Por Marcello Barra - sociólogo (UnB)
Em segundo plano, explicativo do 'fenômeno' Marina:
-
Identidade: mulher negra, ex-doméstica, do Norte, 'Silva'. Padrão da
opressão em múltiplas identidades no Brasil. Sem falar o oposto, que é
cristã, como a esmagadora maioria do povo brasileiro.
Em terceiro plano:
É
um equívoco e uma naturalização considerar a candidatura de Mariana
como um tsunami. Há bases muito concretas e políticas, portanto
não-naturais do fenômeno:
- A mídia em geral deu
enorme cobertura à morte de Eduardo Campos, ligando o fato à Marina. E,
como mostrou pesquisa Ibope, o motivo que mais define o voto são
'Notícias na TV' (55% - Ibope julho 2014, pergunta 09, p. 31. conversa
com amigos, colegas, familiares 48%). A cobertura dada não foi
acidental, foi completamente deliberada e com o intuito de puxar a
candidatura de Marina Silva, que é ainda mais palatável ao Capital do
que a de Dilma, porque explicita o retorno ao neoliberalismo, dada a
base social da candidatura da acreana ser muito mais amorfa, fluida e
menos presa a uma construção de esquerda como foi o PT.
- O
grande volume de votos em 2010 - 19,6 milhões -, que Marina trouxe como
um capital. E que aparecia bem nas pesquisas antes de ela não ser capaz
de legalizar o partido Rede.
-
Pesquisas de opinião mostram um desejo de que 'mudasse muitas coisas'
(41%) ou 'totalmente' (29%) no governo do país em relação ao da Dilma.
(Ibope - julho 2014, pergunta 08, p. 30)
-
Marina opera a demagogia do não-conflito, numa política obviamente de
conciliação de classes, que explora mitos ampla e profundamente
desenvolvidos pela burguesia no Brasil como ideologia (de uma suposta
'cordialidade' e harmonia de raças). Deve-se considerar, nesse aspecto,
que não foi feita uma revolução ao longo da história do Brasil.
Complementa
este texto, finalmente, a análise da conjuntura apresentada por Sérgio
Granja em O que está em jogos nestas eleições:
http://laurocampos.org.br/ 2014/08/o-que-esta-em-jogo- nestas-eleicoes/
http://laurocampos.org.br/
