Quinta, 18 de
setembro de 2014
Por Mauro
Santayana
(Hoje em Dia) - Há
poucos dias, foi demitido, do Colégio Andrews, no Rio, um professor que propôs
aos seus alunos que refletissem e respondessem sobre a existência de eventual
relação entre o comportamento do governo israelense em Gaza e o sofrimento
infringido aos judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Pode-se discutir se
existe alguma ligação entre uma coisa e outra. Isso irá depender da visão de
cada um. O que não se pode impedir ou proibir é que se faça esse tipo de
perguntas. Há poucas semanas, por exemplo, um manifesto de 327 judeus,
sobreviventes do holocausto, foi publicado nos EUA, chamando o que ocorreu em
Gaza de genocídio, e judeus, inclusive ortodoxos, tem se manifestado, no mundo
inteiro, contra política de agressão israelense (foto). O texto dos
sobreviventes judeus respondia a outro, divulgado pelo Prêmio Nobel da Paz Elie
Wiesel, que acusava os palestinos de estarem matando suas próprias crianças.
Wiesel faz parte de
uma constelação de escritores que emigraram para os EUA no pós-guerra, e
abraçando a nacionalidade norte-americana, fizeram de sua condição de judeus um
passaporte para o sucesso em uma nova vida e um novo mundo.
Outros escritores
judeus sobreviventes, como Primo Levi, preferiram se suicidar, anos depois do
fim da II Guerra, por não suportar, entre outras coisas, viver em um planeta em
que seus algozes das SS foram deixados livres pelos EUA, para servir como linha
de frente de um eventual conflito contra os mesmos soldados russos que o
libertaram de Auschwitz, assim como teriam libertado também Wiesel, se
este não tivesse sido transferido antes para Buchenwald.
No filme "A
lista de Schindler", o diretor Steven Spielberg narra saga de um
empresário de sangue alemão nascido na Morávia, antiga Tchecoslováquia, em sua
luta para salvar, corrompendo oficiais nazistas, cerca de mil prisioneiros
judeus que trabalhavam para ele, em uma fábrica instalada dentro do campo de
Plaszow, na Polônia.
Quando de sua
libertação, os “judeus de Schindler”, escolhem uma frase para honrar a escolha
de seu benfeitor, de tê-los livrado da morte nos campos de extermínio:
"Quem salva uma
vida, salva o mundo inteiro."
Gostaria de pensar
que os judeus da “Lista de Gaza” que assinaram o manifesto nos EUA, foram
escolhidos por Deus para sobreviver porque sua coragem os fez enfrentar de
cabeça erguida o nazismo e os campos de extermínio, da mesma forma que agora
enfrentam o sionismo, em defesa da dignidade e da liberdade humanas.
O judeu universal que
enriqueceu com sua combatividade e talento a caminhada da história, não faz
distinção entre o judeu e o não judeu.
Para ele, assim como
para os “judeus de Schindler”, cada ser humano, judeu, palestino, brasileiro, é
a humanidade inteira.
Na lista de
Schindler, não dá para incluir mais ninguém.
Na “lista de Gaza”,
eu colocaria, para honrá-lo, mais um nome: o do professor João Monteiro, do
Colégio Andrews, que tentou, com algumas perguntas, ensinar seus alunos a
pensar, e foi demitido por isto.
Fonte: Mauro Santayana.com