Vladimir
Platonow - Repórter da Agência Brasil
Na luta contra a máfia e a corrupção, o mais importante é
seguir o dinheiro dos criminosos e confiscar os seus patrimônios. Nisso se
incluem também os políticos, que devem pagar para devolver o que tiraram do
povo, segundo a receita do vice-coordenador nacional antidrogas do Ministério
Público da Itália, Maurizio de Lucia, que ficou famoso em seu país pelo combate
sem trégua aos mafiosos e corruptos.
“Não é que nós lutamos contra todo o poder político, porque
não é toda política que é má, mas tem uma parte da política que convivia com a
máfia. E aí tivemos que usar instrumentos jurídicos e, sobretudo, fomos
procurar dinheiro e riquezas que não eram justificáveis. Para combater a máfia,
para combater quem ajuda a máfia, para combater os políticos, tem que tirar o
dinheiro e tirar o patrimônio que eles tiraram dos pobres”, declarou o
promotor, que está no Brasil para participar do 21º Congresso Nacional do
Ministério Público e da 5ª Conferência Regional da International Association of
Prosecutors para a América Latina, que começou no Rio nesta terça-feira (6) e
vai até sexta-feira (9).
Indagado sobre quais conselhos poderia dar aos colegas
brasileiros que também lidam com casos de corrupção, como os da Operação Lava
Jato, Maurizio de Lucia respondeu que o mais importante é aprender a trabalhar
juntos.
“Na Itália, nós aprendemos a lutar contra a máfia colocando
juntos os conhecimentos. Nós temos uma estrutura central que coordena todas as
investigações sobre a máfia e contra a grande corrupção. Esta estrutura ajuda
os procuradores, que depois passam [as informações] adiante. O princípio
fundamental é que se o crime é organizado, a Justiça também tem que ser
organizada. A estrutura central é a Direção Nacional contra a Máfia e Antiterrorismo,
da qual eu faço parte, que foi desejada pelo [juiz] Giovanni Falcone, antes que
ele fosse assassinado pela máfia, em 1992, e tem a obrigação de juntar todas as
informações e investigações”, disse de Lucia.
Segundo o promotor, a larga experiência de luta contra os
mafiosos em seu país pode ser aproveitada em outros lugares, inclusive o
Brasil. “O sentido [de eu estar no Brasil] é explicar como é o fenômeno
italiano, que é um pouco diferente de todos os outros, porque na Itália a máfia
tem, pelo menos, 150 anos. Então nós conhecemos como trabalha e fizemos leis
contra ela, que hoje podem ser exportadas e podem ajudar os outros países a
combater a criminalidade organizada”.
Solicitado a fazer uma comparação entre a Operação Mãos
Limpas italiana e a Operação Lava Jato brasileira, Maurizio de Lucia disse que
nem tudo foi resolvido na Itália, mas que o maior ensinamento é seguir o
caminho do dinheiro, para saber se ele tem origem criminosa.
“Nós também continuamos tendo problemas grandes de
corrupção. É um problema de todos os países. A solução é ter maior
transparência nas decisões públicas e a possibilidade de seguir o dinheiro, que
foi o que o Falcone sempre disse. Porque é preciso explicar como as riquezas se
criam e como elas são justificadas. Se são riquezas criminais, então têm que
ser seguidas.” O promotor italiano também ressaltou que é preciso haver muita
integração entre a polícia e os promotores de Justiça para que os resultados
sejam alcançados.
A programação completa do encontro do Ministério Público
pode ser acessada na página do evento na internet (www.congressomp2015.com.br).