Sábado,
3 de outubro de 2915
Da
Agência Brasil
O representante para América do Sul do Alto Comissariado das
Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos (ACNUDH), Amerigo Incalcaterra,
disse hoje (2) que atitudes como a dos policiais militares acusados de alterar
a cena da morte de Eduardo Felipe Santos Victor, baleado no morro da
Providência, região central do Rio de Janeiro, colocam em sério risco o projeto
das UPPs como um modelo de polícia comunitária.
Eduardo, de 17 anos, segundo as investigações, teria sido
morto por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) daquele morro.
“Insto as autoridades de segurança pública do estado para fazer uma profunda
depuração nas UPPs, incluindo uma revisão dos processos de seleção e formação
de seus membros”, disse o comissário da ONU.
Incalcaterra pediu que as autoridades trabalhem juntas para
evitar novos abusos policiais: “É importante uma coordenação entre as áreas de
segurança e de direitos humanos do Estado, visando a erradicar das polícias
qualquer conduta contrária aos direitos humanos.”
Para a antropóloga da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Uerj) Alba Zaluar, quem está na rua enfrentando traficantes
armados, sob risco constante, deve ter um acompanhamento e ser devidamente
tratado.
“O policial estressado não pode ficar na rua, porque não
está em condições de reagir bem em situações de perigo. Se está estressado, vai
reagir mal, vai matar um garoto. Quando eles vão para a ação, aparece uma série
de problemas, como o estresse, a vontade de vingar a morte de um colega. Isso
tudo requer uma educação constante”.
Segundo Alba Zaluar, deve-se examinar o que está sendo
perdido na formação dos policiais e criar uma formação permanente, com
palestras e rodas de conversas entre os policiais, onde eles podem dizer o que
está atrapalhando a atuação em cada área de atuação.
“Tudo isso é muito importante no estresse, especialmente
quando há um tiroteio, em que o policial quase morre ou perde um colega. Eles
têm que ter cuidados. Tem que haver esse tipo de conversa entre eles, e com
ajuda de psicólogos”, acrescenta Alba Zaluar.
Segundo a antropóloga, algo deve ser feito para “estancar” a
acessibilidade e a facilidade com que as armas chegam às favelas. Para ela, a
política de combate às drogas deve ser mudada, porque só trouxe desgraça para o
Brasil, e “tem que parar de se apostar na repressão”.