Segunda, 15
de setembro de 2014
Flavia
Villela - Repórter da Agência Brasil
A cúpula da Segurança do Rio de Janeiro desbaratou hoje (15)
um esquema de corrupção orquestrado por policiais
militares do Rio de Janeiro, que levou à prisão preventiva de 22 policiais
militares, acusados de cobrar propina de comerciantes, empresários e ambulantes
em Bangu, bairro da zona oeste. Dois policiais e um civil ainda estão
foragidos. Os policiais terão que se apresentar em sete dias sob pena de
deserção da Polícia Militar. A operação é coordenada pela inteligência da
Secretaria de Segurança e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Rio.
Foram encontrados cerca de R$ 300 mil na casa do coordenador
de Operações do 14º Batalhão de Bangu, Edson Alexandre Pinto de Góes, um dos
foragidos, e R$ 33 mil na casa de um sargento, cujo nome não foi divulgado.
Outro detido é o chefe do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar
(PM), coronel Alexandre Fontenelle Ribeiro de Oliveira, também responsável pelo
Batalhão de Operações Especiais (Bope) e de Choque e de Ações com Cães.
Considerado o chefe da quadrilha, Fontenelle é um dos mais importantes oficiais
na hierarquia da Polícia Militar.
A quadrilha atuava há pelo menos dois anos exigindo propinas
de R$ 10 a R$ 10 mil para não reprimir ações criminosas de mototaxistas,
motoristas de vans e kombis não autorizadas, transporte de cargas em situação
irregular ou a venda de produtos piratas no comércio popular de Bangu. De
acordo com o promotor de Justiça, Cláudio Calo, mesmo empresas de
eletrodomésticos que fossem entregar mercadoria na região tinham que pagar
propina aos policiais.
"As equipes de policiamento ostensivo tinham a
função de arrecadar a verba e repassar para a administração - como a própria
quadrilha denominava o estado maior do 14º Batalhão. Era uma verdadeira holding
criminosa militar”, disse o promotor. “Alguns praças do Batalhão de Irajá
forneciam propinas arrecadadas para integrantes do 14º Batalhão, o que
demonstra uma institucionalização da corrupção e não algo isolado”, declarou.
O promotor relatou o caso de um dos integrantes da
quadrilha, um sargento, que após ser atropelado entrou de licença total de
serviço e continuou a receber propinas que eram entregues em domicílio para que
ele não denunciasse o esquema.
A operação começou no final de 2012 e durou cerca de um ano,
como continuidade da operação batizada de Compadre I que foi responsável pela
prisão de 78 pessoas, incluindo 60 policiais civis e militares.
Caso sejam condenados, os réus responderão pelos crimes de
associação criminosa armada (Artigo 288 do Código Penal) e por cada um dos
crimes de concussão (extorsão cometido por servidor público) previstos na
Justiça Militar.
Na denúncia, o Ministério Público pediu ainda reparação por
danos materiais e morais. “Morais, em respeito à Polícia Militar, porque a
imagem do Estado do Rio de Janeiro foi afetada”, declarou o promotor.