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(Millôr Fernandes)

domingo, 28 de setembro de 2014

Portal da Transparência precisa ser mais compreensível para os cidadãos, defende Luciana Genro


Domingo, 27 de setembro de 2014
Gabriela Salcedo e Dyelle Menezes
A candidata à Presidência da República Luciana Genro (PSOL) expôs ao Contas Abertas suas ideias sobre transparência, controle social e corrupção. Além de ampliação da transparência nos trâmites governamentais, ela também defendeu o fortalecimento do Tribunal de Contas da União (TCU), com novo método de escolha de ministros, e considerou inadmissível manobras contábeis praticadas pelo governo, como a “pedalada fiscal”.
Luciana ainda criticou o sistema eleitoral, que atualmente aceita doações de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais. Para ela, os setores dominantes da economia executam essas doações, comprometem os programas de governo dos candidatos e ainda cobram retorno após as eleições.
Confira na entrevista o que a presidenciável do Psol pensa a respeito da reforma política e mais detalhes sobre o que considera importante para aumentar a transparência no país e diminuir a corrupção.
Luciana Genro - foto
Contas Abertas – Existem sistemas do governo federal com informações como gastos públicos, convênios e pessoal, que só permitem acesso dos usuários por meio de senhas. Sendo assim, não é uma consulta pública, o cidadão comum não tem acesso aos sistemas e não lhe é concedido a chance de exercer o controle social. O que a senhora acha da liberação dessas senhas para a sociedade civil?

