Segunda, 8 de setembro de 2014
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
A reportagem que abre a série “Cartas na Mesa”, em que cidadãos criticam
os candidatos, é sobre a maior obra do governo Dilma; 40 mil pessoas,
principalmente indígenas, sofreram o impacto da obra
Movimentos sociais criticam falta de diálogo e de transparência
- Audiências públicas foram esvaziadas e controladas por consórcio
- Protestos e greves foram reprimidos com violência
- Contrapartidas ambientais e sociais não foram cumpridas
“O governo está trocando o pneu com o carro em movimento. O comitê
gestor tem deficiências no modelo de gestão, na presença da sociedade
civil e na transparência de seus atos. É importante ampliar para outras
pessoas essa participação da sociedade civil. Há um passivo do Estado
brasileiro em relação a comunidades tradicionais atingidas por
empreendimentos que é preciso reconhecer. Já passou a hora de
apresentar, junto com a sociedade, um modelo de gestão para esses
territórios.”
A avaliação acima não foi feita pelos atingidos pela hidrelétrica de
Belo Monte. Vem do próprio governo federal, através da secretária
adjunta de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da
República, Juliana Gomes Miranda. Ela acompanha desde 2011 o projeto,
exatamente na relação do governo com a comunidade. A Pública
solicitou entrevista com o ministro Gilberto Carvalho, responsável por
esse contato. Após informar que a conversa seria com o secretário de
Articulação Social, Paulo Maldos, e não com o ministro, a
Secretaria-Geral delegou a tarefa para Juliana.
As críticas ao projeto feitas pela população do Xingu são bem mais
incisivas que as observações de Juliana. As mais indignadas são as que
vêm do Movimento Xingu Vivo para Sempre, uma organização que reúne
grupos que não aceitaram – e não aceitam – a construção da hidrelétrica:
“É uma ditadura. Não tem diálogo. Os movimentos sociais que são de
resistência, contra os projetos do PAC, o Gilberto Carvalho não recebe –
diz uma das líderes do Xingu Vivo, Antonia Melo. Só existe diálogo com
os movimentos que estão de acordo com a política do governo. Aí Dilma
pode até receber. Mas é para ficar calado.”
A ativista se refere ao Programa de Aceleração do Crescimento. Belo
Monte é uma das vitrines do PAC, com investimento total de R$ 28,9
bilhões, segundo o próprio governo. A
promessa de campanha, embutida nas propagandas televisivas, é a de que a
usina beneficie 18 milhões de pessoas, ou 60 milhões de consumidores.
“Dilma veio aqui na segunda-feira (dia 02/08) e soubemos em cima da
hora”, relata Antonia Melo, referindo-se à agenda de campanha da
candidata. (Confira aqui: “Dilma Rousseff visita obras de Belo Monte e faz campanha no Pará”).
“O aeroporto ficou lotado de polícia, Exército, Força Nacional. Ela
passou direto para os canteiros da destruição. Deu entrevista defendendo
hidrelétricas, sequer procurou saber se o povo, a comunidade, as
pessoas atingidas estavam sendo respeitadas. Não há um mínimo de diálogo
com a população expulsa e massacrada”.