncias e nos nomes de personalidades que vinham com o passaporte “visado” desde Pasadena, dirigentes da Petrobrás ou ligados a ela por irregularidades, não poderiam ficar de fora.
Quando se soube que o advogado do ex-diretor da Petrobrás fizera a proposta do depoimento em troca de compensação no julgamento e na condenação, o pânico se espalhou. Os mais atingidos e assustados: Marina e Dilma, antes mesmo do “vazamento” espetacular de alguns nomes.
Inicialmente uma observação sobre a antecipação de uma parte dos nomes pela revista Veja. Publicamente não sou entusiasta dessa publicação, mas minha isenção está sempre acima de qualquer coisa. E não posso deixar de dar nota 10 à Veja, jornalística e profissionalmente, irrepreensível.
Quando fui preso e julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 1963 (antes do golpe), por ter publicado “circular sigilosa e confidencial”, o Millôr escreveu: “jornalista que não publica uma circular como essa, é melhor que abra um supermercado”.

Agora transfiro o elogio para a revista, com a mesma proposta, sugestão ou insinuação feita pelo Millôr. Mas tenho que deixar publica a minha perplexidade pelo “vazamento”. Diretor de revista e de jornais, dono de jornal, jamais deixei de ser repórter, tido e havido como o mais bem informado do país. Sempre publiquei informações sigilosas, fontes confiavam no repórter, o repórter só queria que o cidadão ficasse bem informado.
Revelava fatos em “Primeira Mão”, que era o nome da coluna que comecei no Diário de Notícias (o jornal de maior circulação na época) e mantive por quase 30 anos. Mas jamais houve um depoimento tão protegido e silenciado quanto esse de Paulo Roberto Costa. Gravado, criptografado, fechado num cofre apenas com uma chave, a revelação provocava pavor generalizado.
É lógico que a Veja não responderá coisa alguma que possa identificar os informantes. Garantida pela Ata de Chapultepec, que protege as fontes de informação, (assinada por 47 países incluindo o Brasil) e tendo que preservar seu futuro na questão chamada de “vazamento”, manterá o silencio eterno, indivisível e intocável. Mas um fato é rigorosamente verdadeiro.
A informação privilegiada e altamente jornalística, vejo de alguém que interrogava o ex-diretor, antes do depoimento ser criptografia e guardado no cofre. Depois, identificaria imediatamente a fonte ou então partiu do próprio depoente, que quebrava o sigilo, mas não queria esse sigilo ficasse guardado num cofre. Precisava de repercussão, para favorecer a "delação premiada".
Depoimento perfeito
Agora a importância da revelação, que está longe de ter acabado. O ex-diretor já fez sete depoimentos fala a media de seis horas por dia. E continuará. Ele, seu advogado e dois conselheiros, discutiam muito o envolvimento do ex-governador Eduardo Campos. A duvida: o fato dele ter morrido tragicamente, provocando repercussão nacional. Decidiram: a revelação sobre ele, indispensável.
Não podiam preservar Campos, a publicação do seu nome, confirma o acerto da denuncia. Apesar do depoimento atingir 50 ou 60 personalidades, por enquanto, do considerado "primeiro time" da política, nenhuma novidade. A surpresa é realmente por causa da revelação do nome do ex-governador.
A inclusão do seu nome atinge ao mesmo tempo Dona Dilma e Dona Marina. E confirmando o fato, as duas na defensiva. A candidata do PSB, fez o óbvio: defendeu acirradamente o nome do presidente do seu partido, que se não tivesse morrido, seria candidato sem chance e sem possibilidade até hoje. 
A citação de Campos surpresa das grandes
Vivo, ninguém acusava Campos de coisa alguma, apenas de quinquilharias. Morto, foi sangrado, imortalizado e santificado. Essa idolatria começou a ser incluída no circulo da duvida, não passaria disso. Nem mesmo as irregularidades a respeito do avião que o matou, chegaram a formar um dossiê. Embalançaram muita gente, apenas embalançaram.
Aécio continuou intocado, nem favorecido nem prejudicado. A luta permanece entre Dona Dilma, cada vez com uma política mais “velha” do que a República, agora degradada e desprestigiada pela incompetência. Promete “mudar tudo depois de reeleita”, é muito tarde. A impaciência do cidadão-contribuinte-eleitor será dissipada nos 25 dias que falta para a eleição?
E Dona Marina? PSDB e PT trabalhavam quase “irmanados” para destruí-la, não importa nem importava a forma ou a formula. Só que ninguém admitia que o desgaste viesse tendo o ex-companheiro de chapa como porta-voz depois de morto. Sua morte pode contribuir para a derrocada? Por enquanto, tudo na mais completa escuridão.
PS- Importantíssimo: quem tratará do assunto no horário eleitoral? Ou esperarão pesquisas do Ibope ou Datafolha para saber quem foi mais atingido?
PS2- De qualquer maneira, nos próximos dias, a campanha presidencial se travará nos bastidores.