Luciana Genro – É importante que o funcionamento da máquina pública seja transparente. Quanto mais públicas forem as informações dos trâmites de processos públicos menor será a possibilidade de que sejam cometidos atos de corrupção. Defendo também a reformulação do Portal da Transparência para que seja mais compreensível a todos os cidadãos. Assim, todas as informações que necessitarem ser públicas não serão mais restritas por uso de senha.
CA – A Controladoria-Geral da União está em situação crítica de recursos e de pessoal, o que afetou até mesmo o Portal de Transparência do governo federal. É parte do seu plano de governo priorizar as ações de combate à corrupção e controle social?
LG - Com certeza. Vamos reformular e implementar novos conselhos de controle e participação social. Outra medida é garantir os recursos para a CGU fazer seu trabalho. Não adianta ter um órgão de controle sem capacidade de controlar por falta de recursos.
CA – A Lei de Acesso à Informação está em vigor há quase 3 anos. Apesar disso, as estatais e autarquias driblam a legislação e não prestam conta como outros órgãos do governo. Ainda é praticamente impossível ao cidadão fazer o acompanhamento das contas dessas instituições. A falta de transparência, na opinião da senhora, não afeta o controle sob entidades como a Petrobras? O que pode ser feito?
LG - Com certeza afeta. É na invisibilidade social que também está a sensação de impunidade, que permite aos agentes do governo cometerem atos de corrupção. Vamos reformular os órgãos gestores. Os Conselhos de Administração das estatais precisam ser mais transparentes com novos integrantes, como representantes dos trabalhadores eleitos diretamente pelas bases, representantes dos sindicatos, da sociedade civil, etc.
CA – As contas públicas têm sido marcadas pela utilização de “contabilidade criativa” e “contabilidade postergada”, que dificultam o controle dos dados divulgados pelo governo federal. Há, entre as suas propostas, considerações sobre como acabar com essas manobras? Qual a sua posição em relação à esse tipo de contabilidade?
LG - Essas manobras contábeis são inadmissíveis. Nossa proposta de governar de maneira transparente passa por impedir que esses subterfúgios sejam utilizados.
CA – As campanhas eleitorais recebem, atualmente, verba pública, por meio do fundo partidário, e privada, por doações de pessoas físicas e jurídicas. As arrecadações são imensas, majoritariamente de grandes empresas privadas do Brasil, como as agropecuaristas e empreiteiras. A senhora acredita que o candidato eleito fica amarrado aos interesses dessas empresas que colaboraram com a eleição?
LG - É o que vemos atualmente. Essa é a regra, que tem suas exceções. A contribuição de alguns setores dominantes da economia comprometem para valer os programas de governo. A nossa campanha não possui nenhum tipo de relação com empreiteiras, bancos e multinacionais. O estatuto do PSOL veda o financiamento desses setores por acreditar que mais tarde essas empresas cobrarão o ‘investimento’ que fizeram. Defendemos a Ação da OAB no Supremo Tribunal Federal que proíbe doações de empresas privadas, o que permitiria mais equilíbrio e democracia na disputa eleitoral.
CA – A senhora está de acordo com o atual sistema eleitoral? Qual seria a melhor maneira, na sua opinião, de se financiar campanhas?
LG - Para garantir que nas próximas eleições haja uma maior justiça durante a campanha, defendo urgentemente uma reforma política. Adotamos a proposta de reforma política da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), assinada em parceria com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e movimentos sociais. Ela está centrada na ampliação da democracia direta, proibição de contribuições por parte de empresas e nova distribuição do tempo de TV. O financiamento de campanha deve ser centrado no fundo partidário. Para construirmos o Poder Popular é necessário mecanismos de decisão efetivos da sociedade e lutar para amenizar ao máximo a interferência do poder econômico na política. Plebiscitos, referendos, consultas e conselhos de participação popular são mecanismos que iremos adotar frequentemente. Além de apoiarmos a Ação Direta de Inconstitucionalidade da OAB que tramita no Supremo Tribunal Federal, que pode, já na próxima eleição, proibir a contribuição de pessoas jurídicas às candidaturas.
CA – As prestações de contas de campanhas são feitas três vezes, dois meses antes e um depois da eleição, quando finalmente julgadas. Para uma melhor transparência, a senhora concorda que essas contas deveriam ser prestadas em tempo real? Além disso, o TSE já disponibilizou sistema de prestação de contas que possibilitam aos partidos esclarecer quem são os doadores originários dos recursos doados. Entretanto, a maior parte das doações continuam ocultas. Qual é o interesse dos partidos em omitir os doadores?
LG - Os partidos não querem que seus eleitores saibam quem são as pessoas físicas e as empresas que fornecem recursos para suas campanhas, pois muitas vezes essa é uma relação imoral. Um levantamento feito por um portal de notícias mostrou que sete das dez maiores empresas doadoras de campanha nas eleições de 2010 foram ou estão sob investigação devido a indícios de corrupção envolvendo contratos públicos ou por conta dos seus relacionamentos com partidos e políticos. O eleitor precisa saber quem está financiando seu candidato para poder avaliar que tipo de consequências políticas isso pode ter para o mandato ou para administração pública. Minha campanha indica a doação originária, assim todo o eleitor sabe de onde vem os recursos da nossa candidatura. Acredito que sistemas de prestação de contas semanais sejam melhores que os mensais. O que ocorre hoje em dia é que a maior parte das prestações é feita no último mês. O eleitor só fica sabendo os doadores quando termina o pleito.
CA – O orçamento brasileiro foi perdendo transparência e importância na previsão e no controle dos gastos públicos. A senhora possui alguma proposta nesse sentido?
LG - Defendo mudanças no sistema de seleção dos ministros do TCU. É preciso valorizar os técnicos de carreira e não as indicações políticas feitas pelo Congresso Nacional e pela Presidência da República. O TCU é um órgão fiscalizador de alta relevância para se combater a corrupção e as irregularidades e para se identificar as violações ao interesse público que constantemente ocorrem nas obras, nas licitações e nos contratos que são estabelecidos entre o poder público e a iniciativa privada. Por esse motivo, defendemos cada vez mais o fortalecimento do TCU, o fortalecimento da área técnica e a possibilidade de que os conselheiros sejam pessoas qualificadas e não meramente indicadas por políticos dos partidos.
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